"NÃO VENCEMOS TODAS AS VEZES QUE LUTAMOS,MAS PERDEMOS TODAS AS VEZES QUE DEIXAMOS DE LUTAR."

" Peguemos em todas as derrotas e transformemo-las em pequenas batalhas que no confronto com a vida, deixamos de vencer,mas que certamente,a guerra já está ganha,visto que se chegamos até aqui, estamos aptos a receber novos desafios, incógnitas e a vivermos muito cada segundo desta esplêndida jornada que DEUS nos está a proporcionar com novas esperanças.Somos vencedores,conseguimos superar vários obstáculos...enquanto outros... que desistiram... ficaram pelo caminho..."





INFORMAÇÃO MÉDICA

A minha foto
PORTO, NORTE/CENTRO, Portugal
Somos Membros da Direcção Sindical Sinorquifa visando a Defesa e Promoção dos Interesses Sócio-Profissionais dos Trabalhadores da Informação Médica.Abrangemos os Distritos de Bragança,Vila Real,V Castelo,Braga,Porto,Guarda, Viseu,C Branco,Aveiro e Coimbra.

A CONJUNTURA DO D.I.M. NO MERCADO DE TRABALHO:"ESTÁ NA HORA D'ACORDAR!"

Caros Colegas,
O nosso sindicato, Sinorquifa, continua a estar na linha da frente, em defesa da dignidade da Profissão que exercemos e que queremos continuar a exercer, assumindo a responsabilidade que decorre do facto de informarmos e propormos terapêuticas em benefício dos Utentes e da Sociedade em geral.
Recentemente, foram reunidas uma série de condições, que nos permitiram, avançar para o desenvolvimento de uma maior Acção Sindical neste sector específico da
Industria Farmacêutica.
Iniciamos a discussão no âmbito da nossa Comissão
Específica para os DIM’s, programamos trabalho, estabelecemos metas e decidimos solicitar um conjunto de pedidos de audiência, de que se podem desde já referir, as solicitadas ao Sr. Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos e à Direcção da Federação Nacional dos Médicos, estando, ainda decidido, que após a análise ao resultado destas audiências, deveremos encetar novos contactos, com outras entidades, a ver.
Sendo certo, que
o objectivo central destas audiências, é procurar sensibilizar estes nossos principais interlocutores, sobre as questões que se prendem com a tentativa de esvaziamento das nossas funções, e até, aproveitar a oportunidade que estas audiências certamente nos proporcionarão, para manifestar a nossa firme contestação, à posição assumida pelo actual Presidente da Associação Nacional de Farmácias, Dr. João Cordeiro, no IX Congresso Nacional de Farmácia, onde não se coibiu de defender a seguinte tese, e cito ....é sabido que a evolução tecnológica põe em causa a subsistência de algumas profissões. A profissão de Delegado de Informação Médica é uma delas. Com as novas tecnologias, os médicos têm hoje ao alcance de um simples mail, no curto espaço de alguns segundos, a resposta a uma questão complexa que queiram colocar a diferentes centros de informação sobre medicamentos, em Portugal e no estrangeiro, acompanhada de abundante informação científica e técnica sobre a matéria”, ora, perante toda esta problemática, decidimos, que deveríamos discutir estes assuntos com os profissionais do sector.
A realidade que no momento se nos depara, é de extrema gravidade, o ataque às profissões é levado ao extremo, sucedem-se as tentativas de rescisão por mutuo acordo, os despedimentos colectivos estão na ordem do dia, aparece agora também o encerramento de empresas. O que ontem, era normal noutros sectores de actividade está agora aí, como uma forte ameaça, a todos os Profissionais da Informação Médica.
Assim, nota-se a necessidade de rapidamente, nos organizar-mos nas nossas
Associações de Classe, discutindo formas de denúncia e de combate, contra todas as tentativas desenvolvidas ou a desenvolver, que vão no sentido de apagamento da Profissão de DIM.
Sabendo a importância deste assunto, estamos convictos que poderemos contar com a tua disponibilidade, para um debate sério, sobre a nossa profissão.
Um debate, que se quer produtivo, que permita uma profunda reflexão, sobre os problemas que no momento, a todos preocupam.
A verdade é que até aqui, todos têm decidido por nós, sem qualquer consulta, sem o respeito e a consideração que nos é devida. Limitamo-nos a cumprir, atropelamo-nos uns aos outros, embarcamos nas exigências e nas normas que nos estabelecem, sem terem em consideração as realidades que vivemos diariamente, com as dificuldades no acesso às Unidades de Saúde e Hospitais.
Tudo isto merece uma reflexão e o nosso envolvimento, é que no momento, a Solidariedade e o debate Sincero e Honesto, parecem ser as únicas “Armas” de que dispomos para a defesa da nossa Dignidade Profissional.


Contamos Contigo.

terça-feira, 3 de março de 2009

PLENARIOS PARA DIM'S

"DIM:uma Profissão de risco ou em risco?Como combater?"



Braga,Vila Real ,Coimbra,Covilhã,Lisboa,Porto,Viseu,Viana do Castelo



Encontros já realizados,
tendo tido Uma Forte Adesão e Participação...
O testemunho de quem quer lutar contra esta
crise que avassala a nossa Profissão!!!


COMPARECE! PARTICIPA!

O FUTURO DEPENDE DE TI!

CONTAMOS CONTIGO!

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Compra de remédios novos fica nas mãos dos hospitais

Doentes graves já não têm de esperar semanas por autorização especial do Infarmed.
Os hospitais vão poder comprar medicamentos cuja utilização em Portugal não tenha ainda sido aprovada pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed). O que vai permitir a doentes graves receberem tratamento muito mais cedo do que até agora, defende o Governo. Já a Ordem dos Médicos (OM) alerta que há unidades que podem restringir as compras destes produtos inovadores por serem mais caros.
Esta alteração à lei faz parte do diploma que altera as comparticipações dos remédios pelo Estado, aprovado em Conselho de Ministros na quinta-feira. A compra directa pelos hospitais deverá "possibilitar a administração destes remédios em dias ou até em horas", defendeu ao DN o secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar. Muitos doentes graves de cancro ou sida, por exemplo, só acediam aos tratamentos várias semanas após o pedido do hospital ao Infarmed. Noutros casos o acesso ao tratamento era negado pelo instituto por não apresentar vantagens.
O decreto-lei, a que o DN teve acesso determina que, "a título excepcional e devidamente justificado, o conselho de administração e os directores dos hospitais do SNS podem autorizar a aquisição destes medicamentos", mesmo que estejam em avaliação.
Desde 2006 que para poderem ter acesso a estes produtos os hospitais tinham de pedir uma licença de utilização especial ao Infarmed. Em mais de três anos foram autorizadas centenas. Sobretudo em áreas como a oncologia, infecciologia, neurologia e reumatologia", afirmou ao DN Jorge Espírito Santo, presidente do colégio da especialidade de oncologia da OM.
Mas o processo arrastava-se durante semanas e era alvo de muitas denúncias por parte de médicos e doentes. "Houve muitas críticas e dificuldades e nós fomos ao encontro delas. Sabemos que havia atrasos que não eram razoáveis", reconhece Óscar Gaspar.
A partir de Julho, altura em que as novas regras devem entrar em vigor, as unidades podem comprar directamente os medicamentos "quando não exista comprovadamente alternativa terapêutica" ou "quando os doentes corram risco de vida ou de vir a a sofrer consequências graves" se tiverem de esperar pelo prazo de aprovação, que os médicos dizem chegar a demorar dois anos.
Pelas novas regras "passa a ser o hospital a responsabilizar-se, apesar de o Infarmed ser notificado e continuar a monitorizar as situações. O processo passará pela Comissão de Farmácia de cada unidade, que terá de emitir um parecer depois de ouvir a Comissão de Ética.
"Esta medida pode ser positiva nos hospitais onde as comissões terapêuticas funcionem bem. Aí será muito mais rápida a aprovação", reconheceu Jorge Espírito Santo. No entanto "podem surgir muitas decisões contra a autorização, se os hospitais tiverem uma visão economicista", alertou o médico, lembrando que estes medicamentos representam uma elevada despesa para os hospitais.
Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, considera que, à partida, "esta medida é muito positiva e vai agilizar o acesso a estes remédios. Não fazia sentido deixar a autorização como estava.

Hospitais EPE sem dinheiro em 2010

O Governo quer vender imóveis sob a tutela do Ministério da Saúde para reforçar em 200 milhões de euros o capital social dos 15 hospitais públicos com gestão empresarial (EPE) e que deverão apresentar prejuízos da exploração, em 2009, calculados em cerca de 250 milhões de euros. O dinheiro é para cobrir os prejuízos, mas o problema é que a Saúde não possui património (prédios ou terrenos) com esse valor, de acordo com fontes do sector, questionadas pelo Jornal de Negócios.No relatório do Orçamento do Estado para o corrente ano, a que o Negócios teve acesso, o Executivo anuncia a dotação de 200 milhões de euros "para realização de capital estatutário" dos hospitais públicos com gestão empresarial. No relatório não explicita a "fonte de financiamento", mas no articulado, em forma de proposta de lei, está descrito que o dinheiro para o "reforço de capital" dos hospitais-empresas surge da "alienação de imóveis" na órbita do ministério. A "afectação do produto da alienação de imóveis" reverte "até 50%" para o organismo proprietário e, no caso do Ministério da Saúde, destina-se "ao reforço de capital dos hospitais públicos empresariais". Aqui, o Estado, na falta de dinheiro, assume que as "jóias" serão vendidas para financiar despesas correntes.A inexistência de património afecto à Saúde é corroborada por ex-titulares políticos desta pasta, ouvidos pelo DN, que estranham esta disposição orçamental. "Não me parece que a Saúde tenha património imobiliário só por si suficiente para fazer face às dotações exigidas", afirma ex-governante. Embora se fale há longo tempo na hipótese de venda de antigos hospitais, como o Desterro.O aumento de capital nos hospitais, através do produto da venda de imobiliário, pode mesmo estar comprometida para este ano ou, na melhor das hipóteses, só será efectuado nos últimos meses do ano, o que levará os hospitais a aumentar a dívida aos fornecedores, como os laboratórios.Nos primeiros nove meses de 2009, os prejuízos dos hospitais- - empresa atingiram 218 milhões de euros, um aumento de 22,5% em comparação com igual período de 2008. A dívida acumulada atinge 600 milhões de euros e já nos últimos dias de 2009.O Governo - através de acordo entre os ministérios da Saúde e das Finanças - foi obrigado a injectar 70 milhões de euros no aumento de capital dos 15 hospitais. Cada hospital recebeu entre um milhão e 9,4 milhões de euros. Foi uma "gota de água" para o pagamento de dívidas - pouco mais de 10% - e, por isso, não impediu o aumento do número de dias no atraso de pagamentos de dívidas aos fornecedores.Até ao fim de Setembro do ano passado, os custos dos 15 hospitais-empresas aumentaram 5,8%, ascendendo a 3,67 mil milhões de euros, devendo no final do ano ultrapassar o orçamentado para 2010. Para este ano, o Orçamento do Estado prevê a transferência (para despesas de financiamento) de 3,73 mil milhões de euros, enquanto os restantes hospitais - na órbita do sector público administrativo - vão receber 3,97 mil milhões de euros. No total, o funcionamento dos hospitais custará este ano 7,7 mil milhões de euros.

MULTINACIONAIS CONTORNAM A CRISE E LUCRAM MAIS DE 25% EM 2010...

As empresas do sector financeiro, automóvel, energia e dos semicondutores vão ser as que melhor perfomance terão este ano, segundo dados da Standard&Poors e Bloomberg. Depois do corte de custos, despedimentos e reorganização do negócio, as grandes multinacionais dão sinais de retoma da maior crise das últimas décadasAs maiores multinacionais vão registar este ano os maiores ganhos nos resultados desde 1993, um sinal de que as indústrias da banca à tecnologia, dos metais à energia estão a dar sinais de recuperação da maior crise financeira dos últimos 60 anos que as obrigou a reduzir custos, postos de trabalho e sair de muitos mercados. Segundo as estimativas dos analistas compiladas pela Standard&Poor´s e Bloomberg, os lucros das empresas que constituem o S&P500, índice bolsista que integra as 500 maiores cotadas mundiais, deverão crescer 60% no quarto trimestre de 2009 face ao período homólogo de 2008. Este ano, os sectores financeiro, semicondutor, automóvel e energia serão os que melhor perfomance terão e as integrantes do S&P500 vão apurar subidas de 25% no resultado líquido para a totalidade de 2010. Para o actual trimestre os analistas esperam uma subida de 28% nos lucros face ao trimestre anterior. Estes fortes ganhos derivam da comparação com os elevados prejuízos que as empresas sofreram em 2008 e primeiro semestre de 2009 devido à crise financeira e recessão económica que secou o financiamento e congelou as encomendas. Durante este período foram despedidas mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo.Porém, apesar dos dados positivos vindos das empresas e da economia - a maioria dos países já saiu da recessão em meados de 2009 -, o aumento do desemprego e os efeitos da retirada dos planos anti-crise lançados pelos governos colocam uma incógnita sobre como o mercado e os consumidores irão reagir. Segundo os analistas, 2010 será um ano de grandes oportunidades para os bancos que melhor resistiram à crise. Estes terão espaço e tempo para solidificarem as suas posições nos mercados locais e externos, enquanto os seus concorrentes tentam equilibrar os seus balanços. O Bank of America, o maior banco norte-americano em activos, deverá regressar aos lucros este anos depois do pico de quebras nos depósitos e cartões de crédito em 2009. Este deverá apresentar, nas próximas semanas, o primeiro prejuízo anual em mais de 25 anos - relativo a 2009 -, segundo estimativas de analistas contactados pela Bloomberg. Em 2010, o Bank of America, deverá registar um resultado líquido de 78 cêntimos por acção contra os prejuízos de 16 cêntimos por acção esperados para 2009. Na Europa, as grandes instituições bancárias como o Deutsche Bank e o Crédit Suisse, líderes de mercado na Alemanha e Suíça, respectivamente, deverão reportar, este ano, lucros inferiores aos de 2009, quando beneficiaram de fortes ganhos na banca de investimento, depois de a maioria dos seus concorrentes ter saído deste segmento, que foi o epicentro das perdas durante a crise financeira. Os analistas referem que os banco europeus poderão enfrentar, em 2010, um aumento dos custos de financiamento à medida que o Banco Central Europeu retira o apoio de 875 mil milhões de euros que injectou durante a crise financeira. Os especialistas adiantam ainda que a banca de consumo terá melhores perspectivas de negócio que a banca empresarial.Depois de ter sido um dos mais afectados pela recessão económica, o sector automóvel irá aumentar os seus resultados este ano, a beneficiar da retoma da economia mundial. O grupo Daimler, fabricante dos automóveis e camiões Mercedes-Benz, irá lucrar mais 3,67 mil milhões de euros em 2010, um valor recorde, e uma verba que irá inverter os prejuízos de 1,91 mil milhões do ano passado para lucros de 1,76 mil milhões de euros em 2010. Apesar da descida de 8% das vendas automóveis na Europa projectada para 15 milhões de veículos em 2010, segundo dados do IHS Global Insight, a forte redução de custos e de trabalhadores vai permitir um equilíbrio das contas. Nos EUA as vendas automóveis vão subir 20% depois da falência da General Motors e da Chrysler. Os analistas contactados pela Bloomberg são unânimes em referir que o sector será muito mais rentável este ano, depois de um 2009 com diversas interrupções na produção devido à descida das encomendas que, em muitas marcas, chegou a ser de 50%, e que o grupos como a Volkswagen, PSA Peugeot Citroën e BMW irão ter de lutar se quiserem subir as receitas este ano. A recuperação do sector automóvel terá um efeito positivo sobre o sector metalúrgico em 2010 com os analistas a sublinhar que as grandes empresas do sector adoptaram uma disciplina muito maior ao nível da produção durante a última crise do que em anteriores. A ArcelorMittal, líder mundial, deverá apresentar, este ano, um lucro de 3,9 mil milhões de dólares, que compara com os prejuízos de 394,5 milhões de dólares de 2009, segundo a média de 15 analistas contactados pela Bloomberg. Mais difícil vai ser o ano do sector da aviação civil, que vai continuar a sofrer os efeitos da quebra de passageiros, que deverá manter-se em 2010 devido à crise económica, retracção do consumo das famílias ou dos atentados terroristas. A British Airways e o grupo Air France-KLM, este último o maior da Europa, deverão apresentar prejuízos pelo segundo ano consecutivo em 2009. Já a norte-americana Boeing, maior construtor aeronáutico mundial, irá apresentar brevemente a maior queda de lucros anuais desde 2002, depois dos atrasos na entrega do modelo de médio e longo curso, o Boeing 787 e da versão alargado do 747. "Não me parece que o ano de 2010 seja muito melhor que o de 2009 para as companhias aéreas", afirmou à Bloomberg, Gert Zonneveld, analista na Panmure Gordon. " A recuperação económica ainda é muito modesta", acrescentou. A redução de custos em sectores como o automóvel e a aviação será penalizador para as grandes empresas de engenharia que terão menos encomendas de equipamento. A Siemens, maior empresa de engenharia europeia, já anunciou que as vendas para 2010 das divisões de indústria, energia e saúde, deverão recuar em 2010 com a descida de encomendas. Já a sua rival norte-americana, General Electric, vai registar uma quebra de 50% nos seus lucros do quarto trimestre. A GE é hoje a maior fabricante de motores para aviões, turbinas para centrais eléctricas e equipamentos de radiologia. Melhor ano terão as petrolíferas, que irão beneficiar da subida do preço do petróleo que, só no último trimestre do ano passado, esteve 29% acima do que no período homólogo de 2008. Em Dezembro, o barril de crude estava a ser transaccionado nos 79,36 dólares face aos 32,7 dólares de Janeiro. Os analistas contactados pela Bloomberg estimam que os lucros da Exxon Mobil, Chevron e Conoco Phillips, subam em 2010, a reflectir a retoma da economia mundial e a consequente procura de combustíveis.Os resultados do quarto trimestre da BP deverão ultrapassar os da rival Royal Dutch Shell, depois de a petrolífera ter restabelecido a produção nas suas refinarias nos EUA e aumentado a produção no Golfo do México. A PetroChina, a maior empresa mundial em termos de valor de mercado deverá apresentar um aumento de 46% nos seu resultado líquido do quarto trimestre de 2009, depois de a economia chinesa estar a crescer acima do esperado. Só em 2010, o PIB da China vai acelerar 9,4%, acima dos 8,5% estimado anteriormente. Os sectores mais sensíveis ao andamento da economia, sobretudo os mais próximos do consumidor, como os fabricantes de produtos electrónicos e as empresas de retalho, vão ter um ano de retoma em 2010, à medida que as famílias vão estando mais confiantes e aumentado os seus gastos. O sector de produtos electrónicos vai recuperar com a crescente procura de televisões de ecrã plano, consolas de videojogos e smartphones, adiantam os analistas. Depois de 20 mil despedimentos e redução de custos na ordem dos 2,5 mil milhões de euros, a Sony deverá recuperar dos prejuízos do ano fiscal de 2009, os primeiros desde 1958, e regressar aos lucros em 2010. Nos 12 meses terminados em Março de 2011, a empresa japonesa deverá apresentar um resultado líquido de 700 milhões de euros. A sul-coreana Samsung, terá, segundo os analistas, um lucro recorde este ano de 8 mil milhões de euros, um crescimento de 28% face a 2009. No sector dos semicondutores é esperado um ano tranquilo com a estabilização dos preços das memórias, que triplicaram em 2009 depois de fortes quebras nos anos anteriores. A Intel, maior fabricante mundial, poderá apresentar vendas de entre 9,7 e 10,5 mil milhões de dólares para o quarto trimestre de 2009. Mesmo o valor mais baixo deste intervalo representa o primeiro ganhos nas vendas em mais de um ano. Na Apple, as vendas dos últimos três meses do ano deverão ultrapassar as projecções dos analistas com uma perfomance acima do esperado na época natalícia. A empresa liderada por Steve Jobs, e que deverá apresentar um novo tablet PC este mês, terá tido vendas superiores a 11,9 mil milhões de dólares. Já a Nokia, maior fabricante mundial de telemóveis vai regressar aos resultados positivos no quarto trimestre do ano passado depois de seis trimestres no vermelho. A época natalícia terá sido igualmente mais positiva que o esperado para as grandes empresas do retalho. A gigante norte-americana Wal-Mart terá tido um crescimento dos lucros de 8,7% nos últimos três meses do ano e a sua rival Macy´s uma aumento de 7%. Já na indústria farmacêutica, as empresas europeias irão liderar os ganhos depois das avultadas receitas geradas com as vacinas contra a Gripe A, nomeadamente a GlaxoSmithKline, Novartios e Sanofi-Aventis. De acordo com os analistas, o sector deverá registar lucros sustentáveis devido às maiores margens na venda de vacinas, crescimento nos mercados emergentes e introdução de novos produtos no mercado este ano.

"É PRECISO REGULAR AS FUSÕES NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA"(STEVEN PEARLSTEIN)

Há três grandes verdades sobre a indústria farmacêutica. Primeiro, a consolidação transfronteiriça foi significativa na última década e envolveu as maiores farmacêuticas e as mais
promissoras empresas de biotecnologia. Segundo, a eficiência operacional que possa ter resultado dessa consolidação não se traduziu na redução dos preços junto dos consumidores. Terceiro, registou-se durante o mesmo período uma redução expressiva do número de novos medicamentos criados pelos laboratórios farmacêuticos.
Estes três aspectos bastam para questionarmos se os reguladores antimonopólio devem, ou não, aprovar a última "mega fusão" da indústria, em que a segunda maior farmacêutica, a Pfizer, se propõe comprar a sua homóloga Wyeth, que ocupa o 11° lugar na tabela, num negócio avaliado em 68 mil milhões de dólares (cerca de 52,7 mil milhões de euros).
A força motriz desta fusão não podia ser mais clara:
a patente do medicamento mais vendido da Pfizer, o Lipitor, usado para reduzir os níveis de colesterol, e que
representa 25 por cento das receitas da empresa, expira
em 2011. E pelo que se sabe, os seus laboratórios não desenvolveram entretanto nenhuma alternativa à altura.
A Pfizer não tem sido capaz de impedir a queda do
preço das suas acções com a criação de novos medicamentos, por isso, concluiu que o melhor que pode fazer para agradar aos accionistas é enveredar pela engenharia financeira. A empresa está disposta a contrair um empréstimo no valor de 22 mil milhões de dólares (17 mil milhões de euros) com juros elevados e a pagar um prémio de 29 por cento para adquirir a Wyeth, que trocou com êxito os componentes químicos por produtos biotecnológicos,além de ter em carteira projectos para desenvolver novos produtos com elevado potencial.
O discurso das farmacêuticas é invariavelmente o mesmo, ou seja, continuam a defender que a fusão não deve ser submetida a uma análise antimonopólio. Se esta obedecesse aos parâmetros convencionais, seria esse o desenlace. As duas empresas não têm propriamente nenhum produto comum que possa entrar em choque e conseguiriam, com a fusão, poupar 4 mil milhões de dólares (3,1 mil milhões de euros) nos próximos três anos.
Concretizado o negócio, a indústria manteria no mercado dez grandes "players" globais.
A questão que se coloca é que as farmacêuticas são avessas a análises de mercado convencionais. O facto de o grosso dos lucros provir de monopólios temporários - leía- se patentes licenciadas pelo governo - faz com que a concorrência propriamente dita não tenha lugar ao nível do mercado e sim ao nível da inovação, seja desenvolvendo novos medicamentos, seja comprando patentes promissoras e"start-ups" biotecnológicas. Neste "mercado da inovação", não é líquido que a consolidação das farmacêuticas se traduza em benefícios para os consumidores.
Importa lembrar que a indústria farmacêutica, como muitas outras indústrias, se divide em submercados -medicamentos para o cancro, analgésicos, vacinas, etc. - porque nem todas as empresas competem nos mesmos mercados, ou seja, cada um tem apenas alguns "players".
Ora, ao eliminar-se um dos "players" globais corre-se também o risco de reduzir o já pequeno número de "players"que actua em cada submercado.
Mais: é uma indústria para a qual os reguladores antimonopólio devem olhar com alguma desconfiança devido à sua aversão congénita à concorrência. É uma indústria que está sempre disposta a gastar fortunas em advogados e
lobistas para proteger e prolongar as suas patentes, assim como para lançar infindáveis desafios às autoridades a quem compete autorizar a venda de novos medicamentos.
Mas não só. É uma indústria onde a concorrência não se baseia nos preços porque as patentes lhes dão o poder de os fixar e onde quem paga a factura não é quem decide quais os medicamentos a receitar - isto é, os médicos -, mas sim os consumidores e as seguradoras. Além disso, é uma indústria que está habituada a pagar milhões de dólares a potenciais concorrentes para estes atrasarem o lançamento de um medicamento genérico de baixo custo quando o prazo das suas (lucrativas) patentes está prestes a expirar. E fazem-no sob o disfarce de "joint-ventures",ou seja, de pagamentos que a Comissão Federal para o Comércio classifica de "subornos" destinados a reduzir a concorrência. Tal como é uma indústria que, quando tudo o resto falha, prefere comprar uma empresa rival a competir com ela. Tomemos o exemplo da Ovation Pharmaceuticals, com sede em Deerfield, no estado do Illinois. Eni Agosto de 2005, a Ovation comprou à Merck um medicamento chamado Indocin IV que, na altura, era o único oficialmente aprovado para o tratamento de urna deficiencia cardíaca em bebés prematuros. Pouco depois soube-se que o Abbott Laboratories aguardava aprovação da entidade reguladora, a Food and Drug Administration, para poder comercializar um produto que iria competir directamente com o Indocin IV. Em Janeiro de 2006, a Ovation decidiu comprar os direitos de produção deste novo medicamento, NeoProfen.
Em Dezembro deu entrada no tribunal federal uma queixa contra a Ovation por esta ter aumentado o preço do Indocin em cerca de 1300 por cento, isto é, de ter passado de 36 para perto de 500 dólares. Quando o NeoProfen foi colocado no mercado, o seu preço de venda era sensivelmente idêntico. Foram pedidos esclarecimentos à Ovation, mas esta limitou-se a dizer que não fizera nada de mal e que fixara o preço mais correcto.
A Ovation nâo é uma farmacêutica qualquer, no entanto, o seu comportamento ilustra bem a forma como a indústria pensa e actua, e a forma como prefere "competir". Tudo razões de peso para o governo apertar a malha reguladora em torno das operações de fusão que têm lugar na indústria.
Nem os comentários que os executivos da Pfizer fizeram no final de Janeiro, por ocasião de uma conferência de imprensa, nem as previsões dos analistas da indústria, explicam como poderá uma empresa combinada tornar-se mais inovadora de um momento para o outro nem se esta irá honrar o investimento de 10 mil milhões de dólares (7,7 mil milhões de euros) que destinou à investigação e desenvolvimento. Tal como nenhuma das declarações elucida sobre se os 4 mil milhões de dólares em poupanças operacionais se irão traduzir na redução do preço dos medicamentos comercializados pela empresa. Aliás, não há nada na história recente das fusões na indústria que possa lançar luz sobre todas estas questões.
A meu ver há razões para os accionistas estarem preocupados. Senão vejamos: a Pfizer comprou a Warner Lambert em 2000 e a Pharmacia em 2003 por preços muito superiores aos de mercado, no entanto, nem uma nem outra compra contribuiu para aumentar o preço das acções da empresa ou para estimular a inovação. Um estudo recente sobre fusões na indústria farmacêutica, levado a cabo pelo professor Gary Pisano da Harvard Business School, mostra que a maioria destas operações destruiu o valor accionista.
Sabemos, contudo, que o comportamento "seguidista"dos gigantes farmacêuticos e dos analistas da indústria,assim como a avidez dos banqueiros de investimento de Wall Street por elevadas comissões vão abrir caminho a novas "mega fusões" assim que o negócio Pfizer-Wyeth se concretizar. E sabemos também que numa indústria onde existem numerosas barreiras a novos concorrentes, cada uma destas fusões vai reduzir significativamente a concorrência no desenvolvimento de novos medicamentos.
O negócio Pfizer-Wyeth constitui uma excelente oportunidade para a nova administração norte-americana pôr fim a uma era de "fusões sem regras" e aplicar, de forma criativa, as leis antimonopólio às indústrias farmacêutica e biotecnológica por serem estratégicas para o futuro económico dos
E.U.A.
* Steven Pearlstein é colunista do jornal "Washington Post"
e venceu o Prémio Pulitzer de opinião em 2007.

Manchete, 1996-2009 Manchete e Netpress são marcas registadas da Manchete, SA

Apifarma reclama tribunal especializado em patentes

A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) lembrou quinta-feira que há quase um ano pediu ao Governo para avançar com a criação de um tribunal especializado em propriedade intelectual, sem sucesso, avança o jornal Público.Esta seria a solução para o problema da elevada litigiosidade judicial que, segundo a Associação Portuguesa de Genéricos (Apogen), tem bloqueado a entrada de vários medicamentos genéricos no mercado português.A Apogen alega que os laboratórios farmacêuticos recorrem sistematicamente aos tribunais administrativos interpondo providências cautelares para suspenderem as autorizações de introdução no mercado (AIM) concedidas pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) aos genéricos e que, com isto, impedem o acesso a medicamentos mais baratos.A Apifarma, que representa mais de 130 companhias, nota que na maior parte dos casos os tribunais têm considerado válidas as pretensões das empresas inovadoras, suspendendo as AIM de vários genéricos.Invocando a violação das suas patentes, os laboratórios de medicamentos originais recorriam antes aos tribunais de comércio mas, a partir de 2007, começaram a interpor acções nos administrativos. No final de 2009, havia cerca de 140 acções deste tipo nos tribunais administrativos. A Comissão Europeia já chamou a atenção para este problema.A Apifarma explica que é a incapacidade dos tribunais de comércio de proferirem decisões em tempo útil que faz com que as empresas optem pelos administrativos. Na carta enviada ao ministro da Justiça em Maio de 2009, afirmava, aliás, que, dos países da União Europeia, “Portugal é aquele que apresenta um maior atraso na decisão de providências cautelares”, em média, “mais de 12 meses, contra o prazo de uma semana em cerca de dez países”.E defendia que os atrasos das decisões judiciais dos tribunais de comércio só poderão ser combatidos com a criação de Juízos de Propriedade Industrial, que estavam previstos no novo mapa judiciário, mas não saíram do papel.

Fusões no setor farmacêutico seguem forte em 2010, diz estudo...

A consolidação da indústria farmacêutica deve se intensificar nos próximos anos, mas as mudanças estarão na estratégia geral de aquisição de concorrentes. A previsão foi feita atrvés do estudo inédito "Painel da Indústria Farmacêutica" (PIF) apresentado pela BSP (Business School São Paulo). De acordo com a publicação, 91% dos pesquisados acredita que a onda de fusões e aquisições deve seguir firme. Para o setor, os principais motivos para essa tendência vão além da busca de economia de escala – tradicional razão impulsionadora das frequentes consolidações de empresas no setor. Dificuldades no lançamento de novos medicamentos, enfrentadas por empresas de todo o mundo, estão entre os principais motivadores dessa onda. Para garantir o crescimento em tempos de escassez de novas entidades farmacológicas, a indústria tem se mobilizado em torno de esforços gerenciais para atrair recursos. "Enquanto as fusões e aquisições devem acelerar seu ritmo neste ano, novos recursos estrangeiros devem aportar no Brasil”, segundo o professor José Fernando Ramadinha. E essa tendência pode ser atribuída principalmente para aquisição de novas famílias de medicamentos em fase de lançamento (para 82% dos respondentes), acesso rápido a mercados estratégicos (64%), e para complementar o portfólio (60%).Apesar do consenso entre os líderes da indústria de que o ritmo das fusões e aquisições se manterá intenso, há também divergências. Para 60%, a pressão do acionista será um grande impulsionador da safra de F&A, enquanto que outros 30% discordam e acreditam não se tratar de um fator decisivo para ativar esse processo. O painel revela que as razões que motivam as fusões e aquisições para as indústrias de capital nacional são distintas daquelas que impulsionam os grupos estrangeiros. Mas além das F&A, outras formas de parcerias podem acontecer em 2010. São elas parcerias para desenvolvimento de produtos específicos, compartilhamento de ações de marketing e promoção, bem como busca de recursos para pesquisa e desenvolvimento.A forma como as empresas irão complementar o seu portfólio também é discutida no estudo. Para 60%, a estratégia será adquirir companhias com portfólio promissor, enquanto que 40% esperam compartilhar esforços de pesquisa com instituições públicas. "Mas antes de pensar em adquirir uma nova empresa, os recursos para gestão de pipeline estarão voltados principalmente para a aquisição de patentes de produtos em processo de desenvolvimento", explica Ramadinha. Quando o assunto é investimentos, a indústria farmacêutica se mostrou otimista para este ano. A aquisição de novas companhias, rastreabilidade de produtos e comunicação em mídias digitais encabeçam a lista de aportes do segmento. A grande maioria (81,82%) respondeu que irá elevar seus investimentos no Brasil em 2010. Já 9,09% se limitarão a reinvestir seus lucros obtidos na operação brasileira e para outros 9,09% a tendência será remeter lucros para as matrizes, sem realizar novos investimentos no País. "Na outra ponta, as indústrias devem cortar investimentos nas áreas de comunicação por mídias tradicionais e apenas manter os mesmos níveis de 2009 em pesquisa e desenvolvimento e capacidade produtiva", diz o professor. Ainda segundo a pesquisa, há uma tendência clara de aumento da competitividade das empresas em várias frentes: pela aquisição de outras companhias, desenvolvimento de novas estratégias de mercado, lançamento de produtos por vias inovadoras, parcerias entre empresas, conflitos de canais de distribuição e mudanças profundas na forma de comunicação.O diagnóstico envolveu 27 empresas que representam 40% do mercado farmacêutico brasileiro. Participaram do estudo presidentes, vice-presidentes e diretores de grandes indústrias farmacêuticas multinacionais e nacionais.

IMS Health apresenta lista das 20 maiores farmacêuticas

A IMS Health divulgou a lista das 20 maiores companhias farmacêuticas, considerando as vendas globais de medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) até Setembro de 2009, avança a agência Reuters.A lista revela as vendas efectuadas (em milhares de milhões de dólares) e a alteração registada a nível percentual durante este período.Os dados não incluem os resultados das mega aquisições realizadas pela Pfizer e pela Merck Sharp & Dohme (MSD), tendo em conta que os negócios foram concluídos no quarto trimestre. 1 – Pfizer: 41,7 mil milhões de dólares (0,8%)2 – Novartis: 36,7 mil milhões de dólares (7,0%)3 – sanofi-aventis: 35,1 mil milhões de dólares (3,3%) 4 – GlaxoSmithKline: 34,3 mil milhões de dólares (3,4%)5 – AstraZeneca: 33,2 mil milhões de dólares (7,8%)6 – Roche: 31,3 mil milhões de dólares (8,6%)7 – Johnson & Johnson: 26,9 mil milhões de dólares (6,6%)8 – Merck Sharp & Dohme: 25 mil milhões de dólares (4,1%)9 – Eli Lilly: 19,6 mil milhões de dólares (8,3%)10 – Abbott: 19,4 mil milhões de dólares (5,5%)11 – Teva: 15,7 mil milhões de dólares (12,3%)12 – Bayer: 15,4 mil milhões de dólares (3,9%)13 – Wyeth: 14,8 mil milhões de dólares (2,3%)14 – Amgen: 14,8 mil milhões de dólares (3,1%)15 – Boeringer Ingelheim: 14,6 mil milhões de dólares (10,4%)16 – Takeda: 14,4 mil milhões de dólares (2,1%)17 – Bristol-Myers Squibb: 14,2 mil milhões de dólares (5,8%)18 – Schering-Plough: 13,1 mil milhões de dólares (4,3%)19 – Daiichi Sankyo: 8,5 mil milhões de dólares (3,1%)20 – Novo Nordisk: 8,2 mil milhões de dólares (11,6%)

Quer saber quais vão ser os medicamentos mais vendidos em 2014?

De acordo com uma previsão da Thomson Reuters, que decidiu fazer uma espécie de "top ten 2014" versus "top ten 2010” da Indústria Farmacêutica mundial, o medicamento para o cancro Avastin®, da Roche, é apontado como o que mais vendas vai gerar em 2014, tendo em conta que os dois blockbusters actuais (Lipitor® e Plavix®) vão perder a protecção de patente em 2011 e 2012, respectivamente, avança a agência Reuters.As estimativas indicam que a lista de medicamentos sujeitos a prescrição mais vendidos em 2014 será diferente da do ano corrente, reflectindo o crescimento e domínio dos medicamentos biotecnológicos injectáveis, especialmente os que se destinam ao tratamento do cancro e da artrite reumatóide.

Consenso de previsões do top 10 de vendas mundiais de medicamentos em 2014:

1 – Avastin® (cancro) da Roche: 8,9 mil milhões de dólares2 – Humira® (artrite) da Abbott: 8,5 mil milhões de dólares3 – Enbrel® (artrite) da Pfizer/Amgen: 8 mil milhões de dólares4 – Crestor® (colesterol) da AstraZeneca: 7,7 mil milhões de dólares5 – Remicade® (artrite) da MSD/J&J: 7,6 mil milhões de dólares6 – Rituxan® (cancro) da Roche: 7,4 mil milhões de dólares7 – Lantus® (diabetes) da Sanofi-Aventis: 7,1 mil milhões de dólares8 – Advair® (asma/DPOC) da GSK: 6,8 mil milhões de dólares9 – Herceptin® (cancro) da Roche: 6,4 mil milhões de dólares10 – Novolog® (diabetes) da Novo Nordisk: 5,7 mil milhões de dólares

Consenso de previsões do top 10 de vendas mundiais de medicamentos em 2010:

1 – Lipitor® (colesterol) da Pfizer: 11,7 mil milhões de dólares2 – Plavix® (anticoagulante) da Sanofi/BMS: 9,6 mil milhões de dólares3 – Advair® (asma/DPOC) da GSK: 9 mil milhões de dólares4 – Remicade® (artrite) da MSD/J&J: 7,4 mil milhões de dólares5 – Enbrel® (artrite) da Pfizer/Amgen: 7,1 mil milhões de dólares6 – Humira® (artrite) da Abbott: 6,8 mil milhões de dólares7 – Avastin® (cancro) da Roche: 6,7 mil milhões de dólares8 – Rituxan® (cancro) da Roche: 6,1 mil milhões de dólares9 – Diovan® (hipertensão) da Novartis: 6 mil milhões de dólares10 – Crestor® (colesterol) da AstraZeneca: 5,8 mil milhões de dólares

"COMO AS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS ENGANAM AS PUBLICAÇÕES MÉDICAS"(Antony Barnett)

GIGANTES FARMACÊUTICAS CONTRACTAM AUTORES FANTASMAS PARA PRODUZIR ARTIGOS..E COLOCAM NOMES DE MÉDICOS NELES!
Centenas de artigos em periódicos médicos, que deveriam ter sido escritos por acadêmicos ou médicos, foram escritos por autores — fantasmas contratados por laboratórios farmacêuticos, como revela uma investigação da publicação The Observer.
Esses periódicos, bíblias da profissão, exercem enorme influência sobre quais medicamentos os médicos receitam e o tratamento proporcionado pelos hospitais. Porém, o periódico The Observer obteve provas de que muitos artigos escritos por assim chamados “acadêmicos independentes”, podem ter sido escritos por autores a serviço de agências, que recebem grandes somas das indústrias farmacêuticas para fazer propaganda dos seus produtos.
Estimativas sugerem que, quase metade de todos os artigos publicados em periódicos, são de autoria de escritores-fantasmas. Enquanto os médicos que colocaram seus nomes nesses trabalhos são geralmente muito bem pagos por ‘”emprestar” sua reputação, os escritores-fantasmas permanecem ocultos. Seu envolvimento com as indústrias farmacêuticas raramente são revelados. Esses trabalhos, endossando certos medicamentos, são exibidos perante os clínicos como pesquisa independente para persuadi-los a receitar os medicamentos.
Em fevereiro, o New England Journal of Medicine, foi forçado a revogar um artigo publicado no ano anterior, por médicos do Imperial College, em Londres, e do National Heart Institute, sobre o tratamento de um tipo de problema cardíaco. Veio à tona o fato de que vários dos autores arrolados tinham pouca ou nenhuma relação com a pesquisa. A fraude somente foi revelada quando o cardiologista alemão, o Dr. Hubert Seggewiss, um dos oito autores relacionados, telefonou para o editor do periódico para dizer que nunca tinha visto qualquer versão do trabalho publicado.
Um artigo publicado em fevereiro último no Journal of Alimentary Pharmacology, especializado em distúrbios do estômago, envolveu um autor trabalhando para o gigante farmacêutico AstraZeneca — um fato que não foi revelado pelo autor. O artigo, escrito por um médico alemão, reconhecia a “contribuição” da Dra. Madeline Frame; porém, não admitia a sua condição de autora sênior da AstraZeneca. O artigo apoiava o uso de um medicamento chamado Omeprazole — de fabricação da AstraZeneca — indicado para úlceras gástricas, apesar de pareceres revelando mais reações adversas do que os medicamentos similares.
Poucos dentro da indústria têm coragem suficiente para romper o silêncio. Entretanto, Susanna Rees, assistente editorial de uma agência de trabalhos sobre medicina até 2002, ficou tão preocupada com o que tinha testemunhado, que mandou uma carta para o website do British Medical Journal. “As agências que escrevem artigos médicos fazem tudo que é possível para esconder o fato de que os trabalhos que escrevem e submetem os periódicos e eventos são escritos por fantasmas a serviço das empresas farmacêuticas e não pelos autores apontados”, escreveu ela. “O sucesso desses trabalhos-fantasmas é relativamente alto — não enorme, mas consistente”.
Susanna Rees disse que, como parte do seu trabalho, ela devia assegurar que em nenhum artigo a ser eletronicamente submetido tivesse qualquer vestígio quanto à origem da pesquisa. “Um procedimento padrão que usei estabelece que, antes que um trabalho seja submetido a um jornal eletronicamente ou em disco, o assistente editorial precisa abrir o arquivo do documento no Word e eliminar os nomes da agência responsável pela redação ou da agência de autores-fantasmas ou da companhia farmacêutica e substituí-los pelo nome e a instituição da pessoa que foi convidada pela indústria farmacêutica (ou da agência que atua em seu nome), a ser apontada como autor principal, embora não tenha contribuído para o trabalho”, escreveu ela. Quando entraram em contato, ela se recusou a dar detalhes. “Assinei um acordo de confidencialidade e estou impedida de fazer comentários”, disse ela.
Um autor que tem trabalhado para diversas agências, não quis ser identificado por receio de não conseguir trabalho novamente. “É verdade que algumas vezes a empresa farmacêutica paga um autor de assuntos médicos para escrever um artigo apoiando um medicamento em particular” disse ele. “Isso significa usar toda a informação publicada para escrever um artigo explicando os benefícios de um tratamento em particular. Depois, um médico conhecido será procurado para assinar o trabalho. Esse será submetido a um periódico sem que alguém saiba que um autor-fantasma ou uma indústria farmacêutica está por trás disso. Eu concordo que isso seja provavelmente antiético, mas todas as empresas estão fazendo isso”.
Um campo onde os artigos-fantasmas vem se tornando um problema crescente é a o da psiquiatria. O Dr. David Healy, da Universidade de Wales, estava realizando pesquisas sobre os possíveis perigos dos antidepressivos, quando o representante de um fabricante de medicamentos lhe mandou uma mensagem por e-mail oferecendo ajuda. A mensagem, vista pelo The Observer, dizia: “Para reduzir a sua carga de trabalho a um mínimo, pedimos que nosso autor-fantasma produzisse um rascunho baseado no trabalho publicado por V.S.a. Veja o anexo”. O artigo era uma resenha de 12 páginas a ser apresentada em um evento em data próxima. O nome do Dr. Healy aparecia como único autor, embora nunca tivesse visto uma única palavra desse trabalho antes. Como não gostou da brilhante resenha do medicamento em questão, ele sugeriu algumas mudanças.
O fabricante respondeu, dizendo que ele não tinha notado alguns pontos “comercialmente importantes”. O trabalho-fantasma apareceu finalmente no congresso e em um periódico psiquiátrico em sua forma original — porém com o nome de outro médico. O Dr. Healy disse que tais fraudes vem se tornando mais freqüentes. “Acredito que 50 por cento desses artigos sobre medicamentos nos principais periódicos médicos não são escritos na forma que a pessoa comum espera… As provas que tenho visto sugerem que uma significativa proporção dos artigos em periódicos, como o New England Journal of Medicine, o British Medical Journal e o Lancet, foram escritos com a ajuda de agências”, disse ele. “Não são mais que informações comerciais pagas pelas empresas farmacêuticas”.
Nos Estados Unidos, em um caso levado à justiça contra a indústria farmacêutica Pfizer, apareceram documentos internos dessa empresa mostrando que ela empregava uma agência de autores de assuntos médicos de New York. Um dos documentos analisa artigos sobre o antidepressivo Zoloft. Em alguns dos trabalhos faltava somente uma coisa: o nome de um médico. Na margem, a agência tinha colocado as iniciais TBD. O Dr. Healy acha que significam to be determined (a ser determinado).
O Dr. Richard Smith, editor do British Journal Of Medicine, admitiu que os artigos-fantasmas são um “grande problema”. “Estamos sendo enganados pelas companhias farmacêuticas. Os trabalhos vêm com os nomes de médicos e, freqüentemente, descobrimos que alguns deles não têm a menor idéia a respeito do que escreveram”, disse ele. “Quando descobrimos, rejeitamos o trabalho; mas é muito difícil. De certa forma, nós mesmos causamos o problema ao insistir que qualquer envolvimento com uma empresa farmacêutica seja divulgado. Encontraram caminho para contornar isso e vão trabalhar na clandestinidade”.Antony Barnett é redator de Assuntos de Interesse Público do periódico The Observer (Grã-Bretanha). Artigo publicado em 7 de dezembro de 2003
CONFLITO D'INTERESSES:Uma análise de 789 artigos dos jornais médicos mais importantes(The Lancet, New England Journal of Medicine, Journal of the American Medical Association, Annals of Internal Medicine) mostrou que um terço dos autores titulares tinham interesses financeiros em suas pesquisas, sob a forma de patentes, ações ou honorários das empresas, por estarem no Conselho Consultivo outrabalhando como diretores.

Veja integrityinscience.org,onde você encontra todos os cientistas e pesquisadorescomprometidos com as indústrias.
Publicado em
Dicas, Saúde Preventiva

"Robin Hood"(Fernando Cecílio)

Nem calculam a dificuldade que tive em encontrar um título para esta crónica. No princípio, era para ter um tom mais ligeiro e chamar-se “El Chupacabras” (que é apenas um mito moderno e na prática não passa de um coiote com sarna), mas o assunto é demasiado sério para grandes ligeirezas, pelo que acabei por escolher “Robin Hood”, que penso que, mais que a minha perplexidade e dificuldade de análise do assunto, reflecte a minha conclusão.

Vejamos:Uma carta dirigida aos Delegados de Informação Médica (DIM) define as regras que passam a governar o exercício da sua actividade num determinado serviço de um determinado hospital.Até aqui tudo bem. As regras são úteis e bem-vindas (pelo menos em princípio), clarificam e institucionalizam a relação entre DIM’s, Médicos e Instituições e prima facie devem ser estabelecidas pelas instituições onde a visita médica se realiza.A carta em causa é restritiva, demonstra reduzida disponibilidade para o exercício da actividade dos DIM’s no serviço e contém alguma inovação pelo que merece uma análise cuidada:
Vem em papel timbrado do Ministério da Saúde, Hospital e Serviço e é assinada pelo Director do Serviço. Ressalvo alguns pontos, na ordem correcta, mas numerados por mim:
I – Restringe o exercício da visita médica aos médicos do serviço a dois períodos de 2 horas por semana, 2ª e 6ª das 11h às 13h, e o número de DIM’s a 4 por período.
I – a) Caso seja excedido o número de DIM’s autorizados terão que sair aqueles cujos laboratórios já tenham feito 6 ou mais visitas no ano em curso.
II – Em cada período de visita, os médicos a contactar deverão ser informados através de cartão pessoal de cada DIM do tema a tratar.
IV – Quaisquer outros contactos com os médicos do serviço deverão ser feitos por carta entregue à secretária do Director ou fora do horário de trabalho dos médicos e das instalações do serviço.V – Refere que as regras agora impostas poderão ser revistas pelo Director do Serviço em qualquer momento.VI – A carta termina exortando à aplicação de altos padrões de rigor ético nas relações entre os DIM’s e os membros do serviço e salienta que o Director se sente na obrigação de verificar o cumprimento desses padrões.

Vejamos:Não sou grande adepto de processos de intenção, mas não posso esconder que dos pontos acima retiro algumas conclusões. Podem estar erradas, mas são as minhas. Por ordem de importância:
- o ponto V indica, na minha opinião, a intenção de governar por diktat.- no ponto VI, o Director do serviço pretende controlar os padrões éticos, logo o conteúdo, da comunicação entre os DIM’s e os médicos do serviço que dirige.- A intenção de controlo do conteúdo torna claro os pontos II e IV: a quem será entregue o cartão pessoal em que o DIM informa o médico sobre o assunto que quer discutir com ele? E a carta “especial”?

Existe a intenção de impor restrições à quantidade de visitas médicas. Não existe o cuidado de o fazer de forma credível, como se vê no ponto I – a). Em Janeiro será potencialmente possível a presença de 325 DIM’s (ou mais), dado que nenhum laboratório terá ainda atingido as 6 visitas. Mas a restrição está lá! 6 visitas/ano.Já repararam que falta o ponto III na minha lista? Deixei-o para o fim porque, na minha opinião, pode, por um lado, esclarecer o objectivo da limitação à visita médica e, por outro lado, permite-nos compreender os altos padrões éticos que devem reger os contactos entre DIM’s e médicos. Diz a carta que são disponibilizados semanalmente dois períodos de 30 minutos (seguidos) para apresentações científicas da Indústria Farmacêutica aos médicos do serviço. Estas reuniões pressupõem uma remuneração (o termo não é meu) de 750€ por cada 30 minutos a pagar pelo laboratório.Não é apresentado limite para estas apresentações, ao contrário do que se passa com a visita médica. Quem mais pagar, mais fala…Esta remuneração também será devida se as reuniões forem canceladas com menos de 2 semanas de antecedência.Esta remuneração deve ser paga a uma associação privada que é identificada na carta (a tal em papel timbrado do Ministério da Saúde). Tal e qual…Grandes padrões éticos! Salvé!O que se passa aqui?Apresentar dados científicos aos médicos é a definição de visita médica.O Director de serviço quer dividir esta actividade em duas componentes:
- o DIM pode exercer a sua actividade profissional (lembram-se daquela piada do direito ao trabalho?) de forma “gratuita”. Esta componente é agora reduzida por decisão do Director do serviço.- estas reduções podem ser agora compensadas pela possibilidade de o DIM passar a pagar para contactar os médicos. Não é pagar aos médicos: é pagar a uma associação privada escolhida pelo mesmo Director que criou estas regras.
Essa associação privada deverá certamente erigir uma estátua a este seu benfeitor que consegue fazer caridade com o dinheiro dos outros!Duas reuniões por semana (1.500€) em 52 semanas por ano garantirão à tal associação privada proventos de até 78.000€ por ano. Nada despiciendo…Claro que poderíamos encarar isto como anedota: em vez de 750€ por meia hora tout court poderíamos pagar um valor proporcional ao valor dos medicamentos discutidos nessas reuniões. Menos para medicamentos baratos, valores bem mais significativos para reuniões em que se discutissem anticorpos monoclonais, anti-retrovirais, antineoplásicos…Infelizmente não é anedota: prova-o o cabeçalho timbrado do Ministério da Saúde.A minha conclusão: o Director do Serviço decidiu passar a ser remunerado pela Indústria Farmacêutica por autorizar contactos com os médicos do seu serviço. O facto de o pagamento ser a outrem é irrelevante: a decisão é sua.Não me quero armar em paladino da ética e da decência. Na vida também já fiz coisas cabeludas que me esforço por não repetir, mas para tudo há limites.
Tenham vergonha na cara!

HÁ 66 EMPRESAS A COMERCIALIZAR GENÉRICOS EM PORTUGAL!

Em Portugal, há actualmente 66 empresas a vender pelo menos um genérico e, destas, 30 dedicam-se exclusivamente a comercializar este tipo de medicamentos. Mas mais de 60% do mercado dos genéricos, que tanta polémica têm provocado nos últimos dias, está na mão de apenas dez empresas, algumas delas multinacionais, outras portuguesas e ainda uma espanhola, avança o jornal Público.
São empresas qualificadas, que cumprem com todas as normas exigidas internacionalmente, garante o presidente da Associação Portuguesa de Genéricos, Paulo Lilaia, que lamenta “a desinformação e as calúnias” dos últimos dias.
Quando um medicamento inovador esgota o tempo de exclusividade no mercado (normalmente, 20 anos), a patente cai no domínio público, e aí, quem quiser, pode consultar o dossier, comprar uma autorização de introdução no mercado ou fazer o seu próprio produto, submetendo depois o processo à autoridade nacional do medicamento (Infarmed).
E quem garante a qualidade e a segurança? "As empresas fazem estudos de bioequivalência em centros certificados e depois o Infarmed avalia", explica Lilaia.
O Infarmed acentua que garante esta qualidade analisando, de forma aleatória, os medicamentos genéricos e não genéricos, “e, sempre que há suspeitas de problemas, actua”.
“Estatisticamente, não há mais problemas com os genéricos do que com os originais”, assegura
Paulo Lilaia. E mesmo o processo de fabrico é semelhante: “São as mesmas fábricas, as mesmas máquinas e as mesmas pessoas que fazem” os genéricos e os originais.
Lilaia reconhece que há hoje “uma competição feroz” entre as (muitas) empresas de genéricos em Portugal, mas desvaloriza-a. Seja como for, a confusão está instalada. O Infarmed garante a qualidade e a segurança dos genéricos. Mas a Ordem dos Médicos continua a colocar reservas.“Eu acho que os genéricos que se vendem em Portugal são de confiança, mas isto é só um palpite”, atira o bastonário Pedro Nunes, que já disse que os clínicos tendem a prescrever os medicamentos dos laboratórios em que confiam.
O bastonário explica que, na guerra que durou uma semana, não era a confiança dos médicos nos genéricos que estava em causa, mas sim a troca de medicamentos nas farmácias. E acrescentou que há milhares de casos de doentes a tomar doses excessivas de medicamentos, devido a trocas nas farmácias, e que até há mortes. Embora não tenha casos a relatar: “Não tenho nenhuma estatística feita e não tenho conhecimento de casos concretos de mortes. Não é possível provar”, responde.

CRISE AMEAÇA INDUSTRIA FARMACEUTICA EM PORTUGAL

Medicamentos: Baixa de preços e crise provocaram mais de 600 desempregados nas farmacêuticas
Lisboa, 30 Jun (Lusa) - A redução dos preços dos medicamentos e a difícil conjuntura económica estão a penalizar os resultados das empresas farmacêuticas que, em três anos, já despediram mais de 600 pessoas, segundo um estudo feito pela consultora HayGroup para a Apifarma.

Lisboa, 30 Jun (Lusa) - A redução dos preços dos medicamentos e a difícil conjuntura económica estão a penalizar os resultados das empresas farmacêuticas que, em três anos, já despediram mais de 600 pessoas, segundo um estudo feito pela consultora HayGroup para a Apifarma.
De acordo com o estudo, a que a Agência Lusa teve acesso, entre 2006 e 2008, os resultados líquidos médios de 61 por cento das associadas da Associação Portuguesa da Industria Farmacêutica - Apifarma (83 empresas entre 136 associadas) caíram 12,2 por cento, de 2.324 milhões de euros para 2.044 milhões, ou seja, cerca de 100 milhões de euros por ano.
Este decréscimo dos resultados originou uma redução de 6,4 por cento nos recursos humanos, ou seja, mais de 600 pessoas do sector ficaram desempregadas durante os últimos três anos. Embora estes sejam os valores apresentados pelo estudo, o número é bastante maior, porque apenas 75 companhias (as 136 que fazem parte da Apifarma) aceitaram divulgar o número de despedimentos nos últimos anos. Por outro lado, fora da análise estão as restantes empresas do sector - o total deve oscilar entre as 150 e as 160 empresas que empregam cerca de 12.000 pessoas - e as empresas que encerraram a actividade durante o triénio e que, por isso, lançaram muitos trabalhadores no desemprego.
Em declarações ao Diário Económico no final de Novembro do ano passado, o presidente da Apifarma garantia: "Se apontar para os dois mil despedimentos nos últimos três anos, não devo andar longe da verdade." De resto, Almeida Lopes acrescentava que, em 2010, os despedimentos "infelizmente vão continuar" por via da aplicação em Portugal das fusões e aquisições que têm marcado o sector nos últimos meses.
Contactada pela agência Lusa, a Apifarma argumentou que o decréscimo dos resultados se deve, sobretudo, "à forte pressão regulatória sobre os preços dos medicamentos exercida nos últimos anos, a que se juntou, mais recentemente, o sobressalto da crise económica e financeira, com reflexos muito evidentes na liquidez das empresas e no poder de compra dos consumidores".
A Apifarma refere que, apesar do decréscimo dos lucros, as empresas mantêm o esforço de investimento que aumentou 28 por cento entre 2006 e 2008, mais de metade do qual direccionado para a investigação e desenvolvimento e patentes.
"A indústria farmacêutica corre o risco de não reunir, a muito breve prazo, os meios financeiros suficientes para continuar a investir em inovação, o que seria trágico para a desejável descoberta e desenvolvimento de novos e mais eficazes medicamentos", concluiu.
O estudo de caracterização do sector da HayGroup baseou-se numa amostra de 83 empresas, num universo de 136 associadas da Apifarma, das quais 80 por cento são de origem multinacional.
Em termos de dimensão económica, a amostra reparte-se entre grandes (31 por cento), médias (39 por cento) e pequenas empresas (25 por cento).


QUEBRA NA VENDA DE MEDICAMENTOS PODE ORIGINAR A EXTINÇÃO ABRUPTA DE MAIS DE 2000 POSTOS DE TRABALHO!

Estudo preliminar da indústria farmacêutica admite que estejam em risco mais de dois mil postos de trabalho num sector que, em Portugal, emprega perto de 11 mil pessoas.
A ameaça paira sobre os trabalhadores qualificados. De acordo com números da consultora em saúde IMS Health, a venda de medicamentos nas farmácias portuguesas caiu 8,3% em Janeiro e 8,4% em Fevereiro, relativamente aos mesmos meses de 2008. As previsões apontam para uma quebra de 7,5% no total do primeiro trimestre. Isto depois de 2008 ter registado um crescimento de 0,9%. O que, segundo fonte da indústria, significa "crescimento negativo", dado que foi muito abaixo do nível da inflação. Ainda segundo a análise da indústria farmacêutica, o mercado estagnara entre 2005 e 2007, porque os aumentos 5,7%, 4,7% e 5,6% foram "ao nível da inflação".
Argumentando que se trata de um sector com forte investimento, a mesma fonte adianta que a actual crise estará a deixar em dificuldade muitos laboratórios, por falta de sustentabilidade. As dez maiores empresas em actividade em Portugal empregam 2565 trabalhadores, ou seja, mais de 25% do total.
"Este cenário é resultado das medidas restritivas dos últimos anos e do actual contexto de crise económica", lê-se num documento a que o JN teve acesso. A confirmar a responsabilidade da crise está a redução das vendas em unidades, calculada em 1,4% no ano passado (menos quatro milhões de embalagens). Isto quando em 2007 subira 3,7%, contrariando o efeito das medidas políticas impostas ao sector nos anos anteriores: duas descidas de 6% nos preços e a obrigatoriedade de não aumentar o mercado total de vendas.
Estes números da indústria surgem pouco depois de o Governo anunciar uma diminuição de 87,7 milhões de euros na despesa com medicamentos em cinco meses, fruto da redução de 30% do preço de venda ao público dos genéricos imposta em Outubro passado. Segundo a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), a redução representa uma diminuição de 6,3% no mercado total dos medicamentos. O Estado terá poupado, em comparticipações, cerca de 39 milhões, enquanto os utentes terão desembolsado menos 20 milhões de euros.
Ainda de acordo com o Infarmed, atentando só no mercado dos genéricos, o volume de vendas em euros baixou 32,7% - mais do que o imposto pelo Estado, uma vez que alguns laboratórios reduziram o preço de mais de 500 produtos acima dos 30% exigidos. Alguns desceram mais de 60%.
Entre as justificações avançadas pelo Govenro para impor esta redução de preços estava o facto de os genéricos serem mais caros em Portugal do que nos países de referência usado para fixar os preços de venda (Espanha, França, Itália e Grécia). Alegava-se ainda a necessidade de reduzir as despesas do Estado: as despesas do Estado com comparticipações de medicamento cresceram no ano passado 5,2%, fixando-se nos 1472,9 milhões de euros.
Na altura da imposição das reduções de preço, a indústria alertara para o risco de crise no sector, lembrando o investimento feito em inovação e a fatia dos laboratórios farmacêuticos na produção industrial do país. Depois de alguns laboratórios de genéricos terem fechado portas, a indústria avisa agora que poderá ter que largar mão de 15% a 20% dos trabalhadores se o cenário se mantiver.



"SINDICALIZA-TE:ESTÁS MAIS PROTEGIDO!"

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"SINDICALIZA-TE:ESTÁS MAIS PROTEGIDO!"

"SINDICALIZA-TE :ESTÁS MAIS PROTEGIDO!"








"ANALISE AOS ERROS DO PASSADO,AS DIFICULDADES DO PRESENTE E OS DESAFIOS DO FUTURO DA IF"(LUIS FRADE)

Antes de "atravessar a barreira" para o outro lado, Luís Frade exerceu Medicina e foi visitado por DIM's. Hoje, passado 25 anos, está do "outro lado da barricada": é Director-Geral do Grupo Cegedim em Portugal e fornece aos seus clientes as ferramentas necessárias para estabelecerem contacto com os médicos da forma mais eficaz. Com uma visão ambivalente dos meandros da Indústria Farmacêutica, Luís Frade analisa os erros do passado, as dificuldades do presente e os desafios do futuro de uma indústria suis generis.
É inevitável começarmos a conversa pelo tema da crise. Eu vejo-a sempre como um ponto positivo porque, de outra forma, é inevitável que ela nos leve ao fundo.
Como é que vê a crise neste momento?As crises profundas levam alguns sectores a um ponto de ruptura estrutural. Põe em causa modelos de negócios, paradigmas que estavam estáveis há 10, 15 anos e que agora vão ter que mudar para se adaptarem às novas condições. Isso é visível não só na parte farmacêutica como também na parte financeira. Nada vai ser igual nos mercados depois desta crise.Todos os momentos de ruptura estrutural são transitóriamente desagradáveis. No curto prazo, podem até ser muito desagradáveis e penosos, porque a primeira reacção mediante uma crise é sempre reduzir custos, sendo que uma factura importante dos custos é sempre o pessoal. Mas, de facto, é nas rupturas estruturais que se criam oportunidades enormes para o futuro. E quem vai ganhar com este tipo de rupturas é quem estiver a ver mais á frente no tempo, quem perspectivar como é que as coisas se vão passar em 2012 ou 2015. Em termos da Indústria Farmacêutica (IF) especificamente, apesar deste momento de pressão que atravessamos, é talvez uma das poucas indústrias que continuam a ter, a longo prazo, um crescimento assegurado, difícil de antever quando se está no epicentro da crise. A IF vai existir em moldes bastante diferentes do que existe hoje. Podemos dizer que em 2020 o negócio vai ser excelente, mas vai ser completamente diferente daquilo que é hoje.Em que sentido é que vai ser excelente?Para percebermos em que vai mudar, temos de conhecer as variáveis que vão condicionar essa mudança. A primeira é o crescimento populacional, e o crescimento relativo do número de idosos. A população com mais de 65 anos que hoje representa 478 milhões (à volta dos 7%) vai passar, em 2020, segundo as estimativas, para os 720 milhões, representando cerca de 10% da população total. Obviamente não podemos esquecer que a população que mais consome medicamentos são os idosos, que têm mais patologias, muitas vezes crónicas. Por outro lado, a IF vai beneficiar de tudo aquilo que fez de bom pela sociedade e que muitas vezes não é lembrado. Há muitas doenças que há 20 anos eram doenças mortais, praticamente sem esperança, e que através da investigação da IF, com medicamentos novos, tornaram-se doenças crónicas, com tratamento. Por exemplo, há muitos tipos de cancros em que a taxa de mortalidade há cinco anos era de 80% e que hoje é de 20%. É também o caso da sida: há 10 anos, era uma doença tida como mortal e hoje em dia é uma doença crónica que tem medicação. Estas pessoas, com doenças agora consideradas crónicas e não fatais, graças à investigação feita pela IF, vão engrossar a lista da população a consumir medicamentos.Não há muitas indústrias que possam ter a esperança de que o seu mercado potencial vá crescer a este ritmo. A IF tem, porque toda a população – doente ou não – é potencialmente consumidora de produtos farmacêuticos.Mas existem outros factores que farão o mercado dos medicamentos crescer?Embora haja a tendência para exagerar quando se fala do assunto, o facto é que já existe um ligeiro aquecimento global, que pode ter consequências enormíssimas em termos da disseminação de patologias existentes, que vão deslocar-se geograficamente. Nas próximas décadas, poderemos ter na Europa a malária, o dengue, a cólera e uma série de doenças que já tínhamos erradicado há muito tempo.Já se fala da dengue a caminho de Portugal...Com o aquecimento global, existem vários tipos de bactérias que, com um aumento de apenas 0,2 graus da temperatura ambiente, têm uma taxa de multiplicação exponencial. Além disso, com a crescente mobilidade populacional, vamos ter a expansão de determinadas doenças características dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos. E isso vai gerar mais investigação e inovação. Porque é que nunca se criou uma vacina para a malária? Porque os países que necessitavam dela não a poderiam pagar, mesmo que ela existisse. Se a malária chegar à Europa, vai existir uma vacina muito rapidamente. E isto é valido para outros tipo de doenças.Mas os países em desenvolvimento não vão importar as doenças dos países desenvolvidos? Esta “viagem” não é unidireccional. Os maiores países emergentes, a Índia e a China, vão começar a ter um crescimento enorme nas doenças que são típicas dos países desenvolvidos, como a hipertensão e a diabetes. Hoje em dia, a diabetes já atinge 84 milhões de pessoas nos sete principais países emergentes. E os números vão passar para 328 milhões, daqui a 10 anos. É um número impressionante mas, por muito mau que esta evolução seja em termos sociais, contribui para que o mercado da IF continue a crescer.
A IF de hoje não vai por certo ser a IF de amanhã. Haverá uma forte ruptura estrutural? Qual o modelo futuro?As mudanças, a médio prazo, vão ser estruturais; não haverá um momentum de rotura, mas haverá uma sucessão de “momentos” que levarão a uma redefinição do paradigma de negócio. Alguns desses “momentos” já estão a acontecer...Quais serão os factores de mudança mais importantes?O primeiro factor de mudança está ligado à prestação dos cuidados de saúde, que vai estar cada vez mais centrada no indivíduo e na população, mesmo que não esteja doente. Alguns cuidados tipicamente secundários vão transformar-se em cuidados primários. Olhemos para este exemplo: segundo os números publicados pelo Ministério da Saúde referentes a 2008, o número de cirurgias ambulatórias cresceu exponencialmente. Este fenómeno está relacionado com os factores económicos, mas também porque há novas técnicas de cirurgia e fármacos que nos permitem ir para casa mais cedo. Por outro lado, alguns cuidados primários na dependência das estruturas oficiais de saúde passarão para a esfera individual de decisão (consumidor).Mas isso não implica ter um cidadão mais informado, com mais cultura de saúde?A informação que actualmente ainda está centralizada no médico e nas unidades de saúde vai ter de passar para o próprio doente. Hoje em dia, as pessoas vão à Internet procurar informação sobre saúde e sobre as doenças; o próprio doente pode fazer um diagnóstico e quando vai ao médico já tem uma ideia formada. Concordemos ou não com este fenómeno, há aqui uma mudança de padrão. No passado, sentíamo-nos mal, íamos ao médico e ouvíamos tudo o que o ele dizia. Agora já não é assim.Uma questão ingénua: não serão económicos os motivos desta mudança?Claro que há motivos económicos. Neste momento já há países onde certos medicamentos tipicamente de prescrição médica, estão a passar para OTC. É um processo irreversível.Num futuro não muito longínquo cada um vai decidir – e pagar – se quer controlar o seu colesterol e vai decidir se controla ou não a sua hipertensão. Há aqui um deslocamento do poder de decisão para o consumidor que vai recentrar alguns processos de saúde. São os políticos que querem que isto funcione assim porque estão a ver que não vão ter dinheiro para pagar os custos com a saúde? E a IF também quer que isto seja assim, porque neste momento não tem como produzir novas moléculas? São estas as linhas orientadoras?O falhanço do modelo actual de I&D pode ser medido facilmente e está bem estudado a nível dos EUA. Mas nem toda a responsabilidade é da IF. Os próprios modelos de regulamentação legal do negócio farmacêutico contribuem para um certo castramento da I&D. Por exemplo: o peso da protecção de patente é em geral de 20 anos para qualquer tipo de produto. O regulador deveria discriminar positivamente o tipo de investigação por intermédio da duração das patentes. Para quê? Para influenciar a I&D que se faz, porque, hoje em dia, em termos da patente, é igual investigar a próxima geração de “anti-qualquer coisa” (ganhos marginais) ou estar a investigar uma coisa totalmente inovadora, que pressupõe muitos mais riscos, mas que se traduz em ganhos mais substantivos.Qual o driver da mudança da saúde e da própria política economicista da saúde?Os governos querem passar a bola dos custos. É verdade que o doente está cada vez mais informado e consciente para fazer a sua escolha. Acredito que em 2020 os meus filhos vão ter que tomar uma decisão: vão controlar o seu colesterol ou não? Porque nessa altura já estará “tudo” descomparticipado. É o doente que vai tomar essa decisão, se quer assumir esse risco ou não. E vai ter informação para isso: irá à internet e terá acesso à sua situação de risco cardiovascular, em três minutos. O tempo de o Estado pagar a saúde vai acabar. A ideia de termos alguém que trate de nós é poética e reconfortante, mas economicamente é inviável. Vamos assistir à deslocalização dos cuidados de saúde, que estavam centrados no Governo, e também à mudança da autoridade de prescrição. Há 50 anos, a autoridade da prescrição era inquestionavelmente do médico, mas isso tem vindo a mudar: o farmacêutico tem hoje um papel que em determinadas situações pode ser o de prescritor. A autoridade de prescrição do médico está a decrescer, já não é exclusiva, embora ainda seja dominante. E ainda vai ser dramaticamente mais reduzida. Até agora foi apenas beliscada. Cada entidade pagadora, seja ela o Estado ou uma entidade privada, irá implementar protocolos e prontuários terapêuticos. O médico, enquanto parte de um grupo privado, vai ter de prescrever os medicamentos que estão no software da empresa. Essa empresa, como sistema de saúde, claramente vai negociar junto das farmacêuticas o preço mais baixo. Vai haver uma evolução dramática, que já começou e vai continuar nos próximos anos.Então a prescrição do médico é um assunto meramente financeiro. O objectivo é prescrever não o melhor, mas o mais barato? Não é só uma questão de autoridade, mas uma questão dos critérios utilizados para exercer essa autoridade. Como médico, fui educado para prescrever com duas coisas em mente: 1º a segurança do doente e 2º a eficácia do tratamento. E esses são os critérios que ainda prevalecem nos médicos com mais de 40 anos. Hoje em dia, os critérios, sejam no Estado ou no privado, são: 1º a relação custo-benefício; 2º a relação custo-benefício e 3º a relação custo-benefício.
Com tudo isto acredita que o poder do diagnóstico ainda fique com o médico? Ou no auto-diagnóstico via internet? Será que daqui a 10 anos introduzo a mão numa máquina e ela, através do ADN e de uma análise ao sangue, diagnostica-me?Respondo como médico: acho que dificilmente isso acontecerá. As máquinas integram a informação, mas não integram os valores subjectivos. Acredito que vai haver redefinição da função do médico. Alguns elementos da visão que está a descrever estão a ser expressos de uma forma reducionista em relação ao papel do médico. Posso ter uma pessoa com uma aparência perfeitamente saudável e outra com um aspecto bem menos saudável e a máquina registar exactamente os mesmos valores anormais. O que é que vai fazer a diferença? Há uns largos anos, dizia-me um médico mais velho, quando se começou a reorganizar informaticamente os serviços, que por muita modernização organizacional e tecnológica que haja, vai ser sempre preciso alguém para mudar a arrastadeira ao doente. A evolução tecnológica não substitui o médico. O papel do médico pode, deve e vai ser redefinido. Segundo consta, 90% dos médicos não vêem as radiografias, lêem o relatório dos técnicos. Hoje em dia, o doente também não necessita de ir ao médico para perceber se precisa de aumentar ou diminuir a insulina. O papel do médico passou a ser de um mero técnico?Tudo vai evoluir. A medicina há 50 anos tinha 60 % de ciência e 40% de arte. Se calhar daqui a 20 anos terá 90% de ciência e 10% de arte, mas esses 10% vão ser sempre necessários. Porque os algoritmos têm sempre uma taxa de insucesso. O que faz a diferença é a capacidade de avaliação de dados, que são muitas vezes subjectivos. Não há “dolorómetros” para medir a dor. Há muitos factores subjectivos.O poder de diagnóstico vai sofrer uma evolução: primeiro, o médico era um bruxo, um mágico e um feiticeiro. Depois era um santo. Vieram as análises, as radiografias e as ecografias – passou a existir uma componente tecnológica, houve evolução. Hoje em dia, suportamos os diagnósticos em muita tecnologia, às vezes até demais. O que estás a dizer é perfeitamente possível: é a evolução natural da tecnologia.Mas atenção: apesar de toda a tecnologia que possuímos actualmente, estamos aflitos porque não temos médicos suficientes. A capacidade do médico e a tecnologia, complementam-se, não se substituem. Quais são os impactos que a perda da autoridade de diagnóstico e de prescrição por parte do médico vão ter no próprio Marketing Farmacêutico? O modelo tradicional de Marketing e Vendas baseia-se na identificação daquilo a que a IF chama de potencial de prescrição. É executado com mensagens de vendas de elevada intensidade, assegurada por planos de frequência de visita intensa. Não diria que está morto. Vai sempre haver algum espaço, alguns segmentos onde este modelo, de contacto presencial com mensagem de vendas, vai funcionar. Mas vai ser substituído nos próximos 10 anos por um modelo de prestação de serviços. Vai evoluir para um molde em que o representante da companhia vai ser um prestador de serviços de quem tenha a autoridade de prescrição de medicamentos. Há claramente um exercício de redução do número de DIM’s nos últimos anos e assiste-se à criação embrionária de key account managers ou specialist advisors. São Delegados de Informação Médica com um cariz diferente. Estão preparados para visitar os prescritores, mas também os investigadores ou pagadores, ou os influenciadores da prescrição. Vão diferenciar-se do DIM actual nas capacidades que vão ter, para passar a mensagem de vendas.Mensagem de vendas ou mensagem de preço?Eu diria de vendas. O preço é uma variável importante, mas não é a única. No prazo de 10 anos, a visita médica como nós conhecemos vai deixar de existir. Vai ser substituída pela prestação de serviços adequados às necessidades de cada médico – aquilo a que os ingleses chamam de quality service experience. Vamos deixar de ter vendedores de medicamentos para ter prestadores de serviços. Trata-se de uma mudança de processo: de “vender ao médico” para “trabalhar com o médico”.Será que o médico quer este tipo de visitas ou este tipo de Delegado? Qual a vantagem do DIM?Actualmente, o médico é visitado, quer queira, quer não. O modelo é igual para médicos que têm 65, 50 ou 25 anos. Estamos a tratá-los de igual maneira. Mas o médico que tem 25 ou 30 anos foi educado num ambiente Web e acha a visita médica pouco útil. É um sacrifício estar a ouvir o DIM, quando pode aceder a essa informação no momento que lhe for mais conveniente, pelo meio que preferir. Estar a usar o mesmo modelo para todos os médicos não faz sentido. O médico de 65 anos pode até estar farto, mas gosta da visita porque é um hábito. Foi habituado, nasceu com a visita médica, é um padrão, existe uma componente social na visita médica.Falemos do Delegado de Informação Médica. De Janeiro de 2008 para Janeiro de 2009, o número de DIM’s alterou-se em Portugal?Em Janeiro de 2008, existiam 5500 DIM’s. Em Janeiro de 2009, estimam-se cerca de 5000 DIM’s. As companhias de genéricos deixaram de absorver os excedentes das companhias de éticos. De 2006 a 2008 houve um emagrecimento das companhias de marcas, que foi absorvido pelo fenómeno dos genéricos. Houve um equilíbrio. O ano de 2008 é o primeiro ano de balanço negativo. A duração da visita médica tem-se deteriorado ao longo do tempo?Enquanto responsável da Cegedim Dendrite, posso afirmar que a maior parte das empresas já divide a visita em dois tipos: visita ou contacto. A visita implica, na descrição geral das companhias, apresentação de pelo menos um produto (em geral apresentam três). Nos últimos anos, as condições da visita médica degradaram-se muito, e há muitas visitas reportadas que foram apenas contactos. Ainda estamos muito ligados ao conceito de quantidade de visitas. Mantemos o número de visitas, numa média de 7 ou 8 por dia, mas a qualidade delas é muito inferior ao que era há 10 anos. As métricas da qualidade são mais difíceis de medir.Assim sendo, existe CRM (Customer Relationship management) em Portugal na IF?Existe menos do que devia haver, mas existe. Quer em quantidade quer no perímetro que o CRM devia ter. No passado, um bom DIM tinha o CRM na cabeça e sabia tudo da vida do médico. Agora que há mais informação e mais médicos, é impossível. Em termos de utilização diária o conceito de CRM é pouco utilizado em Portugal. Mas o pecado capital é que não há tempo para basear a decisão na informação existente no CRM. Para decidir se vale a pena ou não fazer um investimento no médico A, quem toma a decisão não consulta a informação, ou porque não está acessível ou porque não tem tempo. Assim sendo, que definição para o Marketing Farmacêutico em Portugal?Em geral, tímido e conservador, com excepções cada vez mais frequentes no passado recente. Há claramente uma diferença de ritmo entre o marketing farmacêutico e o marketing de consumo. Provavelmente escondemo-nos atrás da regulamentação para disfarçar alguma incapacidade e aversão ao risco.Como é possível tomar decisões sem conhecer o cliente?Não devia ser possível. Mas consegue-se sempre tomar decisões. A probabilidade de serem boas é directamente proporcional à intimidade que existe com o cliente. Quanto mais se conhece o cliente, mais probabilidade há de tomar a decisão acertada. Uma das vantagens do CRM é a de centrar o Marketing no cliente. Os meios tecnológicos permitem que a vantagem do face-to-face possa ser transposta para dentro da companhia.Isso leva-me à questão da Segmentação. Depreendo pelo fraco uso do CRM que seja deficitária.Há uma necessidade cada vez maior, com esta mudança estrutural, de segmentar de modo diferente. A segmentação tem sido feita (com honrosas excepções) com base nos critérios mais acessíveis: dados sócio-demográficos, quantidade de doentes que o médico vê, etc. Houve sempre alguma preguiça, intelectual ou financeira, em fazer a Segmentação pelas atitudes e comportamentos, o que já é feito no Marketing de Consumo há muitos anos. São as atitudes e comportamentos que permitem definir estratégias com alguma estabilidade no tempo. Uma pessoa que é inovadora, é inovadora toda a vida. As atitudes comportamentais são inerentes ao indivíduo e não mudam com muita facilidade. O padrão é estável, ao passo que o número de doentes que o medico vê varia imenso. Os critérios quantitativos têm o seu papel, mas não impedem a investigação de critérios qualitativos, como as atitudes e comportamentos.Com este cenário de crise, de mudança, talvez seja preciso fazer reset na cabeça dos marketeers e dos dirigentes da Indústria. Será viável? Tem que ser feito com bom senso. O modelo actual não morreu, mas está a mudar depressa. Há médicos que são ainda sensíveis ao modelo tradicional da visita e, para esses, tem que se manter o modelo. Mas há outros médicos e outros stakeholders que dantes não existiam, nomeadamente os doentes. E como nós vimos, os doentes são cada vez mais responsáveis pelos seus cuidados de saúde. Tem que se começar a comunicar com os doentes. É mandatório.O que se pode então esperar da IF em Portugal?Depende muito da atitude que se vai ter perante as mudanças que vão acontecer. Este momento deveria ser um momento de grande excitação para o Marketing e para as Vendas. Esta crise cria oportunidades e quem antecipar o que vai acontecer é quem vai ter sucesso no futuro.Vamos estar perante uma nova evolução por selecção natural?Nas crises há sempre. Tudo vai ser reconstruído, tudo está a mudar. Há inúmeras oportunidades. Como vou falar directamente com os doentes? E com os médicos? Em que canais? Com que discurso? Está a mudar a autoridade do diagnóstico e de prescrição. Como é que eu vou aproveitar? Claro que vai haver selecção natural, e triunfarão os mais aptos para enfrentar a nova realidade em que estamos a entrar.

ESTUDO DA SEDES REVELA QUE O MAIOR PROBLEMA DA DEMOCRACIA É O DESCRÉDITO DA JUSTIÇA!!!

Uma média de “mais de dois em cada três eleitores consideram que diferentes classes de cidadãos recebem tratamento desigual em face da lei e da justiça” e “a maioria sente-se desincentivada de recorrer aos tribunais para defender os seus direitos”.Este descrédito na democracia enquanto Estado de Direito é a conclusão mais dura e mais crítica para o funcionamento da democracia portuguesa apresentada no estudo A Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos, dirigido por Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e promovido pela SEDES, com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Intercampus.Assim, 82 por cento dos inquiridos dizem estar em desacordo com a afirmação de que “a justiça trata ricos e pobres de forma igual”, 79 por cento estão em desacordo com a ideia de que “a justiça trata de forma igual um político e um cidadão comum” e 49 por cento discorda da frase “os processos judiciais não são tão complicados que não valha a pena uma pessoa meter-se neles”.O estudo será divulgado hoje durante os trabalhos do IV Congresso da SEDES, que decorre no Instituto para a Defesa Nacional, em Lisboa. A SEDES é uma das mais antigas associações cívicas portuguesas, fundada em 1970, e que reflecte e estuda sobre o estado do desenvolvimento da sociedade portuguesa.A análise que agora é apresentada é feita tendo em conta os seguintes critérios: “o gozo de liberdades cívicas e direitos políticos; o acesso à justiça e a igualdade perante a lei; a igualdade de oportunidades de participação política; a percepção de que os eleitos atendem às expectativas e exigências dos cidadãos; a disponibilidade de informação política imparcial e pluralista; o funcionamento das eleições como mecanismo de responsabilização e de representação; a existência de 'freios e contrapesos’ no sistema que impeçam abusos de poder; e a percepção de que as decisões políticas são tomadas sem pressões externas ao processo democrático”.Este descrédito da Justiça é confirmado pelos 37 por cento dos inquiridos, que estão em claro desacordo com a ideia de que “os juízes são independentes do poder político no exercício das suas funções”.Em contraponto com o descrédito da Justiça surge a confiança dos inquiridos na figura do Presidente da República. Perante as questões sobre a capacidade dos vários fiscalizadores do sistema de travarem abusos de poder por parte do Governo, as respostas mostram que os níveis de confiança dos cidadãos se estabelecem preferencialmente com o Presidente. Isto porque apenas 21 por cento dos inquiridos reconhecem essa capacidade ao provedor de Justiça, 37 por cento reconhecem-na ao Tribunal Constitucional e 49 por cento confiam que o Presidente tem essa capacidade.Governo não é autónomoJá quanto à imagem que os inquiridos fazem do Governo e dos partidos e à autonomia do poder político, o descrédito é também grande entre os inquiridos deste estudo.Apenas 14 por cento dos inquiridos concordam com a ideia de que “as decisões do Governo português não são muito condicionadas pela vontade de outros países” e 23 por cento discordam frontalmente desta afirmação e 43 por cento discordam da afirmação de que “o poder político está protegido das pressões do poder económico”.O estudo apresenta também uma importante conclusão no que se refere às razões porque os cidadãos não se reconhecem e não se vêem representados no poder e nos representantes políticos.Classificando este aspecto com o termo “responsividade”, o estudo indica que 60 por cento dos inquiridos discordam da ideia de que os “governantes têm muitas vezes em conta as opiniões dos cidadãos”, 73 por cento não se revêem na afirmação “as pessoas como eu têm influência sobre o que o Governo faz”, 75 por cento discordam da frase “os políticos preocupam-se com o que pensam as pessoas como eu” e 75 por cento das respostas dadas estão em discordância com a ideia de que “quem está no poder não busca sempre os seus interesses pessoais”. Por fim, 74 por cento das respostas afirmam que não há “nenhum tema em comum” entre os que são as prioridades das pessoas e as dos governos.Com tais graus de desconfiança, era quase inevitável que a confiança na democracia seja posta em causa pelos inquiridos. 16 por cento dizem-se “nada satisfeitos(as)” com a democracia, 35 por cento estão “pouco satisfeitos(as)”, ou seja, 51 por cento têm resposta negativa, enquanto 37 por cento estão algo “satisfeitos(as)”, nove por cento estão “bastante satisfeitos(as)” e dois por cento estão “totalmente satisfeitos(as)”.Como foi feito EstudoO inquérito que está na base deste estudo foi adaptado de um inquérito-piloto obtido pelo projecto internacional Democracy Barometer for Established Democracies (DBED), uma parceria entre o Wissenschaftszentrum Berlin für Sozialforschung, na Alemanha, e o National Centre of Competence in Research, na Suíça. Explica Pedro Magalhães no estudo que este projecto internacional, combinando “uma série de indicadores 'objectivos’” com “indicadores 'subjectivos’ – as percepções dos cidadãos –, é feito num quadro de uma agenda teórica que vem sendo desenvolvida há vários anos pelos seus coordenadores, Marc Bühlmann, Wolfgang Merkel e Berhard Wessels (Bühlmann, Merkel e Wessels 2007)”. Em 2008, este projecto passou a ser integrado pelo Consejo Superior de Investigaciones Científicas, em Espanha. Quanto ao estudo da SEDES, o inquérito foi realizado pela Intercampus entre os dias 13 e 23 de Março de 2009. Foram interrogados 1003 inquiridos, representativos da população com 18 ou mais anos residentes no continente. Estes foram seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis sexo, idade (5 grupos), instrução (2 grupos), ocupação (2 grupos), região (7 regiões GFK Metris) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (6 grupos). A informação foi recolhida presencialmente na residência.

"Pacote do Medicamento 2010"(Zé Rui Peixoto)

Está prestes a ser publicado o pacote do Medicamento 2010, um novo pacote legislativo para regulação dos preços e comparticipações dos medicamentos.Para além de medidas expectáveis, como o regresso às margens de 20% para as Farmácias, e 8% para os Armazenistas (embora tal aconteça à custa da Indústria, já que o PVP não será alterado), esperam-se medidas que poderão ter um impacto muito forte na estrutura actual da Indústria Farmacêutica em Portugal.Nos medicamentos inovadores, o fim do princípio da estabilidade, passando a haver revisão anual de preços anual, e o "descongelamento" dos preços de referência, que em muito afectarão o valor da comparticipação, serão as medidas que mais impacto terão.Nos medicamentos genéricos, com a comparticipação a 100%, para pensionistas, dos 5 medicamentos mais baratos dentro de cada Grupo Homogéneo (genéricos ou não genéricos, desde que abaixo do Preço de Referência), bem como a obrigatoriedade de baixa de preço em 5% nos novos genéricos, face ao mais barato anteriormente aprovado, fazem prever uma escalada de preços e lutas comerciais que, parece-me, poderá colocar muitas empresas do Sector em risco. Para já uma conclusão se pode retirar, há empresas cujo modelo de negócio deixa, puramente e simplesmente, de fazer sentido existir.Concordo que o actual modelo não faz sentido, ter 40 marcas de genéricos diferentes numa molécula é irracional e impraticável. Todavia foi nesse sentido que o mercado se desenvolveu, e provavelmente será melhor dar agora um passo atrás que continuar para a inviabilidade. Uma coisa é certa, havia maneiras (bem) mais fáceis de cortar na despesa pública.

Apifarma prevê menos 1500 postos de trabalho dentro de seis meses!!!

Só nos primeiros 15 dias de Setembro, as transacções de medicamentos em Portugal geraram menos 12% de receitas do que em igual período do ano passado, revelou ao i João Almeida Lopes, presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma). Este recuo revela a "desaceleração enorme" do mercado português, sublinha. Para o responsável, a quebra resulta em parte da crise, mas sobretudo das reduções nos preços introduzidas nos últimos meses pelo governo. Nos próximos seis meses, prevê, o último pacote de medidas aprovado esta semana em Conselho de Ministro para reduzir o preço dos medicamentos mais 6%, numa redução total de 13% durante este ano, vai custar 1500 a 2 mil postos de trabalho no sector, sobretudo de técnicos qualificados. Impacto dramático As novas medidas na área do medicamento apanharam o sector de surpresa. João Almeida Lopes diz que tomou conhecimento das alterações pela televisão e questiona a insistência do governo na despesa da saúde e, dentro dela, no mercado do medicamento. "Têm um impacto dramático, que vai afectar toda a cadeia do medicamento. É ignorância pensar que a indústria mantém grandes margens de lucro. Há 20 anos talvez isso fosse verdade, hoje basta olhar para a cotação das empresas na bolsa para ver que tem vindo a diminuir sistematicamente", diz. Um dos sinais da asfixia do sector, sublinha João Almeida Lopes, é a perda de competitividade do mercado nacional. Um estudo da Apifarma revela que entre 2006 e 2009 o número de ensaios clínicos realizados em Portugal diminuiu 21%. No ano passado, Portugal tinha 147 ensaios clínicos activos, metade dos cativados para a Bélgica e menos 32% que os cativados para a República Checa, um dos últimos países a entrar na corrida europeia. Cativava então um investimento de 58,7 milhões de euros, contra os 194,9 milhões do mercado belga ou os 231,4 milhões do mercado checo. "Mais dia menos dia teremos outras companhias a desistirem do mercado português, um mercado pequeno, cada vez mais periférico e onde a legislação muda não só todos os anos, mas quase de dois em dois meses", sublinha João Almeida Lopes.Pedro Pita Barros, especialista em economia da saúde da Faculdade de Economia da Universidade de Lisboa, não acredita que a intervenção do governo afecte o investimento em inovação, uma vez que o mercado nacional é "irrelevante" em termos globais. No que diz respeito ao possível desinteresse da indústria por manter produtos em que o preço baixe muito, o especialista defende que "há que ter em consideração que as decisões das grandes empresas não têm apenas em conta a rentabilidade no mercado português, mas como este afecta os outros mercados, seja por outros países que tomem os preços em Portugal como referência ou porque há o risco de os intermediários se abastecerem em Portugal para venderem noutros países onde os mesmos medicamentos estão mais caros".

IMS realiza estudo sobre o Novo Pacote do Medicamento

A consultora IMS Health realizou um estudo sobre o Novo Pacote do Medicamento. O documento, dividido em quatro partes, analisa o impacto da actualização dos preços de referência, o impacto nos medicamentos com PVP igual ou inferior a 15€ e a alteração das margens máximas de comercialização dos medicamentos comparticipadosNovo Pacote do Medicamento Em Perspectiva A Indústria Farmacêutica em Portugal, avaliada em cerca de 3.500 milhões de Euros dos quais 2.500 milhões correspondem ao mercado ambulatório, apresenta hoje perspectivas de crescimento incertas. As estimativas iniciais que apontavam crescimentos anuais de 0% a 2% para o período de 2010-2013 poderão não se verificar se a proposta legislativa, recentemente apresentada pelo Ministério da Saúde entrar em vigor no segundo semestre de 2010. Esta nova proposta do Ministério da Saúde, no contexto da revisão global do sistema de comparticipações do Estado em medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) inclui, entre outras, seis medidas com impacto estruturante no mercado ambulatório.Estas seis medidas têm necessariamente que ser analisadas em conjunto uma vez que o impacto no mercado decorrerá da interacção das medidas individuais e dos diferentes incentivos fornecidos aos agentes do mercado.Numa primeira análise às principais medidas verificam-se alterações importantes que poderão ter implicações não apenas na despesa decorrente do Estado derivada da comparticipação de medicamentos, mas também ao nível da actual dinâmica competitiva do mercado farmacêutico .O contributo para a contenção orçamental.Embora seja interessante estudar cada medida de per se, o propalado contributo para a contenção orçamental e sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) deverá ser aferido considerando a reunião das medidas em análise .Deste modo, a comparticipação a 100% para os doentes com a Vinheta Verde de medicamentos com os cinco preços mais baixos do grupo homogéneo e abaixo do preço de referência terá impacto a vários níveis. Para o Utente, o acesso a medicamentos gratuitos manter-se-á, ainda que o leque de opções seja mais reduzido na maioria dos mercados. Para o Estado, a diminuição da despesa é esperada uma vez que apenas são comparticipados na totalidade os produtos mais baratos no entanto, o efeito da elasticidade da procura é ainda difícil de estimar. Em alguns casos específicos, isto poderá significar a também a gratuidade de alguns produtos inovadores para este segmento da população, como é caso de algumas formas de apresentação de Augmentin ou Zoloft, a preços de Fevereiro de 2010. Para os laboratórios de genéricos, por outro lado, o facto de fazer parte do “lote de eleitos” torna-se um factor crítico de sucesso incontornável.Por outro lado, a alteração nas regras de formação do preço dos novos medicamentos genéricos diminui a atractividade do lançamento de novos genéricos após a formação do grupo homogéneo o que, em último caso, poderá conduzir a uma diminuição do número de produtos por cada molécula, influenciando assim o panorama das companhias de genéricos a operar em Portugal. Visto de outro prisma, os incentivos para ser o primeiro a entrar no mercado tornam-se ainda maiores. Talvez a medida mais disruptiva do novo pacote do medicamento seja a introdução do conceito de comparticipação fixa. Esta medida não deve ser avaliada individualmente, mas sim em conjunto com a medida de revisão dos preços de referência. A conjugação destas duas medidas tendencialmente permitirá ao Estado diminuir a sua despesa em comparticipações face à situação actual. No entanto, para os produtos com preço inferior preço de referência, a fatia a pagar pelo Estado na realidade irá aumentar face à situação actual, podendo alguns medicamentos tornarem-se inclusivamente gratuitos para o Utente. Com base neste ponto, poderá registar-se um aumento da procura que poderá, em último caso, inverter a tendência de poupança para o Estado. O decreto-lei 65/2007 de 14 de Março proporcionava uma isenção de 3 anos na revisão dos preços a todos os MSRM com preço igual ou inferior a 15€. O fim do congelamento do preço destes medicamentos poderá representar um perda acentuada nos valores de vendas das companhias. Consequentemente, e no que respeita à comparticipação, é expectável que esta diminua a despesa do Estado, assim como o valor a pagar pelo Utente.Por fim, o termo da majoração de 20% para o regime especial poderá ter como consequência uma quebra no consumo de medicamentos de marca por parte dos doentes do regime especial, dado o aumento do valor a pagar na farmácia face à situação actual. Fora do contexto do PEC:Em complemento a estas medidas, o Ministério da Saúde anunciou igualmente a reposição das margens de comercialização dos produtos farmacêuticos ao nível das farmácias e armazenistas, que irão a passar de 18,25% para 20% e 6,87% para 8%, respectivamente, cifras em vigor em 2005.Mantendo-se o preço de venda ao público (PVP) dos medicamentos, o aumento das margens na parte final da cadeia de distribuição será conseguido integralmente às expensas da indústria farmacêutica. Ainda neste enquadramento, importa ainda referir o papel mais ou menos directo que as farmácias poderão vir a desempenhar no sucesso das medidas lançadas pelo Governo. Na verdade, o aconselhamento ao doente do medicamento mais barato (e não somente do Genérico) vai ser crucial para potenciar o sucesso do Novo Pacote do Medicamento. Novos ventos de mudança:Assim, a introdução deste novo pacote de medidas legislativas não deixará indiferente qualquer um dos stakeholders envolvidos: Indústria farmacêutica, Estado e Utente. Para o Estado, apesar de serem estimadas poupanças com as alterações propostas, o real impacto na factura a pagar está intimamente ligada ao eventual aumento do consumo de medicamentos e às dinâmicas associadas a descidas de preço e actualização dos preços de referência.As companhias farmacêuticas inovadoras serão possivelmente as mais afectadas pela esperada contracção do valor do mercado, quer devido à actualização dos preços, quer pela dinâmica introduzida pela diminuição do valor comparticipado (nos casos em que o PVP esteja acima do Preço de Referência). Adicionalmente, estas companhias serão igualmente as mais afectadas pela reposição das margens na cadeia de distribuição de medicamentos uma vez que as práticas comerciais não são comparáveis com as praticadas pelas companhias de Genéricos.Os Utentes, por seu lado, poderão passar a beneficiar de medicamentos mais baratos, ainda que, em alguns casos, o preço a pagar aumente devido ao novo sistema de comparticipação, pelo que o seu poder de influência na escolha dos medicamentos prescritos terá tendência a aumentar. A introdução destas medidas incutirá, certamente, uma nova dinâmica ao Mercado Farmacêutico em Portugal. No entanto, o esperado contributo para a contenção orçamental não parece claro quando analisado o impacto conjunto das medidas propostas. Impacto da actualização dos preços de referência:

A nova proposta do Ministério da Saúde, no contexto da revisão global do sistema de comparticipações do Estado em medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) visa a contenção dos gastos e a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e inclui, entre outras, seis medidas com impacto no mercado ambulatório.A actualização dos preços de referência dos medicamentos genéricos com grupo homogéneo visa ajustá-los à descida generalizada dos preços dos genéricos em 30%, ocorrida em Outubro de 2008. Actualmente, a maioria dos preços de venda ao público (PVP) dos medicamentos genéricos situa-se muito abaixo dos respectivos preços de referência.

Consideremos como exemplo a apresentação 4CPR 70MG de Ácido Alendrónico.

Presentemente, o intervalo de preços do produto oscila entre os €28,69 (medicamento de marca) e os €13,5 (genérico mais barato), sendo o preço de referência €20,58. A actualização do preço de referência desta forma de apresentação implicaria uma redução de 30% até aos €14,41. Isoladamente, esta medida implicaria para o Estado uma diminuição directa na despesa de comparticipação, responsabilidade os fármacos com preços superiores ao preço de referência. Por outro lado, a determinação de um valor fixo de comparticipação para os medicamentos com grupo homogéneo apenas poderá diminuir a despesa do Governo se os preços de referência forem actualizados, pois tal implica fixar os escalões de comparticipação ao preço de referência e não ao mínimo entre o preço de referência e o preço de venda ao público do medicamento, como actualmente se verifica.Voltando ao exemplo anterior: a comparticipação do Estado para o Ácido Alendrónico 4CPR 70MG é de 69% (regime geral). Nesta situação, para um medicamento com PVP de 18€, a não actualização do preço de referência poderia levar o Estado a pagar mais 2,5€ (€12,4 no lugar de €9,9) por caixa.Se ambas as medidas forem consideradas no seu conjunto, a comparticipação do Estado estará fixada nos €9,9, independentemente do PVP do produto. Esta situação é muito gravosa para os produtos inovadores, cujo preço de venda ao público se situará, na generalidade, acima do preço de referência.A combinação destas duas medidas deixa em aberto múltiplas questões: Quantos medicamentos irão passar a ser comparticipados a 100%?; Qual o estímulo no aumento da procura dada a possível gratuidade de alguns medicamentos?; Quais as possíveis estratégias das companhias farmacêuticas para maximizar o valor da comparticipação do Estado?; É possível a uma companhia entrar no mercado com dois produtos genéricos a preços diferentes para beneficiar desta situação?; ou, Com que frequência irão passar a ser actualizados os preços de referência nos grupos homogéneos? A totalidade das medidas contempladas no Novo Pacote do Medicamento levanta certamente muitos outros desafios que importa compreender e estudar em profundidade.
Impacto nos medicamentos com PVP igual ou inferior a 15€:

O decreto-lei 65/2007 de 14 de Março conferia uma isenção de 3 anos na revisão dos preços a todos os medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) com preço igual ou inferior a 15€. O fim do congelamento do preço destes medicamentos poderá ter um impacto nos valores de vendas das respectivas companhias e, por arrasto, no mercado farmacêutico de ambulatório. O preço destes medicamentos passa a ser revisto anualmente com base no sistema internacional de preços nos países de referência. De acordo com as regras vigentes, o Preço de Venda ao Público (PVP) de um MSRM em Portugal é o resultado da média dos Preços de Venda ao Armazenista (PVA) do respectivo produto nos países de referência (Espanha, França, Itália e Grécia), aplicando as taxas e margens de comercialização em vigor em Portugal.Tomemos como exemplo o Pantoprazole 14CPR 20MG, actualmente comparticipado em 69% pelo Estado no Regime Geral.

O PVP deste produto em Fevereiro de 2010 era de 11,89€, estando o preço de referência do grupo homogéneo fixado em 7,34€. Nesta situação, 5,06€ são pagos pelo Estado e 6,83€ assumidos pelo Utente. Actualizando o PVP deste produto para 7,84€ (média dos preços dos países de referência), 5,06€ seriam pagos pelo Estado e apenas 2,78€ pelo Utente, atendendo à lei actualmente em vigor.Considerando as unidades vendidas deste produto em 2009, o decréscimo nas vendas devido à actualização do preço representaria 34% face à situação actual, ou seja 20,6 mil Euros (PVP).Ceteris paribus, a aplicação medida perspectiva uma poupança tanto para o Estado como para os Utentes, valores subtraídos aos ganhos da indústria. Em rigor, esta análise não deverá ser efectuada avulso pois a par da revisão do PVP para medicamentos com preço igual ou inferior a 15€ será também revisto o sistema de comparticipações e os preços de referência.

Com base nestas alterações, o produto em análise passaria a ser comparticipado em 4,11€ pelo Estado (poupança face à situação actual de 1€) e o Utente passaria a pagar 3,73€, o que representa menos 3€ face à situação actual . Em suma, o Estado pouparia 19% em despesas de comparticipação face à situação actual, e o Utente gastaria menos 45% (assumindo o Regime Geral).No entanto, várias questões ficam entretanto em aberto no que respeita às consequências globais do Novo Pacote do Medicamento e às estratégias a serem perseguidas pelos laboratórios farmacêuticos, nomeadamente no que diz respeito à disponibilidade dos pack mais baratos.

Alteração das margens máximas de comercialização dos medicamentos comparticipados:

Uma das medidas propostas no âmbito do Novo Pacote do Medicamento, apresentado pelo Ministério da Saúde no inicio do mês de Março e que visa sistematizar o processo do regime de comparticipações do Estado no preço dos medicamentos, passa pela actualização das margens máximas de comercialização praticadas por Farmácias e Armazenistas. Esta proposta não prevê a modificação dos Preços de Venda ao Público (PVP) dos medicamentos. Actualmente, as taxas de comercialização dos medicamentos comparticipados são 18,25% para as Farmácias e 6,87% para os Armazenistas sobre o PVP deduzido o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).

A nova proposta apresentada pelo Ministério da Saúde prevê a reposição das margens a valores de 2005:- Farmácias - 20% sobre o PVP sem IVA e,- Armazenistas - 8%, sobre o PVP sem IVAA aplicação desta medida aumentará os ganhos destes agentes e obrigará aos laboratórios farmacêuticos a diminuir os Preços de Venda ao Armazenista (PVA) praticados até ao momento. Tal como se exemplifica na Figura 1, para um medicamento com PVP de 28,20€ a aplicação desta medida implicará uma diminuição no PVA do produto em 4,1%, passando a 19,18€ .De uma forma geral, a actualização das margens das Farmácias e Armazenistas vem trazer maiores ganhos para estes agentes, em prejuízo dos laboratórios farmacêuticos, sempre que os PVP dos medicamentos não sejam reduzidos.Embora o Novo Pacote do Medicamento considere a actualização das margens de comercialização sem que haja modificação dos PVP aprovados, a aplicação do resto das medidas contempladas poderá levar, em última instância, a uma descida dos preços dos medicamentos.


Dado que os produtos com PVP igual ou inferior a 15€ passarão a estar sujeitos ao sistema internacional dos países de referência, a Farmácia e o Armazenista podem efectivamente facturar menos, ainda que com margens superiores. A reposição das margens aproxima Portugal das cifras registadas nos países de referência.A comparação das margens praticadas em Portugal com as de Espanha, França, Grécia e Itália revela, ainda assim, algumas diferenças

Por facilidade de análise, vamos considerar o exemplo de um medicamento cujo PVA actual é de 20€:

Para um mesmo nível de PVA, Portugal apresenta o PVP mais barato dos cinco países.Ao nível do Armazenista, a comparação entre os vários países mostra que Espanha é o país com menor ganho (1,52€) em oposição a Itália, onde o ganho é máximo (2,18€). Se a actualização das margens em Portugal entrar em vigor, Portugal passará a ter o segundo maior ganho neste produto ao nível dos Armazenistas.Já ao nível da Farmácia, Espanha é o país onde este stakeholder captura o maior valor (8,36€) em oposição a Portugal, que regista os menores ganhos (4,75€)*. Esta situação atenua-se com as novas margens, ultrapassando a França no exemplo apresentado.Contudo, e de acordo com as restantes medidas do pacote do medicamento, nomeadamente a actualização dos preços, a reposição das margens máximas de comercialização dos medicamentos comparticipados aos níveis de 2005, levanta várias questões tais como: qual o futuro papel a desempenhar pelo sector da distribuição?; Irão estas medidas promover planos estratégicos de venda directa dos laboratórios às Farmácias? Qual será o verdadeiro impacto ao nível da Indústria Farmacêutica desta actualização?; Como serão impactados os Armazenistas e as Farmácias perante novas as estratégias de defesa criadas pelos laboratórios?.



DIM E MÉDICOS UMA RELAÇÃO EM FRANCA MUDANÇA!!!

Nos EUA, são cada vez mais as portas que se fecham aos Delegados de Informação Médica (DIM). Uma grande parte dos médicos opta por receber DIM’s na condição única de marcação prévia e muitos simplesmente recusam-se a ser visitados. A resposta das farmacêuticas lê-se nas inúmeras notícias de despedimentos e desvios de investimento para o marketing online, relata um artigo publicado no American Medical News, que narra a mudança que tem sofrido a relação entre clínicos e DIM’s americanos.
As companhias farmacêuticas – fustigadas por lentas linhas de investigação e desenvolvimento de medicamentos, iminente perda de patentes de blockbusters, uma economia em recessão e um apertado escrutínio das suas relações com os médicos – estão a ser obrigadas a reavaliar a visitação médica.
Os DIM’s lutam para conseguir uma fatia cada vez menor do tempo e atenção dos médicos, ao mesmo tempo que se adaptam às novas regras de conduta profissional nos EUA, que ditam, entre outras coisas, a exclusão de oferta de brindes, como canetas ou blocos.
No seu auge, em 2007, a Indústria Farmacêutica (IF) norte-americana recrutou 102.000 DIM, refere Chris Wright, gestor da empresa de consultoria ZS Associates' U.S. Pharmaceuticals, citado no artigo do American Medical News. Entretanto, esse número já foi cortado para 92.000 e a ZS acredita que, o mais tardar até 2012, desça até aos 75.000, poupando à Indústria 3.6 mil milhões de dólares.
Os resultados do trabalho das forças de vendas têm vindo a ser cada vez menos satisfatórios: em cada 100 DIM’s que visitam um consultório, apenas 37 conseguem deixar amostras dos seus produtos e apenas 20 chegam à fala com o médico, revelou a consultora TNS Healthcare. “O velho modelo de vendas está quebrado, e ninguém sabe como se configurará no futuro”, comentou Peter H. Nalen, presidente da Compass Healthcare Communications. “As companhias farmacêuticas estão a perceber que há outras formas de atingir os médicos, que não passam por bater à porta de quem simplesmente não as quer receber”.
Um em cada quatro médicos que trabalham num consultório recusa-se a receber DIM’s. O tempo “encolhido” e as novas regras da IF estão a “mudar a paisagem de forma bastante drástica”, defende Nalen.
Outro sinal preocupante para as farmacêuticas é que mais de um terço das faculdades de Medicina norte-americanas exigem que os DIM’a façam marcação de visita de médicos ou residentes, de acordo com a American Medical Student Assn.'s 2008 PharmFree Scorecard.
Relação entre DIM e médico está a “arrefecer”
Apesar de a maioria dos médicos continuar a ter uma opinião positiva relativamente aos DIM’s e às farmacêuticas, os sentimentos estão a “arrefecer”: cerca de um em quatro médicos trabalham em locais que recusam a visitação médica. Dos que recebem DIM, cerca de 40% apenas o faz sob marcação prévia. Os valores do “unicamente sob marcação” subiram 23% nos últimos seis meses de 2008, de acordo com um inquérito junto de mais de 227.000 consultórios médicos, representando 640.000 profissionais, publicado em Fevereiro.
O inquérito, conduzido pela empresa de profiling médico, SK&A Information Services Inc., não procurava determinar os motivos que levam os médicos a tratar os DIM’s com frieza, mas os consultores médicos e da IF afirmam que os médicos se sentem cercados pelo número de DIM’s que visitam os seus consultórios e lhes ocupam tempo precioso numa época de crise.
Um estudo da TNS, realizado no ano passado e que envolveu mais de 1.500 médicos, revela que assistiu-se a uma ligeira quebra na qualidade das relações entre médicos e DIM. Os comentários “boca-a-boca” negativos sobre a IF aumentaram de modo acentuado entre os clínicos e o denominado “índex da resistência do mercado” cresceu 62% no último ano, revelou a TNS.
A controvérsia em torno dos medicamentos Vioxx®, Avandia® e Vytorin® parece ter contribuído para deixar os médicos mais cépticos relativamente à IF enquanto fonte de informação, explica Jerome L. Avorn, professor de Medicina na Harvard Medical School, em Massachusetts.
“Os médicos estão cada vez mais preocupados com os discursos de venda dos DIM, por acharem que estes não lhes contam a história completa”, diz Avorn, autor do livro, publicado em 2004, “Powerful Medicines: The Benefits, Risks, and Costs of Prescription Drugs”.

INDUSTRIA FARMACÊUTICA:PROJECÇÕES DA IMS PARA PRÓXIMOS 10 A 15 ANOS

A IMS divulgou um estudo sobre as alterações que poderão ocorrer na Indústria Farmacêutica (IF) nos próximos 10 a 15 anos. Numa apresentação realizada em Londres, os representantes britânicos da empresa falaram sobre as suas projecções para o futuro da área, noticia o site espanhol PM Farma.
Robin Arnold, vice-presidente da divisão Strategic Decisions Group da IMS referiu que "a IF proporcionou uma grande inovação em termos dos produtos mas não no que toca a modelos comerciais", reconhecendo que nos últimos 30 anos a maioria dos modelos comerciais das companhias farmacêuticas não sofreram mudanças, uma vez que estes tiveram sucesso e geraram lucros para os seus accionistas.
No entanto, defende, nos dias de hoje as empresas precisam de encontrar novos modelos comerciais: "A IF precisa de ter em conta quatro questões para se reinventar: Quem é o cliente? O que é o produto? Qual é o papel da inovação? Quem é a concorrência?", disse o representante da IMS.
Arnold sugeriu que uma agenda estratégica para o sector deve considerar efeitos imediatos, num período de três a cinco anos, mas também um período a longo prazo. Os efeitos imediatos são as fusões e aquisições, redução nas vendas, custos administrativos, aposta na I&D, optimização da cadeia de abastecimento, aumento de produtos licenciados em determinados mercados, aumento de parcerias com empresas de biotecnologia e optimização de carteiras de patentes.
A prioridade para os próximos três a cinco anos será "obter o máximo perante aquilo que temos", objectivo que será alcançado através da solicitação de carteiras de propriedade intelectual, adopção de novos modelos comerciais, expansão para os mercados emergentes e centrar a I&D em várias áreas médicas, explica Arnold.
Para os próximos 10 a 15 anos, o objectivo será "fazer as coisas de forma diferente", apostando na medicina regenerativa, reposicionando a empresa numa cadeia valiosa de saúde e reinventando a carteira corporativa, explica.
Um elemento chave para este realinhamento das companhias farmacêuticas é que se considerem como prestadores de soluções para a saúde, mais do que simples vendedores de medicamentos, explica Arnold.
Murray Aitken, vice-presidente da divisão Healthcare Insight da IMS, fez uma exposição sobre o impacto da situação económica actual e os desafios que a recessão coloca ao modelo farmacêutico em vigor. Aitken avançou que "espera-se que todos os mercados maduros entrem em recessão em 2009". Os EUA, Reino Unido e Alemanha foram os primeiros países a sofrer de forma mais profunda este impacto. A última projecção da IMS para 2009 indicava que o mercado japonês ia registar um decréscimo de 5,9%, o norte-americano 3,1% e que o Reino Unido, a Alemanha e Espanha iriam continuar a sofrer reduções em 2010.
Por outro lado, o responsável da IMS avançou que os mercados da China e a Índia deverão crescer durante este ano, sendo que apenas a Coreia do Sul deverá registar uma diminuição de 10%.
As estimativas apontam para que o mercado farmacêutico global cresça entre 2,5% e 3,5% em 2009, abaixo das previsões anteriores, que apontavam para um crescimento entre os 4,5% e os 5,5%.
O director da IMS, David Campbell, falou sobre os mercados emergentes, explicando que estes mostram sinais positivos de expansão a curto prazo, especialmente quando equiparados às economias maduras. "Estamos confiantes que o crescimento nestes mercados continue a ser significativo e estes deverão duplicar de tamanho durante os próximos cinco anos", disse.
Campbell prevê que em 2013 a China poderá tornar-se no terceiro mercado farmacêutico a nível mundial; o Brasil continuará a crescer rapidamente e pode ganhar a oitava posição nesta tabela, à frente do Canadá e Reino Unido. A Turquia e a Rússia também poderão ganhar destaque nos mercados emergentes, podendo assumir o 12º lugar e o 16º lugar, respectivamente, durante os próximos quatro anos.

A indústria farmacêutica e os USA exportam as suas loucuras…

A quinta versão do Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-V) irá ser publicado em 2013. A lista das doenças mentais, desta “biblia” da psiquiatria, tem vindo a ser aumentada pouco a pouco, ao ponto que hoje em dia, seguindos estes critérios, metade da população está mentalmente doente.
Patrocinada pela indústria farmacêutica, desejosa que toda gente tome medicamentos, são a próprias emoções humanas “normais” que estão a ser tidas como patológicas.
Alguns exemplos de “loucuras”:
Gosta de sexo? Talvez sofra de “hipersexualidade”. O seu fillho tem acessos de raiva três ou mais vezes por semana? Então sofre de “grave desregulamento do humor”. Gosta de beber café? Cuidado porque talvez sofra de “adição”.
Também tem a possibilidade de prever se o seu filho irá sofrer de uma qualquer alteração psiquiatrica na idade adulta, através do “sindrome do risco psicótico”, isto quando estudos mostram que 70% dos adolescentes qualificados de risco, não desenvolvem qualquer alteração na idade adulta.
Em contrapartida aparece o “transtorno parafílico coercivo” que afecta as pessoas que se sentem atraídas ou procuram a estimulação sexual forçando a relação sexual em três ou mais pessoas sem o seu consentimento. Em tempos, isto chamava-se violação! Esta mistura entre as categorias jurídicas e o diagnóstico psiquiátrico não parece muito saudável. De sublinhar que, além da curiosidade do número de pessoas aqui requerido, a parafilia só por si não necessita de tratamento enquanto que o facto de se acrescentar o termo “transtorno” já faz com que o necessite.
Na altura em que os homosexuais já conseguiram sair da lista de doenças mentais, e em que os assexuados estão prestes a sair, os hipersexuais estão quase a entrar.
Os problemas que se colocam aqui é a necessidade de medicalizar as emoções e de saber quem decide do limite entre doença e normalidade.
Com mais de 300 doenças no antigo DSM (IV), calcula-se que com tais critérios 50% da população ocidental sofre de uma qualquer doença psiquiátrica. Este novo DSM (V) vai acrescentar ainda mais doenças. Um dia, vamos chegar ao ponto de ter de tratar a agora minoria da população antigamente tida como “normal”.
O ideal, era sermos todos “loucos”.
Tudo isto não é inocente. O DSM é editado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) e os estudos estão a cargo do American Psychiatric Institute for Research and Education (APIRE) dependente da APA. O financiamento desse instituto é feito pela indústria farmacêutica como a Jansen, Eli Lilly, Astra Zeneca, Pfizer, Merck, … os mesmo laboratórios que mais tarde vão comercializar os medicamentos com vista ao tratamento de todas estas alterações psiquiátricas.
O próprio autor principal do DSM, nos últimos três anos recebeu dinheiro de 13 dessas empresas. 95 dos 170 especialilstas que elaboraram o DSM-IV tinham ligações com vários laboratórios farmacêuticos e 100% dos especialistas que chefiavam os grupos de trabalho referentes a “alterações do humor” e “alterações psicóticas” tinham ligações financeiras com essas mesmas firmas.
Justamente são essas patologias que mais necessitam de psicotropos e antipsicóticos antigindo as vendas dos primeiros 20 mil milhões de Dólares anuais e os segundos 15 mil milhões de Dólares. Quanto maior for a lista de doenças consideradas patológicas maior serão os benefícios.
Fonte: Pharmacritique

Menos Tempo e Maior Impacto: Gerir a Visita Médica em Contexto Desafiante(Paula Neves)

A visita Médica é, cada vez mais, um momento repleto de desafios. Se questionarmos os Delegados de Informação Médica (DIM) sobre quais os maiores desafios do seu dia-a-dia no terreno, a sua resposta será muito seguramente o aumento da concorrência e a reduzida disponibilidade dos Médicos. O aumento da concorrência significa, na prática, que um Médico pode ser visitado semanalmente por vários DIM's, sendo que cada um aborda vários produtos, com mensagens científicas diversas e os seus pedidos de prescrição. Façamos as contas: se um Médico receber apenas quatro DIM num dia, e estes lhes referenciarem três medicamentos cada um, se o cenário se repetir três vezes numa semana, são 36 mensagens diferentes neste período. Agora, duplique-se ou triplique-se este valor, e teremos o número de pedidos de prescrição com que o Médico foi “assediado”… Numa semana.
Por outro lado, as condicionantes no acesso aos Médicos fazem com que um número crescente de DIM se veja forçado a encontrar alternativas de contacto com os clínicos. Visitas de pé, à porta do gabinete, no corredor do Hospital ou mesmo no parque de estacionamento do Centro de Saúde, já não são novidade para nenhum dos Profissionais da Indústria. Nalguns casos, são mesmo a regra. A excepção são as visitas marcadas, em que o Médico tem, à partida, mais tempo para receber o DIM.
Neste contexto, verdadeiramente desafiante, de que forma pode o DIM optimizar a sua visita? Como gerir a sua interacção com o Médico para gerar impacto e garantir resultados?
Quando os Profissionais de Saúde permitem algum tempo das suas agendas muito ocupadas para as visitas dos DIM's, esperam obter algum valor como contrapartida do tempo que despendem. Por seu lado, os DIM's necessitam compreender melhor os interesses dos Profissionais de Saúde, porque logo que tenham conhecimento deles, têm a oportunidade de fazer recomendações que providenciem valor e incrementem a relação. Os interesses/motivações dos Médicos podem ser de dois tipos: Motivações Pessoais e Motivações de Tarefa. Os Motivos de Tarefa podem ser definidos como os motivos lógicos, práticos e funcionais que levam um dado Médico a prescrever. Encontram-se no domínio do racional. Podem incluir: necessidade de evidências, dados objectivos, operacionalização de algo, informação quantitativa, etc. São, de modo geral, as motivações que o Médico expressa com maior facilidade na sua argumentação, durante a visita do DIM.Por outro lado, as motivações pessoais são as preferências pessoais e individuais que estimulam o Médico a prescrever um determinado medicamento ou a realizar determinada terapêutica. Os motivos pessoais são normalmente de natureza psicológica, interior. Pela sua natureza, são os mais intangíveis, no sentido em que mesmo um apurado diagnóstico de necessidades nem sempre é perceptível este nível de motivações. Um Médico com maior facilidade partilhará as suas motivações pessoais com um DIM em que confie e reconheça credibilidade.Nesse sentido, é fundamental que o DIM tenha a capacidade, a perspicácia e o discernimento para tocar nos “botões da sensibilidade” do Médico de forma a ganhar a sua confiança. Só assim o Médico lhe revelará as suas motivações pessoais e a relação interpessoal é fortalecida. À medida que a relação entre o Profissional de Saúde e o DIM fica mais forte, este último possui todas as condições necessárias para implementar com eficácia a sua estratégia de marketing e pode mesmo tornar-se num conselheiro de confiança do Médico que fornece opções valiosas que influenciam as decisões.

Médicos e laboratórios farmacêuticos: uma medida para acabar com os conflitos de interesse(S. Saul)

As entregas de almoços gratuitos em consultórios médicos, juntamente com aquelas ubíquas canetas com logotipos de laboratórios, se tornaram símbolos dos extensos laços financeiros entre médicos e a indústria farmacêutica. E há evidência de que ela influencia que medicamentos são prescritos.Mas cresce a pressão contra os presentes e outros conflitos de interesse potenciais, um esforço que ganhou força no ano passado quando um grupo de médicos influentes condenou os arranjos financeiros entre médicos e laboratórios farmacêuticos no "The Journal of the American Medical Association". Na terça-feira, um novo esforço está marcado para ser anunciado pela Community Catalyst, um grupo de defesa de pacientes com sede em Boston, e pelo Instituto da Medicina como Profissão, um grupo de pesquisa da Universidade de Columbia.Com um subsídio de US$ 6 milhões do Pew Charitable Trusts, as organizações planejam uma campanha nacional pedindo restrições nas interações entre médicos e laboratórios farmacêuticos, além de pedir aos médicos que baseiem suas prescrições mais em evidências médicas do que em marketing."Se você está na sala de espera quando estes almoços chineses são entregues no consultório, isto gera dúvidas sobre se as decisões são baseadas nas melhores evidências científicas sobre o medicamento ou se o camarão sichuan tem algo a ver com a prescrição", disse Jim O'Hara, diretor administrativo de iniciativas da Pew.A industria farmacêutica gasta US$ 12 bilhões por ano com marketing junto aos médicos, com grande parte de tal dinheiro na forma de amostras grátis entregues nos consultórios, freqüentemente acompanhadas de almoço para todos os funcionários. Quando os sistemas de saúde da Universidade de Michigan proibiram tais almoços em 2005, eles calcularam que os almoços totalizavam US$ 2,5 milhões ao ano. Os medicamentos gratuitos são amostras dos produtos de marca mais novos e mais caros. A indústria farmacêutica espera que com o início do tratamento com as amostras grátis, os pacientes manterão a medicação mais cara em vez de utilizarem o genérico mais barato. E há evidência de que os médicos que mantém um relacionamento com a indústria farmacêutica prescrevem mais medicamentos caros.A nova iniciativa, chamada de Projeto Prescrição, deriva de um artigo publicado no "The Journal of the American Medical Association", em janeiro de 2006, na qual uma coalizão de estudiosos e médicos propôs que centros médicos acadêmicos de todo o país tomassem a iniciativa de restringir as interações entre médicos e a indústria de saúde. Vários centros médicos, incluindo os de Yale, da Universidade da Pensilvânia e de Stanford, anunciaram tais restrições. O Projeto Prescrição visa disseminar tais restrições para outros centros médicos acadêmicos, entidades de médicos e de terceiros envolvidos.Alguns reitores de escolas de medicina relutam em impor tais restrições, temendo que perderão dinheiro de pesquisa, segundo David J. Rothman, um autor do estudo do ano passado e que também é presidente do Instituto da Medicina como Profissão. "Eles dizem: 'Se fizermos isto, nós perderemos um terço de nosso corpo docente. Eles irão para locais com menos restrições; se fizermos isto, nós afastaremos a indústria farmacêutica e haverá uma retaliação'", disse Rothman.Um dos planos do grupo é documentar o impacto das mudanças em Yale, na Universidade da Pensilvânia e em Stanford. "Os laboratórios farmacêuticos deixarão de fornecer dinheiro de pesquisa para a Penn (Universidade da Pensilvânia)?" ele disse. "Eu não acredito que isto acontecerá."A meta da organização não é proibir subsídios para pesquisa ou consultorias, mas limitar presentes, dinheiro para viagens, palestras e "ghostwriting" (textos de autores fantasmas), encorajando ao mesmo tempo prescrições baseadas em evidências médicas."Os presentes dados trazem consigo a sensação de necessidade de retribuição", disse Rothman, que leciona medicina social na Columbia."Nós não estamos dizendo que você está sendo subornado", ele acrescentou. "Nós estamos dizendo que você está recebendo presentes. Parte deles pode ser uma estímulo financeiro. Mas parte deles é psicológico ... 'Bem, eles me enviaram para Las Vegas, o medicamento deles é tão bom quanto os demais, por que não dizer uma forma de obrigado'."

"Este é um ano de Peste Negra para a Indústria Farmacêutica"(Jorge Lemos)

Formado em Gestão e Administração pelo INSEAD, Jorge Lemos é actualmente Presidente da IMS. Foi nesta multinacional que começou a sua carreira profissional na Indústria Farmacêutica, em 1979, como Product Manager. Em 1981, ainda na mesma empresa, foi promovido a Marketing & Sales Manager e rapidamente chegou a Maniging Director da IMS Portugal, em 1983, cargo que ocupou até 1995. Entre 1994 e 1995 foi também o European Project Leader do IMS Corporate Change Programme. Tornou-se Area Managind Director da IMS Health UK & Ireland em 1995, e European Board Member, até 1999, ano em que saiu da IMS para criar a Azyx Internacional, em 2000. Em 2003 criou também a JL Consulting, onde ocupou o cargo de Management Consultant e em 2004 regressou à IMS para ser o Director da divisão de Saúde Pública da região da EMEA. Em 2007 fundou a Splitcom e a Veercut, empresas de soluções para forças de venda e soluções de CLM. Em Março de 2009 consolidou a sua posição na IMS; tornando-se o presidente da IMS Health Portugal.

No início do terceiro trimestre de 2009, como vê a situação do mercado farmacêutico em Portugal?
2009 é o primeiro ano em que a Indústria Farmacêutica (IF) está a sentir drasticamente a crise que já se anunciava nos últimos dois anos. O mercado está francamente negativo. A quebra está na ordem dos 6%. Tudo indica que a situação não vá melhorar, o que não vai de encontro com as expectativas de crescimento que a IF tinha vindo a alimentar nos últimos anos. Várias medidas, como a alteração da forma de fixação dos preços e a descida do preço dos genéricos, têm contribuído, em paralelo com a crise económica, à redução do consumo, que tem afectado o desempenho da indústria. Este ano é o princípio da viragem que inevitavelmente vai acontecer em termos da performance do mercado farmacêutico, que era quase considerado imune à crise. As pessoas têm dificuldades económicas e têm menos poder de compra, mesmo em relação à saúde as pessoas fazem sacrifícios e têm reduzido o consumo de medicamentos. Este é um ano de peste negra para a IF.No ano passado, fomos de férias e quando regressámos tínhamos uma descida de 30% do preço dos genéricos. Este ano devemos esperar novas medidas, sendo que se aproximam as eleições legislativas?Penso que não, o Governo já anunciou todas as medidas que tinha a anunciar. Penso que a última terá sido a dos medicamentos genéricos grátis para pensionistas com rendimentos abaixo do salário mínimo nacional, que é uma medida que lhes vai garantir alguns votos. Agora há outras situações em que já não há margem de manobra.Será uma medida possível de se manter após as eleições, em termos de encargos financeiros?É provável que tenhamos aqui um tipo de “sindroma das SCUTS”. É uma coisa que é óptima mas é duvidoso que seja sustentável. A conjuntura económica é péssima...Será que o Governo vai atacar os preços para tentar manter essa medida?O Governo tem conseguido algumas pequenas vitórias na gestão do orçamento da saúde e dos gastos em medicamentos. Penso que vai depender muito de quem vencer as eleições, da política de saúde do novo Governo. Ainda não se sabe muito sobre as políticas eleitorais e as propostas da oposição. Penso que é por ai que a situação pode mudar neste momento.Vamos à questão das margens: o Governo pode lavar as mãos das margens e deixar para quem distribui e vende medicamentos decidir?Houve um recuo em termos tácticos ao protelar essa discussão. Uma primeira discussão pública mostrou que só havia um interveniente a apoiar essa medida: o presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF). Nem a distribuição nem os fabricantes estavam interessados nisto. Fala-se agora em voltar ao sistema antigo (20+10) para contentar o sector do retalho (farmácias). Se esta ideia avançasse, seria uma situação única na Europa. Penso que vai ser complicado os três intervenientes no mercado entenderem-se e que haja uma situação de equilíbrio em que todos ganhem. Não vejo grande futuro para essa medida.Por falar em coisas únicas… Falemos da Associação Nacional das Farmácias (ANF) e da verticalização do sector.Essa é mais uma das originalidades em Portugal. A ANF, ao longo de 30 anos, tem tido uma actividade interessante, intensa, activa. Penso que foi longe demais nesse esforço, como, por exemplo, ao envolver-se na distribuição ou ao desenvolver um sistema que gere toda a parte de informação das farmácias, que funciona como uma rede fechada que não permite a comunicação com o mundo exterior. Mais recentemente envolveu-se também no mercado dos genéricos. A ANF, tendo produtos de marca própria, vai obviamente distorcer a concorrência. Isso é óbvio e penso que todas as empresas desse mercado estão preocupadas com a situação. E se juntarmos a esse puzzle a mais recente peça de intervenção que é o controlo da informação - toda a informação gerada pelo sistema vai ser tratada e comercializada por uma entidade da ANF - dá-se uma verticalização completa que vai certamente condicionar o entendimento e a imagem do mercado farmacêutico em Portugal. É quase um ataque real à concorrência?No nosso entendimento é. É uma clara situação de abuso da posição dominante. E não havendo alternativas idênticas para o sistema informático que a ANF criou e que as farmácias em Portugal utilizam, há uma ou duas empresas que tentam sobreviver oferecendo uma solução técnica, mas não têm expressão e isso condiciona o mercado.Os laboratórios vão comprar dados do mercado a uma companhia de genéricos?Sim, vão comprar dados a uma companhia de genéricos que é concorrente deles. Há aqui uma certa promiscuidade nesta relação.Não deixa de ser interessante… A IF está a pôr o negócio nas mãos do lobo?É evidente. Um dos problemas é a proliferação de companhias de genéricos. Há mais de 60 em Portugal. O que é uma aberração se compararmos com a estrutura do mercado. Se quisermos um exemplo, no outro extremo da escala temos a Dinamarca que tem três empresas, todas lucrativas, completamente distintas e que conseguem preços bastante inferiores dos que são praticados em Portugal. E é este conflito que as empresas que actuam no mercado português vão ter de resolver nos próximos tempos. É insustentável concorrerem com uma empresa da ANF no mesmo sector. É difícil porque a concorrente domina a distribuição. Há sempre uma grande desvantagem em termos de mercado. É uma luta desigual.Um laboratório vai dar as informações da sua estratégia ao concorrente? Não é uma antítese à lei do mercado?É. É uma aberração em relação ao funcionamento livre do mercado. A entidade da ANF vai ter acesso a tudo, ou seja, vai saber quando os concorrentes da Almus implementam uma estratégia comercial. E pode fazer mais do que isso: podem perceber se a estratégia está a correr bem, ao fazer monitorização.É um harakiri?Não sei se as empresas que estão no mercado têm consciência disso. Mas penso que assim que estiverem no terreno vão confrontar-se com essa situação, porque a sua sobrevivência do ponto de vista económico está a ser atacada. Até porque quem tiver esse conhecimento global pode actuar cirurgicamente e causar danos aos concorrentes.
Recentemente assistimos a um confronto entre João Cordeiro, presidente da ANF, e Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, em que práticas comerciais menos adequadas de alguns laboratórios foram reveladas na TV, pelo presidente da ANF.
As companhias não correrão o risco de verem a informação que fornecerem voltar-se contra elas, tendo a ANF essa informação?
Mais uma vez é a questão do domínio do sistema de informação praticamente a 100%. É perfeitamente possível identificar todas as campanhas, promoções, todos os acordos entre os laboratórios, os fabricantes e os grossistas… por onde circula toda a informação. A partir daí é possível tudo ficar a descoberto.
Há uma coisa de que não estamos a falar. É que este player do mercado sabe também quem prescreve o quê, o que permite perceber na totalidade o que se passa no mercado. Pela primeira vez uma entidade tem tudo na mão.
Pode este facto ser atractivo para as companhias que queiram alinhar com a ANF?
É perfeitamente viável, ao recolher informação sobre a prescrição e o prescritor e os produtos que foram prescritos, também se monitorizar este tipo de informação e de comportamentos em relação aos médicos. E mais uma vez todo este movimento envolvente tipo polvo vai permitir controlar mais este player do mercado que é o médico e condicionar o seu comportamento, as acções e as estratégias de marketing que estão por trás.
Mas do ponto de vista estratégico, ter uma companhia como a Almus e saber isso tudo pode permitir à ANF agir tipo snipper; perceber os pontos fortes da concorrência e aniquilá-la.
As companhias têm consciência disso?
Penso que não. Ninguém ainda tem consciência plena das consequências que podem daí advir nem das distorções que se vão traduzir no mercado.
Isto leva a uma questão: a ANF vs IMS. Fomos confrontados com a ruptura entre as duas empresas.
O que aconteceu?
O que aconteceu foi que a ANF e a IMS foram parceiras de negócios durante quase 20 anos (fui eu que iniciei esse processo) e sempre foi uma relação com alguns altos e baixos, principalmente por uma certa atracção quase fatal que a ANF teve em controlar a informação no mercado, nos últimos anos. Em 2004, reformulou-se o acordo que existia entre a parceria e em 2006 evoluiu para uma relação mais estreita, uma parceria de negócio, que pensámos que seria o modelo ideal, juntando as competências que as entidades tinham para servir o mercado de uma forma melhor, de acordo com as novas necessidades. Mas inesperadamente, no final de 2008, houve uma alteração dramática e completamente irracional ao conceito económico-financeiro. Essa alteração foi feita à revelia do mannagment europeu, e revelou ser incomportável e insustentável. A partir daí houve uma fase de negociações intensas para se reformular esse acordo, mas não se conseguiu chegar a um consenso. A ANF pôs então fim à relação após algumas rondas negociais. O que nos levou também a concluir que provavelmente seria uma decisão estratégica que a ANF já tinha em mente, para finalmente assumir o mercado da informação. E agora estamos de relações cortadas e são nossos concorrentes. O ex-director-geral da IMS é agora o director-geral da empresa de estudos de mercado da ANF. Não consigo encontrar nenhuma lógica racional na alteração de contrato de 2006 para 2008. Em termos dessa situação concreta do novo director geral da ANF e ex-director geral da IMS, provavelmente foram buscá-lo pelo seu conhecimento do mercado e do negócio.
Como é que a Apifarma olha para esta situação?
Temos partilhado informação, as nossas preocupações em relação ao abuso da ANF, à sua posição dominante e à tentativa de dominar o sector de forma verticalizada. Por outro lado, temos tido todo o apoio por parte da Apifarma, que tem expressado preocupação em relação à verticalização do sector.
A IMS deixou de poder fornecer os dados de sell out à IF. As companhias irão agora buscar esses dados à ANF?
A IMS de momento tem capacidade para responder à oferta desta nova empresa do grupo ANF. A informação em si é importante, porque elimina algumas distorções que existem a montante da distribuição, de natureza comercial, os preços, entre Portugal e outros países, e alguma exportação. Tem a ver também com alguns problemas que existem decorrentes da grande concorrência em termos da distribuição, problemas de compra, devolução. O que é que as empresas farmacêuticas vão fazer em relação a este novo paradigma? Vai ser interessante de analisar. Algumas empresas, por uma questão de consistência e princípios éticos, recusarão este tipo de informação. Por outro lado, há outras que apostam muito em estratégias de curto prazo e podem sentir-se tentadas a tirar partido deste tipo de informação. Mas se não pensarem no preço que vão pagar a médio prazo, por compactuarem com a concorrência, podem ver o reverso da medalha e conhecerem um impacto negativo.
Azyx: o Jorge saiu da IMS para a Azyx e agora a IMS foi buscá-lo para a nova guerra…
A Azyx tem um projecto interessante e desafiante. Bonito mesmo. O desafio era, tendo os genéricos e tendo a distribuição, conseguirmos provar ao mercado que era possível fazer coisas diferentes para ajudar os nossos clientes a terem sucesso. Foi assim que nasceu o projecto da Aziy e depois houve a fusão e foi integrada na IMS. A IMS veio convidar-me para ajudar a resolver esta crise que estamos agora a viver devido à minha visão de outsider. A IMS seguramente vai ter uma dinâmica e um comportamento tipo Azyx para responder a este novo player no mercado, esta empresa da ANF que está alicerçada numa fonte de informação única e poderosa, e está à partida viciada em relação à forma de trabalhar e comercializar.
Vamos esperar um novo modelo da IMS?
A IMS tem evoluído bastante nos últimos anos e penso que o primeiro abanão que sofreu em relação à sua cultura, o primeiro ataque, foi realmente criado pela Azyx A partir daí mudaram algumas coisas, nomeadamente em termos de oferta e de posicionamento. Agora estamos de novo numa fase em que temos de responder rápida e claramente aos nossos parceiros da IF e da Saúde e realmente a tendência vai ser apostar em serviços de valor acrescentado, utilizando o know-how e todo o conhecimento acumulado da IMS, uma multinacional presente em mais de cem países. Temos um reportório de informação e de conhecimento e estamos a fazer um esforço realmente muito grande e a utilizar este conhecimento para aprendermos e para fazermos evoluir o modelo de serviços que prestamos aos nossos clientes e parceiros. Por isso, neste momento não podemos adiantar muito mais, mas estamos realmente a trabalhar para lançar novos serviços que vão ajudar a compreender melhor como funciona o mercado e suportar as necessidades diferentes do mercado.
Vamos voltar à questão do sell out – será que tem ou passará a ter tanto interesse?
O sell out tem ou terá tanto interesse pelo facto de o originador desse serviço ser parte interessada desse negócio. A partir daí, tudo está distorcido e tudo pode ser posto em causa. As empresas no mercado, em termos de informação de referência, obviamente podem continuar a trabalhar com a metodologia que a IMS em termos institucionais utiliza ou em termos pontuais podemos combinar esse tipo de informação com outras técnicas que nos permitam originar, por um lado, questões relacionadas com a projecção e, por outro lado, outros factores, desde o fabricante até ao vendedor, factores esses que resultam de uma certa agressividade comercial que existe. Se conseguirmos, como vamos conseguir gerir, continuará a ser uma excelente base de trabalho para as empresas farmacêuticas.
Sendo o sell out uma necessidade mais para o DIM, e estando a IF a viver um paradigma em que as equipas são cada vez mais reduzidas, o sell out assume assim importância assim tão grande?
Não. A importância vai diminuir rapidamente. Em termos de IF, o modelo de alta frequência de contacto com o médico vai ser substituído por um modelo em que a adopção de uma terapêutica vai estar muito mais em função de necessidades, critérios definidos pelo Ministério da Saúde e pelas próprias unidades de saúde e que vai ser em função do custo/benefício.
Vamos mesmo ter um modelo completamente diferente?
Sim, todos os estudiosos nesta área apontam nesse sentido. Há mercados, como nos EUA ou mesmo na Europa, em que as mudanças drásticas nas forças de vendas obrigaram à adopção generalizada do key account manager (KAM) em contraponto ao delegado de informação médica (DIM) e esta nova função gera um negócio apreciável porque tem realmente de negociar contratos com as entidades na área da Saúde, o que vai levar a um efeito secundário que é a forma como se comunica. Ou seja, a comunicação entre a IF e a classe médica - e com os gestores das unidades de saúde - nunca vai acabar. Vai é mudar a forma de comunicar com estes alvos. Claro que a utilização das novas tecnologias vai ter um papel fundamental para a criação, distribuição e monitorização dessa comunicação.
Podemos esperar ver a IMS nessa área?
A IMS está sempre na linha da frente no que toca à inovação e, pelo menos enquanto eu for responsável, vamos sempre apostar na inovação. Por isso, estamos sempre à procura de estabelecer parcerias e alianças, de encontrar parceiros que nos ajudem a dar saltos no tempo em termos de dispor de meios mais atractivos e recentes para realmente chegarmos aos nossos destinatários e podermos não só recolher informação, como tratar, distribuir o conhecimento resultante dessa informação e ajudar todos os nossos parceiros a desenvolver todas as actividades de uma forma mais eficiente.
É essencial saber o que o médico pensa. Essa é também uma das áreas mais críticas da IMS.
Pensa valorizar esta área?
Sim. Tudo o que tem a ver não só com o médico mas com o doente. Toda a informação que se possa recolher, tratar e analisar em função do comportamento do médico face ao doente é extremamente importante, para se perceber a relação entre diagnóstico e terapêutica. Por outro lado, é também essencial perceber todo o tipo de mensagens e informação que influencia a adopção de uma terapêutica. O exponent tentava medir porque é que um médico escolhia um determinado produto em relação a outro. Obviamente não contemplava a questão do diagnóstico. Na minha opinião, é mais importante monitorizarmos de uma forma mais integrada os diferentes aspectos: diagnóstico, terapêutica, resultado, e se possível de uma forma continuada no tempo, e nesse aspecto estamos a desenvolver alguns projectos inovadores que vão permitir compreender melhor todo este processo.
O que é que o presidente da IMS pode dizer aos seus colaboradores?
O que lhes tenho dito - e temos uma politica de comunicação muito aberta - é que vamos à luta. Vamos apostar na inovação, surpreender os nossos concorrentes lançando novas iniciativas, novos serviços, e sobretudo estando perto dos nossos clientes. Nós temos uma relação longa e positiva com os nossos clientes ao longo destes anos da IMS em Portugal e isso é fundamental. Em relação ao nosso portefólio, vamos fazer um grande investimento para o reforçar e também dar todas as ferramentas possíveis à equipa para que consigam de uma maneira eficiente e com sucesso continuarem a contribuir para o crescimento da companhia em Portugal.
O que é que o presidente da IMS pode dizer à IF?
A IF pode contar connosco, mesmo nas áreas em que podemos estar mais enfraquecidos. Não vamos sair do mercado em nenhum segmento ou sector, mesmo na área de Consumer Health. Temos muito conhecimento e know-how. Podemos ajudar muitas empresas a trabalhar melhor e terem mais sucesso, por isso podem contar connosco, porque estaremos sempre ao lado da IF.

IF:GRANDES ACORDOS EQUIVALEM A GRANDES CORTES D'EMPREGO EM 2009!

A Indústria Farmacêutica (IF) já eliminou mais do dobro de postos de trabalho até Agosto de 2009 do que no mesmo período do ano passado. Este valor é baseado num estudo realizado pela empresa Challenger, Gray & Christmas, que conclui que foram eliminados 53.000 postos de trabalho este ano, em comparação com os 24.880 em 2008, avança o site espanhol PMFarma.
As grandes aquisições - e as inevitáveis demissões que acarretam - terão sido a principal causa deste aumento estrondoso de despedimentos. Exemplo disso é a Pfizer, que quando adquiriu a Wyeth anunciou que 19.000 trabalhadores seriam demitidos. Também o acordo entre a Merck Sharp & Dohme e a Schering-Plogh resultou na perda de 16.000 postos de trabalho.
Recentemente, a Eli Lilly revelou que 5.500 trabalhadores serão demitidos, como parte de uma reorganização da empresa, com o objectivo de poupar 1.000 milhões de euros. E no início deste ano, a AstraZeneca anunciou que iria intensificar o plano de corte de custos, o que significa que cerca de 7.400 outras postos de trabalho serão eliminados até 2013.
Na IF, a rede de vendas de produtos farmacêuticos tem sido particularmente afectada por estas reduções, uma vez que a maioria das empresas farmacêuticas optou por reduzir posições neste domínio.A Indústria Farmacêutica (IF) já eliminou mais do dobro de postos de trabalho até Agosto de 2009 do que no mesmo período do ano passado. Este valor é baseado num estudo realizado pela empresa Challenger, Gray & Christmas, que conclui que foram eliminados 53.000 postos de trabalho este ano, em comparação com os 24.880 em 2008, avança o site espanhol PMFarma.
As grandes aquisições - e as inevitáveis demissões que acarretam - terão sido a principal causa deste aumento estrondoso de despedimentos. Exemplo disso é a Pfizer, que quando adquiriu a Wyeth anunciou que 19.000 trabalhadores seriam demitidos. Também o acordo entre a Merck Sharp & Dohme e a Schering-Plogh resultou na perda de 16.000 postos de trabalho.
Recentemente, a Eli Lilly revelou que 5.500 trabalhadores serão demitidos, como parte de uma reorganização da empresa, com o objectivo de poupar 1.000 milhões de euros. E no início deste ano, a AstraZeneca anunciou que iria intensificar o plano de corte de custos, o que significa que cerca de 7.400 outras postos de trabalho serão eliminados até 2013.
Na IF, a rede de vendas de produtos farmacêuticos tem sido particularmente afectada por estas reduções, uma vez que a maioria das empresas farmacêuticas optou por reduzir posições neste domínio.

"DEVIA SER POSTO FIM AO MONOPÓLIO DAS FARMÁCIAS".(Pedro Nunes)

Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, acusa a Associação Nacional de Farmácias de estar a fazer uma guerra aos portugueses por causa da substituição das receitas. E acusa a ANF de ser um monopólio. Médicos receitam o medicamento que for mais barato e a última opção é do doente.
Correio da Manhã/Rádio Clube – Estamos a assistir a uma guerra entre a Ordem dos Médicos e a Associação Nacional de Farmácias?
Pedro Nunes – Não está não. Está a assistir a uma guerra entre a Associação Nacional de Farmácias e os portugueses e o País de uma forma geral. Está a assistir a uma tentativa da ANF de verticalizar o sector do medicamento, de juntar ao facto de ser um monopólio da venda a retalho, de ser um parceiro incontornável e dominante do comércio grossista, agora também vai produzir medicamentos e quer, como se fosse a cereja em cima do bolo, ultrapassar as receitas dos médicos e dar aos doentes os medicamentos que lhe convém, com a alegação de que são mais baratos. Isto não pode ser. Os sectores não se podem misturar, os médicos não devem obviamente vender medicamentos e quem vende não deve receitar.
EP – Mas não acha que deveria ser opção do doente tomar ou não o genérico?
- É sempre opção do doente e a questão não tem a ver com o genérico. Tem a ver com a substituição. É sempre opção do doente porque o médico não faz intimações, nem obriga ninguém a fazer coisa nenhuma. O doente deve ter o direito de mudar de médico sempre que queira. O que não faz sentido é o doente não ter o direito de escolher e ser o dono da farmácia a impor o medicamento que quiser.
EP – A questão é o genérico ser muito mais barato do que o medicamento de marca.
- A questão não está entre o genérico e o medicamento de marca. Isso é um falso problema que tem estado a ser passado para a Comunicação Social. Não é isso que a ANF propôs. O que propôs foi a troca mesmo de genérico por outro genérico. O que a ANF propôs é que cada farmácia só possua dois genéricos.
EP – Mas independentemente do preço desses genéricos?
- Independentemente do preço. E propôs que as receitas médicas fossem trocadas por um desses com o argumento que um desses seria mais barato. Ora, um médico em igualdade de circunstâncias tem a obrigação de receitar ao doente o que for mais barato. A Ordem dá indicações expressas do ponto de vista ético de que em igualdade de confiança o médico deve escolher para o doente o que for mais barato. É um dever ético para com o doente, que confia nele. E para com o País porque uma parte é paga pela comparticipação pública, pagamos nós todos. E além disso precisa de saber os resultados da sua receita.
ARF – Conhecer como?
- Se ele receitou a dez doentes um determinado medicamento genérico, mas de determinado fabricante, se houver qualquer acção secundária ele consiga perceber o que se passou. Ora se ele receita um medicamento e numa farmácia trocam-no por outro e assim sucessivamente se houver uma acção secundária o médico não a consegue identificar.
EP – Perde-se a informação.
- Exactamente. E com uma situação ainda mais grave. É que nem todos os doentes, infelizmente essa é a verdade e temos de a aceitar, sabem ler, são atentas e sabem o mínimo de medicamentos. E muitas vezes o que acontece é que o doente identifica o medicamento pela cor, pelo aspecto ou pela embalagem. Se o médico receita um determinado medicamento e na farmácia mudam-no muitos doentes têm a tendência para julgar que são diferentes e tomam o duplo ou triplo da dose. E há muitos casos desses. E há medicamentos em que tomar o dobro ou o triplo da dose pode ser o suficiente para alguém morrer.
EP – Mas é só uma questão de estatística ou informação ou também é uma questão de competência que não é reconhecida aos farmacêuticos?
- Eu não quero colocar a questão da competência porque primeiro do que tudo nós não estamos a falar de farmacêuticos. É bom que se diga com clareza. Nós estamos a falar de comerciantes de medicamentos. São coisas distintas. Farmacêuticos são todos os licenciados em Farmácia que não têm infelizmente em Portugal, por um resíduo do condicionamento industrial do doutor Oliveira Salazar, o direito de abrir as suas farmácias. Portanto, estamos a falar de um grupo de pessoas, farmacêuticos ou não. Há uns anos o Governo permitiu que as farmácias fossem propriedade por qualquer investidor. Estamos a falar de 800 ou 900 pessoas, não sabemos quantas ao certo, porque há 2000 farmácias e há mais do que uma na mão de vários empresários. Estamos a falar de comerciantes de medicamentos que têm os seus interesses económicos, legítimos, mas que não devem ultrapassar as regras do jogo. O farmacêutico é um profissional habilitado, não é habilitado a prescrever. É habilitado a conhecer o medicamento e as suas acções secundárias.
ARF – A Ordem dos Farmacêuticos está ao lado dos médicos nesta guerra?
- A Ordem tomou uma posição claríssima sobre esta matéria, que eu respeito e aplaudo e que foi de enorme dignidade. O farmacêutico deveria ter sempre uma relação muito estreita com o médico. E muitas vezes, até por questões de stock, liga ao médico e pede autorização para fazer a substituição. Isto é possível. O que não é possível é uma associação, que mais do que uma associação é uma empresa que congrega 90 por cento das farmácias em Portugal, que tem o monopólio do retalho em Portugal, que é maioritária no sector grossista, tomar a posição que tomou.
ARF – É uma espécie de monopólio?
- Não é uma espécie, é um verdadeiro monopólio, verticalizado, que vai da produção ao comércio grossista e ao retalho e que se vai ter autorização para violar a prescrição médica nos coloca a todos, nós portugueses, e o Governo português numa situação incontornável de chantagem.
EP – Acha que devia ser posto um fim a esse monopólio?
- Acho, claramente que acho. Porque eu não consigo entender porque é os médicos podem abrir consultórios e um farmacêutico não pode. Só pode ser empregado dos outros. Não pode abrir a sua própria loja. Isto não faz sentido nenhum. E são teses que tendem a acabar na Europa e seria útil que acabassem rapidamente em Portugal.
ARF – A ANF veio dizer que a medida que eles tomaram de substituição representou um aumento de 9,5 % de venda de genéricos e poderia ser uma poupança de 120 milhões de euros em 2009. Aceita estes números?
- Não comento números da ANF. Só comento números de fontes creditadas e que sejam verificáveis. Acho isso notável com uma medida que nem teve uma grande adesão das farmácias.
ARF – Aderiam cerca de 70 por cento.
- Se foi assim um número tão significativo a ANF vai ter um problema. Agora vai ter de explicar aos farmacêuticos, quando eles não receberem a comparticipação do Estado, quem é que lhes vai pagar esta fantasia, esta brincadeira e esta tentativa de manipulação do mercado.
ARF – A ANF invoca sempre uma promessa do Governo de alterar a legislação do receituário. E quer que a ministra faça isso.
- Eu penso que a única alteração de legislação era da lei com mais de 50 anos e que restringe a propriedade da farmácia aos farmacêuticos já instalados. Em relação ao receituário médico não. Houve uma fantasia do doutor Luís Filipe Pereira com a possível substituição dos medicamentos, que viu nisso uma forma de reduzir a factura dos medicamentos. Depois o próprio primeiro-ministro Durão Barroso interveio e acabou por se chagar a um equilíbrio com uma receitas um pouco estranhas, com umas cruzinhas para o médico pôr se autoriza ou não a substituição. Ora não tem nada de autorizar. A substituição, em princípio, não deve existir. Quem deve ser substituído se o doente não confia é o médico, não é o medicamento.
EP – Sim, porque se à partida autoriza a substituição já está a receitar o genérico.
- Exactamente. Mas a questão não se põe com o genérico. Porque a ANF propõe substituir genérico por genérico. Não é a questão de medicamento de marca por genérico. Por uma questão de stocks e no futuro privilegiar o genérico que dá mais rendimento.
ARF – Mas ouvem-se muitas vozes a pedir a alteração da legislação. A Ordem não aceita isso, apesar de ser uma promessa do Governo?
- Se vamos falar de promessas eu lembro-me do ministro Correia de Campos, no congresso de medicina, dizer que vai alterar o modelo da receita médica porque os medicamentos não são substituíveis a menos que o médico autorize. Posteriormente a isso o Governo publicou o Estatuto do Medicamento, que verteu para o Direito português uma directiva comunitária que diz claramente que o medicamento é identificado pelo nome comum internacional, pela marca, pelo detentor do produto ou pelo fabricante. As únicas promessas que eu conheço do Governo são leis que claramente dizem que, a bem da saúde pública, nenhum comerciante pode substituir ou mudar o que um médico receitou.
EP – Não há médicos que fazem questão de só receitar medicamentos de marca?
- Não, não há e se houver estão a fazer mal. O médico tem obrigação ética de receitar, em igualdade de circunstâncias, o medicamento que for mais barato. Porque ainda por cima neste circuito todo o médico é o único que não tem interesse na venda dos medicamentos. O farmacêutico recebe mais de 20 por cento directamente na venda do medicamento, o grossista, que a ANF também é, vai buscar mais 10 por cento, se depois houver bónus tem uma margem de comercialização enorme. O médico não tem nada a ganhar.
ARF – Mas falou-se nas viagens pagas, congressos, prendas valiosas. Isso já não existe?
- Não tenho problema nenhum em abordar esse assunto.
ARF – Houve casos públicos.
- Houve. E quando isso aconteceu a própria Ordem instou a Associação da Indústria Farmacêutica a acabar com isso. E hoje a nível mundial, os reguladores éticos, como são as Ordens, e a própria indústria tende a acabar com isso. Não é proibir as instalações de um congresso. Se não for a indústria não são os Estados a fazê-lo e os médicos precisam de aprender. Agora pagar estadias de 15 dias ao Sol é irregular.
ARF – Ofertas valiosas também?
- Isso é ilegal. Não podem fazer ofertas que ultrapassem o valor de uma esferográfica de plástico. Não existe. E se existe é ilegal. É natural que nos 38 mil médicos alguns sejam venais. Mas não é disso que estamos a falar. A lei hoje regula isso. Repare. Neste momento nem pode aceitar do delegado um convite para almoçar na tasca da esquina. Não vão dizer é que são os médicos que estão interessados na venda de medicamentos quando não ganham nada com isso e os outros que recebem directamente sem nenhuma ilegalidade 30, 40 ou 50 por cento daquilo que o doente e o Estado pagam é que são os indivíduos que querem vender cada vez mais barato e ganhar cada vez menos dinheiro. O mundo deve estar ao contrário daquilo que eu conheço há muitos anos.
ARF – A ANF, zangada com a ministra, vai agora informar os doentes na factura do que é que poderiam poupar com as substituições. Isto não vai pôr os doentes contra os médicos?
- É evidente que é uma forma de pressão. Essas coisas nunca são inocentes. Mas se for uma informação até pode ser útil. E gosto que o farmacêutico me informe se existe um mais barato. Não estou contra a informação. Agora, isso ao ser veiculado pela ANF parece ser uma tentativa de pressão sobre o Governo, uma espécie de uma retaliação no dia em que perceberam que não podiam continuar, que tiveram de recuar, retirar a campanha do ar.
ARF – Mas não vão pôr o odioso em cima dos médicos?
- Essa é a tentativa. Já estamos, nós médicos, habituados a ter as costas largas. Quem tem de estar preocupado com isto não sou eu como médico. Mas quem devia estar preocupado com este poder imenso de uma associação, que detém um monopólio no mercado é o Governo. Isto não é um problema do Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos. É um problema do engenheiro José Sócrates, primeiro-ministro deste País. O engenheiro José Sócrates é que tem de saber se está ou não está a ser pressionado pela ANF. Eu como médico não estou. A única coisa que me compete é dizer às pessoas não façam isso, isto tem perigos, tem riscos, não devem fazê-lo. E dizerem-no com verdade, que é a obrigação da Ordem dos Médicos, aos portugueses. Não é ameaçar, nem a Ordem ameaçou coisa nenhuma. A Ordem disse aos médicos que não devem permitir a substituição, não se devem esquecer de pôr a cruzinha na receita. Agora se o doente assumir correr esse risco, se o Estado não defender o interesse público e deixar que o interesse público seja capturado por um monopólio de comerciantes não é um problema da Ordem dos Médicos. É um problema do Estado, afecta-me tanto a mim como a si.
EP – A ANF decidiu participar da Ordem dos Médicos à Autoridade da Concorrência porque a Ordem impede a livre escolha do medicamento.

- Não é a livre escolha do medicamento pelo doente.
EP – É o que diz a ANF.
- O doente tem direito à livre escolha e deveria ter direito à livre escolha do médico e perante o médico tem o direito de lhe dizer para receitar o que for mais barato. E o médico até tem obrigação de o fazer e dizer ao doente quando não o faz porquê. Até está na lei. Deve explicar ao doente a razão porque não escolhe um genérico e opta por um medicamento de marca. E hoje é vulgar este diálogo acontecer.
ARF – A Ordem dos Médicos não vai fazer queixa à Autoridade da Concorrência do tal monopólio da ANF?
- Não. Já houve uma participação por parte dos laboratórios da indústria farmacêutica que se sentiram lesados em matéria de concorrência. Repare. A Ordem e os médicos não são lesados por isto. É evidente que ninguém gosta que alguém tente passar para a opinião pública a imagem de que os médicos seriam uns bandidos, que não estariam do lado dos doentes quando eles, que ganham o que se sabe com os medicamentos, é que seriam os bons. Uma pessoa não gosta, sente-se um pouco insultada e a vontade de dar a resposta ao nível. Mas a Ordem dos Médicos mantém a sua frieza e não lhe compete fazer participações numa questão que é a verticalização de um sector, monopólio na venda de medicamentos. Para já, a Autoridade da Concorrência tem a obrigação de ela própria desencadear um procedimento, na medida que está perante um monopólio. O Estado português tem a obrigação de resolver o problema do monopólio e a indústria farmacêutica, que se sente lesada, tem obrigação de participar. A Ordem, nisto, só tem que falar verdade aos portugueses, mais nada.
ARF – O Governo também prometeu as unidoses há quatro anos. Até agora nada. Os médicos defendem a unidose?
- Para os médicos a unidose é um enorme conforto, na medida em que o médico em vez de ter de estar a integrar na sua memória quantos compimidos tem determinada embalagem que ele precisa de receitar a um doente é muito mais simples receitar o número certo.
EP – E evita o desperdício.
- Evita o desperdício. Simplesmente a venda por unidose, e será por isso que o Governo terá provavelmente tido algumas dificuldades nessa matéria, implica questões de segurança nas farmácias. E podia abrir a porta à contrafacção e é isso que preocupa as autoridades europeias. É um problema de natureza industrial, de manipulação nas farmácias que ainda não está resolvido. Porque nos países em que existe as farmácias têm laboratórios de apoio para fazerem essas manipulações.
EP – Cem mil portugueses não têm médico de família em 2009. Para quando a resolução deste problema?
- Felizmente a muito breve prazo. É preciso que se perceba que no final dos anos 70 se formavam à volta de dois mil médicos. Depois houve uma redução abrupta da formação de médicos que se diz, mas não é verdade, que tenha sido provocada pela Ordem dos Médicos.
ARF – Por pressão da Ordem dos Médicos.
- Não é verdade. Nos anos 80 e principalmente nos anos 90 houve uma redução abrupta da formação de médicos. Não teve a ver com a Ordem dos Médicos. Teve a ver com as faculdades e com o dinheiro que o próprio Estado queria gastar na formação de médicos e nos que tinha de absorver no Serviço Nacional de Saúde.
EP – E a Ordem não teve aí qualquer papel?
- Não, nenhum. E eu estou à vontade porque fui das primeiras pessoas a alertar o Governo há nove a dez anos para a necessidade de aumentar o número de médicos.
ARF – Mas acha normal as médias que são exigidas para os cursos de medicina?
- Não são exigidas médias nenhumas. Isso é um erro. O que se passa é o seguinte. O Governo abre vagas e depois há candidatos. E por várias razões há mais apetência pelos cursos de Medicina. É evidente que o Governo pode abrir mais vagas e tem aberto mais vagas a partir de há cinco anos atrás. Este ano, por exemplo, entraram 1614 nas faculdades portuguesas, mais duzentos e tal na República Checa e Espanha.
EP – E esses voltam?
- Voltam. De uma maneira geral voltam. A emigração médica na Europa, excepto dos países de Leste, em que são muito mal pagos, é reduzida.
EP – Portanto, dentro de pouco tempo resolve-se o problema dos médicos de família?
- Pode resolver-se. Mas há um problema grave. É que a grande maioria entrou ao mesmo tempo e está a aproximar-se da idade de reforma. O desafio para o Governo é tornar a carreira aliciante para trabalharem mais dez anos e esperar que esta vaga de candidatos nas faculdades estejam em condições de os substituir.
ARF – E esses incentivos existem?
- Isso tem de perguntar ao Governo.
ARF – Estou a perguntar-lhe a si: há ou não incentivos?
- O caminho que se estava a fazer era empurrar os médicos para fora do serviço público, dizer aos médicos vão para onde ganharem mais, não precisam de se diferenciar porque a carreira não vale nada, graus de desenvolvimento não valem nada, interessa é onde ganham mais. Desorganizaram tudo, destruíram tudo. Felizmente que com a ministra Ana Jorge esse caminho foi alterado.
ARF – Mas a ministra chamou aos médicos mercenários e teve uma polémica com ela.
- Eu só corrigi um pouco a linguagem. Os médicos não são mercenários. Há é um sistema mercenário de exercício da medicina que tem dois autores, Luís Filipe Pereira e António Correia de Campos. De dos partidos diferentes, do PSD e do PS. É a verdade.
PERFIL
Pedro Manuel Mendes Henriques Nunes nasceu em Lisboa no dia 17 de Março de 1954. Casado, com um filho, fez o Secundário no Liceu Pedro Nunes e formou-se em Medicina em Fevereiro de 1978. Em 1986 acabou a especialidade em Oftalmologia. Médico do Hospital Egas Moniz, dá consultas privadas em Lisboa e uma vez por mês em Castanheira de Pêra. É bastonário da Ordem dos Médicos desde 2004.


António Ribeiro Ferreira, Correio da Manhã / Elisabete Pato, Rádio Clube

ESTADOS INFLUENCIAM CADA VEZ MAIS A PRESCRIÇÃO!

Os sistemas de saúde mundiais estão a ganhar uma influência cada vez maior na definição das receitas que os médicos prescrevem aos doentes. Esta situação explica a redução dramática que tem vindo a ser feita nos delegados de informação médica (DIM), cujo trabalho era, precisamente, apresentar aos médicos as vantagens dos novos medicamentos, e assim influenciar a sua prescrição, avança o Diário Económico.
Segundo o jornal, esta é uma das razões que explica que, nos últimos tempos, as principais farmacêuticas tenham optado por reduzir a sua força de trabalho essencialmente na área das vendas.
De acordo com o estudo feito pela PricewaterhouseCoopers sobre as principais tendências do mercado farmacêutico para a próxima década, a que o Diário Económico teve acesso, as principais dez empresas anunciaram, até Outubro do ano passado, 53 mil despedimentos.
Em Portugal, já saíram do sector mais de dois mil trabalhadores nos últimos anos, de acordo com cálculos da Indústria Farmacêutica (IF).
"O marketing agressivo, seja direccionado para os doentes ou para os médicos, está a tornar-se cada vez mais ineficaz como instrumento para aumentar a procura", diz o relatório, que sublinha a existência de uma "relutância para pagar mais por produtos que apenas oferecem pequenos melhoramentos face aos actuais".


IF TEM DE DIRECIONAR INVESTIGAÇÃO PARA ÁREAS MAIS RENTÁVEIS!

O relatório de 32 páginas que analisa os principais desafios deste sector coloca uma ênfase muito forte na questão financeira, com a PricewaterhouseCoopers a assumir que "um crescente número de pagadores do serviço de saúde [isto é, os Estados] está a medir os efeitos e a performance fármaco-económica entre os diferentes medicamentos", o que obriga a indústria a direccionar a investigação "para as áreas mais rentáveis".
Em Portugal, por exemplo, o regulador do medicamento - Infarmed - obriga, há já dois anos, que o pedido de introdução de um medicamento inovador nos hospitais públicos seja acompanhado de um estudo que avalie a vantagem terapêutica e a compare com o preço pedido para esse medicamento.
Esta nova legislação, aliás, recebeu críticas da IF, que denunciou que os critérios financeiros estavam a colocar problemas no acesso dos doentes a novos medicamentos. Isso obriga, continua a consultora, a que as empresas tenham de fazer escolhas relativamente à direcção dos departamentos de Investigação & Desenvolvimento.


AS SETE TENDÊNCIAS SÓCIO-ECONÓMICAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS...

O estudo identifica sete tendências sócio-económicas para os próximos anos: aumento do peso com os encargos das doenças crónicas, subida da influência dos sistemas de saúde na definição do perfil da prescrição dos médicos, prevalência do pagamento em função dos resultados, esbatimento das fronteiras entre cuidados primários e cuidados agudos, crescimento acelerado do mercado farmacêutico nas economias emergentes, concentração dos Estados na prevenção da doença em vez de no tratamento e aversão ao risco por parte dos reguladores internacionais.

SALÁRIOS DOS GESTORES HOSPITALARES ALVO DE INSPECÇÃO

As remunerações dos gestores dos hospitais públicos estão a ser auditadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), entidade sob a tutela do Ministério da Saúde. A auditoria abrange ainda todos os administradores do sector público e das unidades com gestão empresarial, além dos centros de saúde, institutos e todos os organismos sob a tutela da Saúde, avança o Correio da Manhã.
A auditoria deste ano surge depois de, em 2005, uma primeira auditoria ter detectado "situações irregulares", com gestores a receberem mordomias e dinheiros indevidos. Segundo apurou o Correio da Manhã, os dinheiros recebidos indevidamente foram repostos ao Estado, à excepção de "um ou outro caso", em que os administradores recorreram aos tribunais. O contencioso mantém-se.
A auditoria às remunerações dos gestores ainda decorre, aguardando-se as conclusões para breve.
Os salários dos gestores variam conforme a dimensão do hospital, sendo que nos maiores, em termos de produção, recebem mais. O presidente de um conselho de administração de um hospital central (tipo A) tem um salário-base de 4750 euros, acrescido de despesas de representação (1660 euros), carro, telemóvel e cartão de crédito. Os vogais executivos, director--clínico e enfermeiro-director recebem menos: um salário de 4200 euros e 1260 euros para despesas de representação, carro, telemóvel e cartão de crédito, revela o Correio da Manhã.
O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, garantiu ao jornal concordar com as auditorias. "É normal e bom o papel da inspecção para avaliar do exercício e da aplicação da lei", explicou ao Correio da Manhã.
Pedro Lopes lembra que, "quando avançou o processo da empresarialização dos hospitais, houve um momento em que se cometeram alguns excessos". O responsável sublinha que essas "situações de exagero" levaram a uma auditoria e a legalidade foi reposta". A compra e utilização de viaturas, de marcas topo de gama, foi uma das situações fiscalizadas, em 2005, pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde. Desde então, cada administrador hospitalar, entre vogais executivos, director-médico e enfermeiro-director, tem entre 35 mil euros a 40 mil euros para aquisição de um automóvel, para uso pessoal.

PEQUITO DENUNCIA CORRUPÇÃO A ACCIONISTAS DA BAYER AG

Doze anos depois de ter gerado a polémica ao denunciar as "relações perigosas" entre a Indústria Farmacêutica (IF) e a classe médica, Alfredo Pequito, ex-delegado de informação médica (DIM) da Bayer discursou na reunião geral anual de accionistas do grupo alemão Bayer AG, realizada na passada terça-feira, denunciando novamente todas as práticas "corruptas" que, segundo o ex-DIM, eram comuns e mesmo incentivadas na Bayer Portugal, avançou o jornal online alemão LifeGen.
O RCM Pharma contactou os responsáveis pela comunicação da Bayer Portugal, para aferir a reacção da filial portuguesa às recentes declarações de Paquito. Em resposta, a farmacêutica diz que "continua a refutar" as acusações, sublinhando que "até ao presente, nenhuma das alegações feitas conseguiu ser provada em Tribunal ou, sequer, ser provada documentalmente".
"A Bayer pauta-se pelas leis vigentes e pelo Código Deontológico da Indústria Farmacêutica. Por essa razão, implementou mundialmente um sistema de Compliance, sistema esse que é controlado por um Compliance Officer local. Todos os colaboradores da Bayer se pautam pelas regras de Compliance, com respeito integral pelo Código Deontológico", explica a filial portuguesa.
A empresa lembrou ainda que "a Bayer Portugal também interpôs uma queixa-crime contra o Sr. Alfredo Pequito, na qual ele foi condenado em Fevereiro de 2007. Um outro processo-crime foi terminado, apenas pelo facto de o Sr. Pequito ter apresentado desculpas à Bayer Portugal, razão que motivou a retirada da queixa".

O INICÍO DA POLÉMICA

Em 1997, Alfredo Pequito, ex-DIM da Bayer, denunciou as "relações perigosas" entre a IF e os médicos. Pequito acusou vários médicos de receberem contrapartidas financeiras e outras regalias a troco de prescrição de medicamentos da Bayer. Segundo o ex-DIM, vários médicos eram "compensados" pela multinacional alemã com presentes, como créditos em agências de viagem, material informático ou bens para utilização pessoal, sempre que prescreviam determinados medicamentos da Bayer. As denúncias abalaram o mundo da medicina e obrigaram mesmo a Ordem dos Médicos e a Apifarma a regular o relacionamento entre as duas partes através de um protocolo.
Pequito levou o caso a tribunal, por ter considerado injusta a sua demissão em 1999, mas após ter apelado a todas as instâncias (Tribunal de Trabalho de Lisboa,, Tribunal da Relação de Lisboa e Supremo Tribunal de Justiça), o ex-DIM não conseguiu a "justiça" que pretendia.
Agora, 12 anos depois, Alfredo Pequito ainda tem esperança que o caso seja esclarecido e espera uma resposta da Procuradoria-Geral da República. E fez mais: decidiu apresentar as acusações à "casa mãe" - Pequito discursou na reunião geral anual de accionistas do grupo alemão Bayer AG, realizada na passada terça-feira, denunciando todas as práticas "corruptas" que, segundo o ex-DIM, eram comuns e mesmo incentivadas na Bayer Portugal.


DISCURSO DE ALFREDO PEQUITO NA REUNIÃO DOS ACCIONISTAS DA BAYER:

"É com humildade, prazer e também um enorme receio que me dirijo a vocês, mas antes de mais nada, deixem-me prestar a minha sincera homenagem e agradecimento a todos os membros desta nobre organização, especialmente ao Sr. Philipp Mimkes, que me tem dado uma ajuda preciosa face aos danos morais e materiais causados pela Bayer AG, que se mantêm, tanto em nível pessoal e profissional.
Meu nome é Alfredo Pequito, cidadão português e talvez para a maioria de vocês um homem desconhecido; para outros, o homem que denunciou às autoridades portuguesas a corrupção e o actividades de suborno ilegais utilizadas pela Bayer em Portugal – e continuam a ser utilizadas – especialmente entre a sociedade médica portuguesa.
Em 1992, trabalhava noutra empresa farmacêutica, como especialista no sector hospitalar, quando um alto responsável da Bayer me convidou para ingressar na sua empresa, o que aconteceu em Dezembro do mesmo ano.
Logo que comecei a trabalhar para a Bayer, fui informado de que uma elevada quantia de dinheiro estava à minha disposição, supostamente para apoiar e ajudar médicos nas suas actividades. Este montante estaria disponível sempre que solicitado.
Nunca utilizei esse dinheiro, porque pensei que não era necessário para o desempenho do meu trabalho, ou seja, dar aos médicos informações detalhadas sobre e a qualidade dos produtos da Bayer. Isso era, pensei eu, a minha actividade principal.
A Bayer classifica os médicos portugueses como A, B e C, em conformidade com a potência de prescrição de cada um. Era suposto os representantes da Bayer pesquisar informações adicionais sobre os médicos, como, por exemplo, o número de filhos, passatempos, ideais políticos e até mesmo tendência sexual. Essa informação poderia ser utilizada para forçar os médicos a receitar os produtos da Bayer.
A minha pergunta para o conselho é: também se fazem este tipo de ficheiros para os médicos alemães?
Numa determinada altura, fui chamado para uma reunião na sede com o meu gerente directo, o director de vendas, hoje membro do Conselho da Bayer Portugal, e o marketing manager, que me confrontou com a seguinte pergunta: os montantes que tem à sua disposição devem ser gastos rapidamente, e no máximo do seu valor, para que, no próximo ano, a Bayer reforce o nosso orçamento correspondente. Verificamos que você não compra médicos, não faz créditos em agências de viagens em nome deles, e desta forma os médicos não podem levantar esse dinheiro ou passar as suas férias ou fazer qualquer coisa, qualquer que seja e sempre que querem. Você não apresenta facturas de refeições, que pode ser transformadas em dinheiro, por exemplo, facturas de 800 euros quando o valor real foi de 15 ou 20 euros, você não pede dispositivos electrónicos domésticos, material informático, não reverte o dinheiro em canetas de ouro, nem faz protocolos especiais para que os médicos sejam obrigados a receitar apenas os nossos produtos.
Eu resisti aos falsos práticas e fui posto de lado. Num determinado dia, após uma reunião normal de trabalho, fui convocado ao gabinete do director dos Recursos Humanos, onde já estavam os gestores de Marketing e da área farmacêutica, que me disseram, com uma clareza fria: você não compra médicos, portanto você não compreende nem age em conformidade com o espírito da Bayer: está despedido… A Inspecção-Geral de Saúde verificou posteriormente que em 1997 a Bayer Portugal gastou entre 5-10% dos seus lucros neste tipo de actividade, o que corresponde a um valor actual de 1 ou 2 milhões de euros.
Pensei que era meu dever informar o presidente do Conselho da Bayer nesse momento, Manfred Schneider, de tal situação irregular. A resposta e a informação que recebi foram que a Bayer Portugal era um órgão independente e autónomo, com a sua própria gestão. Esta explicação foi e ainda é uma aberração e uma desculpa que pertence à longa história de desculpas desta companhia.
Após a minha denúncia devidamente documentada, foi naturalmente iniciado um inquérito, a nível governamental, (Inspecção-Geral da Saúde), liderado por um magistrado do Ministério Público, que concluiu que a corrupção se tinha espalhado por todo o país. As conclusões estão, se quiserem conhecer a sua extensão, compiladas em 3 ou 4 livros volumosos. E a conclusão do inquérito é que apenas os médicos que trabalham para Serviço Nacional de Saúde podem ser envolvidos na acusação, ou seja, cerca de dez mil médicos.

QUE CONSEQUÊNCIAS TEVE A BAYER COM ESTAS REVELAÇÕES?

A Bayer contratou uma muito conhecida sociedade de advogados de Lisboa – Jardim, Sampaio, Caldas e Associados – que eram, na época, respectivamente ministro da Justiça, Presidente da República e Ministro da Defesa. Aparentemente, o poder do dinheiro está sempre a par do poder político.
Bayer e os seus cooperantes políticos encontraram uma solução: a comemoração do aniversário da revolução democrática do 25 de Abril de 1974 foi um bom pretexto para anunciar uma amnistia geral, naturalmente incluindo os crimes de corrupção que foram, portanto, pacificamente legitimados. A amnistia foi concedida à Bayer pelo Presidente da República J. Sampaio e pelo Ministro da Justiça V. Jardim – os mesmos homens que eram membros activos da sociedade de advogados que defendiam os interesses da Bayer.
Existem também outras actividades que fazem com que a Bayer seja um mau exemplo das actividades comerciais. Refiro-me essencialmente a experiências médicas e testes clínicos levada a cabo em Portugal, sem qualquer controlo e conhecimento das autoridades do meu país.
Por exemplo, a Bayer fez em Portugal um teste clínico com uma substância chamada Ecadotril. Num memorando interno da empresa podia ler-se "placebo 0 mortes – Ecadotril 8 mortes". Além da responsabilidade por essas mortes, porque é que a Bayer tentou esconder, e até mesmo negar, este estudo?
Será que o Conselho está preparado e disposto a revelar todos os ensaios clínicos, bem como as suas consequências? Ou esse material sujo não deve ser revelado ao público?
O INFARMED, o Departamento Farmacêutico Português, que controla todos os aspectos relativos a medicamentos utilizados em Portugal, não tinha conhecimento das actividades da Bayer, que foram escondidas com a colaboração dos médicos envolvidos. Como consequência, ocorreram danos físicos, incluindo mortes, que foram escondidos do público em geral e que só muito, muito mais tarde foram divulgados pelo Expresso, um jornal semanal português.
Portugal não comunicou nenhum dos efeitos secundários do Lipobay, um medicamento que causou milhares de casos de mortalidade e morbilidade em todo o mundo. Pergunto ao Conselho de Administração: quantas pessoas em Portugal foram receitadas com Lipobay e quantas ficaram com problemas de saúde?
Portugal também nunca divulgou a morbilidade e mortalidade do Trasylol. Há décadas que é vulgarmente conhecido que o Trasylol causa muitos e graves efeitos secundários, e a Bayer, que o produz, também sabe. Quantas pessoas foram afectadas pelo Trasylol em Portugal? Quando vão finalmente retirar este medicamento do mercado? Ou é a ganância e o desejo de maiores lucros, a qualquer preço (especialmente de vidas humanas) que não permite isso?
Consciente de todos estes factos, o Conselho de Administração da Bayer não sente vergonha e culpa pelos diversos infortúnios que causa em todo o mundo?
O que é que leva a empresa a "comprar" a prescrição médica, ou dito de uma forma directa e cruel, a corromper os médicos e farmácias, pelo mundo fora?
Ou será que a Bayer simplesmente não tem confiança nos seus próprios produtos?
Pergunto a mim mesmo, com pleno conhecimento do sofrimento diário causado pelos vossos produtos como são capazes de simplesmente dormir em paz e de consciência tranquila?
E, finalmente, toda esta vossa vergonhosa política não honra um poderoso Estado como a Alemanha. Este país merece o respeito de todos, repito, de todos nós.
Espero que o Conselho tenha a coragem e a dignidade de responder a todas estas questões; por outro lado, eu mereço o direito a uma resposta, porque, confesso, eu sou credor de árduo sofrimento na minha vida e na vida da minha família, causados pela Bayer.

Muito obrigado."

Hospital compra carros topo de gama e manda reduzir tratamentos

O Centro Hospitalar do Médio Tejo – que integra os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas – adquiriu este mês dois automóveis topo de gama para dois dos seis administradores, numa despesa total de 60 mil euros. A aquisição vai contra as ordens da ministra da Saúde, Ana Jorge, que em Maio deu indicações para que os hospitais públicos reduzissem a despesa em 50 milhões de euros, até ao final do ano. Uma das despesas a cortar era precisamente a aquisição de carros para os administradores, denuncia o Correio da Manhã.Esta aquisição de duas viaturas ignora totalmente o despacho dos ministérios das Finanças e da Saúde de 29 de Junho, que manda "reduzir a despesa total com a frota automóvel, designadamente com as viaturas de serviço afectas aos administradores, relativamente ao valor executado em 2009."A aquisição de carros topo de gama está a provocar profundo mal-estar nos funcionários hospitalares. Segundo apurou o CM, questionam a legitimidade da aquisição quando o "conselho de administração impõe medidas de restrição no uso de medicamentos, redução de enfermeiros e suspensão de tratamentos, como a proibição de aplicação de cardioversores implantáveis no serviço de Cardiologia". Os dois automóveis foram adquiridos em regime de aluguer operacional e entregues aos gestores a 21 de Julho. São da marca Renault, modelo Fluence, com equipamento de luxo, incluindo estofos em pele, bancos aquecidos, GPS e faróis automáticos. Cada viatura custa cerca de 30 mil euros.Os dois gestores passam assim a dispor de carros de luxo de serviço, tal como já acontece com os restantes quatro administradores. Os seis administradores terminam o mandato em Outubro.O CM pediu um esclarecimento à administração do CHMT, que não respondeu. O Ministério da Saúde diz "desconhecer a situação", mas irá "apurar, no âmbito da monitorização dos planos de redução da despesa dos hospitais".

“É crucial conhecer os novos stakeholders da IF”(António Gomes-APODEMO)

António Gomes, Presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Empresas de Estudos de Mercado e Opinião (APODEMO), fala dos tempos de crise que assolam a Indústria Farmacêutica e a importância que os estudos de mercado têm como ferramenta para superá-la. Licenciado em Sociologia, António Gomes é actualmente Chief Operations Officer da GfKMetris, da qual é fundador (Dezembro de 1993) e sócio-gerente.
É inevitável começarmos a conversa pelo tema da crise – como é que vê a crise que se vive na Indústria Farmacêutica (IF) neste momento?
O tema da crise na IF tem sido amplamente discutido, em vários fóruns, em várias plataformas, com diferentes tons, mas é efectivamente uma realidade. Um facto internacional e também nacional. Mas a IF está em movimento: as fusões e aquisições a que temos vindo a assistir, envolvendo as maiores companhias mundiais, são uma prova de que o dinamismo da Indústria continua vivo. Agora que, em paralelo com este dinamismo, não é um momento fácil para a IF, é também um facto, sendo o lado mais visível desta crise os números do desemprego e a quebra dos resultados da actividade (a evolução do mercado farmacêutico, em 2008, registou um crescimento de apenas 0,9%, considerado como um “crescimento negativo” face ao efeito da inflação, e esta tendência claramente negativa acentuou-se no primeiro trimestre de 2009 com um decréscimo médio na ordem dos 7,5%, segundo dados da Apifarma/IMS). Numa convergência para este actual estado da IF vários factores têm contribuído, quer a nível internacional quer nacional, pelas suas componentes económicas, políticas, reguladoras e até cientificas. Aliás, a crise na IF é sobretudo consequência destes vários factores, mais do que propriamente pelos seus modelos de negócio.
A crise fez com que esta seja uma fase de mudança na IF. Haverá uma forte ruptura estrutural? Qual o modelo futuro?
Os tempos são de crise. Facto. A IF tem de estar à altura dos desafios. Constatação. Que as crises podem também ser oportunidades, é quase um cliché. Mas este cenário é transversal a várias indústrias e mercados. Há, haverá, vários modelos de estruturação e reestruturação que podem ser trilhados em função de cada mercado e cada empresa, muito interligados com a competitividade de cada um e com o espectro político, legislativo e regulator em que cada companhia se insere, nomeadamente os modelos do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de cada mercado-país. Aliás, o modelo do SNS será um issue em toda a temática das mudanças a implementar na Indústria. Há contudo várias áreas críticas que estarão com certeza na agenda das companhias, nesta fase de mudança: as estratégias de âmbito científico e I&D, novas áreas de negócio e produtos, em alinhamento com as tendências dos consumidores (p.e. a área da dermocosmética – apenas para referenciar um exemplo simples), o modelo comercial (e em concreto a área de “Sales Force”), os modelos de marketing e estratégias de comunicação, até às próprias visões e missões da Indústria. Neste cenário de crise e mudanças, há assim que criar e reinventar. Para tal é necessário olhar para o mercado e questionar: quem é o Cliente? O que é o produto? Qual o papel da inovação? Quem é a concorrência? Ou seja, uma visão mais holística, para então adoptar novos modelos. Há quem já adiante que o modelo futuro a adoptar pelas companhias, mais disruptivo, possa passar de um posicionamento de “venda de medicamentos” para “prestadores de soluções de saúde”. Paralelamente, a promoção de serviços complementares de cuidados, em conjunto com os produtos, pode ser um factor diferenciador e adicional na cadeia de valor. Não obstante este cenário mais macro, há contudo alguns eixos importantes nesta fase de mudança, como:
Modelos e paradigmas concorrenciais de “Coopetição”, que poderá ser uma importante arma contra a crise, que embora não seja um modelo novo nesta Indústria (quer ao nível de alianças para o desenvolvimento de um novo fármaco, quer ao nível dos modelos comerciais e de marketing), mas que se poderá acentuar, reajustar e evoluir.
Dimensão comercial, quer ao nível da distribuição, canais e força de vendas (com enfoque no Sales Effectiveness). Há que rever e inovar na componente comercial, até porque a maioria dos modelos comerciais das companhias farmacêuticas não sofreram grandes mudanças nos últimos anos, pois como estavam, geravam valor para os accionistas.
Orientação ao serviço e ao cliente. Uma dimensão muito trabalhada noutras indústrias, mas que começa a ser abordada na IF, até porque novos canais e novos stakeholders estão e vão surgir, tornando o cenário competitivo ainda mais agressivo. O modelo sustentado do médico prescritor como cliente central, por impactação da sua condição de único prescritor, está a diminuir.
Não obstante os temas de âmbito organizacional e gestão, há que ter sempre presente as estratégias de âmbito científico e I&D, que são claramente uma dimensão crítica no futuro da Indústria, bem como as novas áreas de negócio, como já referi.

De acordo com a sua experiência, enquanto profissional ligado à IF, quais os tipos de estudos mais frequentemente realizados neste sector?Os estudos de mercado para a (e solicitados pela) IF ainda estão, actualmente, muito centrados no Sales Force Effectiveness, New Product Development, Brand Management & Pricing. Por este facto, e face ao momento que a IF atravessa, é também consequência para os estudos de mercado, que têm assistido a um decréscimo de facturação nesta área. Mas, e acompanhando as necessidades da IF para se “reiventarem”, o nosso papel pode, e deve, ir mais longe. Podemos efectivamente contribuir para este processo de mudança da Indústria, e em alguns casos já está a verificar-se este apoio mais estratégico.
Com este novo paradigma de jogo de várias peças, é crucial para as companhias disporem de informação e conhecimento que suportem as decisões dos novos modelos de negócio.
É crucial conhecer os novos stakeholders da IF, saber quem são, os seus comportamentos e tendências, de forma a estabelecer estratégias comerciais e de marketing diferenciadas por segmento de clientes. Na sequência, será importante monitorizar estas mesmas estratégias, e neste campo o espectro da área já tradicionalmente estudada do Sales Force Effectiveness, se alargue a novos targets, e como tal, com recurso a diferentes técnicas e metodologias. É crítico a avaliação dos novos canais promocionais: estudá-los, compreende-los e medir a sua eficácia e rentabilidade, facto importante na orientação dos novos modelos de canais. Nestas dimensões, a exploração dos múltiplos pontos de contacto com a informação, nomeadamente os canais tecnológicos são uma importante componente a explorar e a avaliação a eficácia das mensagens de marketing, como o sms, e-mail, portais de conteúdos, etc. Outra dimensão de apoio dos estudos de mercado, e também ela crítica, é a área de brand equity, brand value e reputation. Cada vez mais a imagem das companhias e a sua reputação é importante, mais reforçada ainda quando se evolui para modelos de negócio em que Cliente não é essencialmente o médico, mas sim uma elevada amplitude de novos clientes (novos targets). Se já se fazem estudos de reputação, agora eles deverão ser reforçados, aprofundados e monitorizáveis. Estes são alguns dos exemplos de novas áreas e tendências do research para a IF: novas áreas de estudos, estudos mais estratégicos e diferenciados e serviços de consultoria em informação e conhecimento. Não obstante este facto, ainda não é muito visível esta necessidade de informação diferenciada e estratégica ser traduzida em contratações de estudos. Na realidade, como em todos os negócios, se há crise, cortam-se os budgets em determinadas áreas, mesmo que seja entendido que ter informação e conhecimento na fase de crise é de importância elevada, materializar este facto é ainda um passo difícil.
As novas tecnologias vieram retirar algum poder ao médico, porque passou a lidar com um doente mais informado e que quer intervir mais na decisão do seu tratamento. De que forma a evolução das novas tecnologias irá afectar os estudos de mercado?O médico deixará de ser (ou quase) o único “cliente” da IF, no sentido do seu papel de principal prescritor e influenciador. O doente / utente vai ganhando substancial importância neste xadrez de novos stakeholders de relevo para a IF. Por este facto é que chamo a atenção da importância de estudar, conhecer, compreender estes, cada vez mais importantes, “novos” targets. Claro que com esta mudança de paradigma, o marketing farmacêutico tem obrigatoriamente de descobrir ou redescobrir novos ou diferentes modelos de abordagem, de comunicação e de venda. Como vão evoluir? Em função das definições estratégicas de cada companhia. Mas mais desafiante que a conceptualização dos novos modelos, será a sua implementação e análise e monitorização dos seus resultados. Contudo, em termos de novas áreas de actuação, já adiantei as novas abordagens a novos targets, novos canais a explorar ou aprofundar e através de novos canais, como as ferramentas tecnológicas, p.e.. Esta é claramente uma área de espaço de crescimento do Marketing farmacêutico, independente da estratégia concreta de cada negócio.
Com base na sua experiência, é possível fazer marketing de qualidade sem pesquisa de mercado?
Uma resposta directa: não. Mas este facto aplica-se a esta Indústria, como a qualquer outra indústria concorrencial e/ou competitiva. Os estudos de mercado são uma base fundamental para o conhecimento. É uma área chave no Sistema de Informação de Marketing. Julgo que este facto de per si é resposta suficiente a esta questão.
Quando deve um PM parar de fazer pesquisa de mercado?
Não sei responder a esta questão, no sentido que a mesma está intimamente relacionada com o negócio desse PM. Mas, na realidade, se numa fase primária é necessário, p.e., conhecer o mercado e os consumidores de uma forma genérica, à posterior é necessário monitorizar. Depois é necessário estudar em fase de inovação, lançamento de produto, serviço, ajuste de princing, … Depois continua em ciclo e deverá ser necessário avaliar um impacto de uma campanha (e antes é importante fazer um pré-teste). Se a empresa continua em fase de inovação, este ciclo contínua, se não, se está apenas em fase de crescimento de produto, é também importante continuar a monitorizar o seu consumo. Resumindo, a necessidade de estudos de mercado é contínua e cíclica também em função do ciclo do produto. Portanto, se um PM deve parar de fazer estudos de mercado, julgo que não.
O que faz um PM ou um cliente quando o resultado apresentado no estudo não coincide com a ideia que tinha antes do estudo? Há basicamente três caminhos: ou são ignorados os resultados do estudo e o Cliente avança com a sua ideia; ou é determinada a estratégia em função dos resultados do estudo, mesmo que os mesmos sejam em caminho contrário à ideia pré-concebida; ou é feito novo estudo para avaliar a situação. Como instituição de referência nos estudos de mercado, controla as boas práticas das empresas de Estudos de Mercado? Que iniciativas promove habitualmente a APODEMO? Quais são os seus principais objectivos?A APODEMO não é um regulador, é uma associação, e como tal não está contemplado nos seus estatutos o controlo das boas práticas. No entanto, é sua obrigação importante o assegurar para que as mesmas ocorram, bem como a sua incentivação, como é exemplo a criação do CODEMO (Código Português de Estudos de Mercado e Opinião), a tradução do código da EOMAR (ICC/ESOMAR International Code on Market and Social Research), ou a divulgação das normas ISO orientadas para a actividade, entre outras. Aliás, um dos principais objectivos da APODEMO é o de contribuir para o estabelecimento de elevados padrões de qualidade e éticos, definindo códigos de conduta para o sector. Promover a confiança nos estudos de mercado, junto dos seus utilizadores e público em geral, é também outro dos importantes objectivos desta associação, bem como o de contribuir para a modernização e o desenvolvimento do sector de estudos de mercado e opinião. Várias são as iniciativas da APODEMO, que vão desde colaborar com os organismos oficiais e outras entidades para solução dos problemas do sector, estabelecer contactos, cooperação e troca de informações com entidades directa ou indirectamente relacionadas com a actividade dos associados (como é o caso de protocolos já firmados com instituições académicas), realização de seminários e jantares-colóquios para a apresentação e discussão de temas de interesse para o sector, entre outros. Mas a face mais visível das iniciativas da APODEMO é efectivamente o congresso anual que promove. Este momento é sempre importante, na medida em que é um acontecimento que permite a troca de conhecimentos e experiências, esta é a sua essência.
António Gomes, Presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Empresas de Estudos de Mercado e Opinião (APODEMO), fala dos tempos de crise que assolam a Indústria Farmacêutica e a importância que os estudos de mercado têm como ferramenta para superá-la. Licenciado em Sociologia, António Gomes é actualmente Chief Operations Officer da GfKMetris, da qual é fundador (Dezembro de 1993) e sócio-gerente.


HOSPITAIS GASTAM MILHÕES EM RENOVAÇÕES INFORMÁTICAS!!!

Ministério quer actualizar sistemas baratos existentes. Mas unidades preferem comprar novos e caros.
Vários hospitais e centros hospitalares estão a gastar milhões de euros em aplicações informáticas para substituir as existentes. Isto apesar de haver orientações do Governo para que todos os serviços apenas actualizem os sistemas antigos, uma opção muito mais barata.
Aliás, o Ministério da Saúde lançou um concurso público para arranjar uma empresa que faça a manutenção e o desenvolvimento das ferramentas velhas. Mas muitos hospitais preferem programas informáticos mais avançados. Além dos novos sistemas poderem implicar elevados custos ao Estados, há especialistas que questionam a difícil articulação com a rede nacional, que usa preferencialmente os sistemas antigos.
Os novos programas estão a ser implementados no centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), que inclui os hospitais de São Francisco Xavier, Santa Cruz e Egas Moniz e no Centro Hospitalar de Lisboa Central que conta com os hospitais de São José. Santa Marta, Dona Estefânia e Santo António dos Capuchos. O mesma está a ser implementado no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.
Mas só no CHLO, a introdução da aplicação obrigou a um investimento de 1,3 milhões de euros, confirmou ao DN o administrador Pedro Abecassis.
Esta e outras situações levaram o Bloco de Esquerda a questionar o Ministério da Saúde sobre este investimento, quando a intenção do Ministério é o desenvolvimento e manutenção das aplicações existentes - SAM (Sistema de Apoio ao Médico) e SAPE (Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem). "Estranhamos o facto de, neste momento, estarem a ser implementadas outras soluções informáticas, de domínio privado, em algumas unidades de saúde", lê-se no documento que o partido remeteu à tutela.
Fonte da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS) - instituto público que gere a informatização nos serviços de Saúde - explicou ao DN que os estabelecimentos hospitalares têm poder para decidir os produtos informáticos a adquirir "Os hospitais são soberanos para tomarem decisões de gestão e comprarem aplicações informáticas, além das que estão no catálogo da Agência Nacional de Compras Públicas, desde que cumpram as regras da contratação pública".
Mas ao mesmo tempo que os hospitais adquirem estes sistemas está a decorrer o concurso público para a aquisição de serviços e manutenção correctiva do Sistema Integrado de Informação Hospitalar (SONHO), sobre o qual operam as aplicações SAM e SAPE. Este concurso foi publicado em Diário da República, a 11 de Fevereiro. E mais recentemente, em Maio, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, fez um despacho a determinar que a ACSS proceda ao lançamento de um outro concurso para contratar serviços que desenvolvam o SAM e SAPE para os centros de saúde (ver caixa).
Estando a ser seguida pela tutela "uma política de uniformização dos sistemas informáticos, não se compreende de facto, que os hospitais estejam a contrariar", refere o BE, que pede explicações para esta decisão.
Pedro Abecassis confirmou estar a ser implementada a aplicação da HP-HCIS, "para substituir o SAM e o SAPE" e também para "informatizar todo o processo clínico electrónico". Mas o administra-dor rejeita as criticas der que os novos programas podem levantar problemas de articulação com os outros. " O sistema é plástico e pode adaptar-se a aplicações do bloco operatório, integrar imagiologia, entre outros", diz Pedro Abecassis, frisando que "o SAM e o SAPE não eram boas soluções".
Também a administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central admitiu ao DN ter optado por adquirir o HP-HCIS, projecto iniciado em 2007. Este sistema, que custa um milhão de euros, permite gerir toda a informação clinica do doente. Até agora cada médico, para consultar o processo de um determinado doente tinha de pedir as informações em papel. Agora basta ir ao computador.
O CHLC explica que o sistema começará a ser instalado no serviço de urgências, sendo depois alargado a outros serviços. A administração refere também que este investimento permite melhorar "as condições e recursos existentes, optimizando a sua gestão de modo a proporcionar mais e melhores cuidados de saúde".

IMS prevê crescimento do mercado farmacêutico em 2014

Segundo a IMS Health, é expectável que o mercado global de produtos farmacêuticos cresça cerca de 300 biliões de dólares nos próximos cinco anos, chegando aos 1,1 triliões em 2014, avança a companhia em comunicado.
O crescimento anual de 5 a 8 %, que se espera durante este período, reflecte o impacto da perda das patentes dos principais produtos nos mercados desenvolvidos e também o forte crescimento dos mercados emergentes.
A procura de produtos farmacêuticos continuará forte apesar dos efeitos da recessão económica que se fazem sentir no mundo, diz Murray Aitken, Vice-presidente Sénior de Healthcare Insight da IMS.
Segundo ele, nos mercados desenvolvidos, com plano de financiamento público da saúde, a pressão dos contribuintes para conter o crescimento da despesa vai intensificar-se, mas pode ser compensada pela expansão rápida da procura nos mercados emergentes.
“O crescimento líquido ao longo dos próximos cinco anos deverá ser forte – mesmo com a indústria a enfrentar os anos de pico de perda de patentes de medicamentos inovadores introduzidos há 10 e 15 anos, e a subsequente entrada de alternativas genéricas de baixo custo”, remata o especialista.
Além disso, é esperado o crescimento das vendas farmacêuticas globais de 4 a 6%, este ano, de acordo com uma previsão anterior da IMS. Em 2009, o mercado cresceu 7%, para 837 biliões de dólares, em comparação com uma taxa de crescimento de 4,8%, em 2008.

Mercados emergentes responsáveis por 48% do crescimento do sector em 2013

Um estudo da IMS Health sugere que os mercados farmacêuticos de alto crescimento, como a China, o Brasil, a Rússia e a Índia, serão responsáveis por 48% do crescimento do mercado em 2013, comparado a 37% em 2009. O documento da consultora identificou 10 novos países emergentes, "além dos sete países identificados em 2006, que deverão crescer significativamente durante o período referido", avança o site FirstWord.O estudo da IMS agrupou os países em três níveis, em ordem decrescente de crescimento do valor de mercado, com a China ficando em primeiro lugar. O relatório estima que a China será responsável por mais 40 mil milhões de dólares em vendas anuais adicionais em 2013, o que é comparável ao aumento previsto para os EUA durante o mesmo período. No próximo ano, as vendas de medicamentos na China serão maiores do que em França e na Alemanha, com o país a tornar-se o terceiro maior mercado do mundo farmacêutico, atrás dos EUA e Japão, observou o relatório.O segundo nível inclui Brasil, Rússia e Índia, enquanto que o terceiro nível inclui 13 países como a Venezuela, Polónia, Argentina, Turquia e México. A consultora IMS HEalth prevê que os países emergentes, que geraram 123 mil milhões de dólares, ou 16% nas vendas mundiais de medicamentos em 2009, sejam responsáveis por um adicional de 90 mil milhões de dólares em vendas em 2013.A IMS declarou que as mudanças, como o acesso ampliado à saúde e financiamento, têm contribuído para o realinhamento em curso do mercado. Por outro lado, o crescimento em mercados tradicionais diminuiu devido às taxas elevadas de validade das patentes, ao aumento da penetração dos genéricos e à falta de financiamento para a indústria de biotecnologia, diz o relatório.Actualmente, as 15 maiores empresas farmacêuticas juntas vão buscar quase 10% das suas vendas aos mercados emergentes, revela a IMS.

"A Face Oculta da Indústria Farmacêutica, da Medicina e da Ciência"

A indústria multinacional farmacêutica gasta quase 40 bilhões de dólares por ano para desenvolver novos medicamentos. Para isso, mobiliza uma crescente parcela dos cientistas mais experientes do mundo e a mais sofisticada tecnologia médica.
Com tal investimento maciço poderia se esperar um aumento do número de medicamentos de impacto dirigidos para os flagelados da humanidade. No entanto, esse ano, só a malária atingirá 500 milhões de pessoas no mundo, e matará cerca de três milhões. Os remédios mais modernos de que os médicos dispõem para tratá-los são anti-diluvianos: um medicamento chinês de mil anos, que substitui uma droga desenvolvida há mais de 50 anos [1].
A indústria famacêutica não desprezou as partes do mundo assoladas por doenças como a malária. Pelo contrário: nunca antes os fabricantes de remédios deram tanta atenção aos pobres do mundo. Os grandes laboratórios estão realizando milhares de ensaios clínicos nos países em desenvolvimento — Bulgária, Zâmbia, Brasil e Índia, por exemplo. Aninhado contra as favelas enegrecidas de fuligem em Mumbai ergue-se o reluzente prédio branco da Novartis, onde os pesquisadores franzem as sobrancelhas na busca de novas drogas. Ao redor das que se espalham cercando a Cidade do Cabo, ficam os cintilantes laboratórios de teste da Boehringer Ingelheim. Recentemente, a Pfizer e a Astrazeneca instalaram centros globais de testes clínicos na Índia.
As empresas não estão lá para curar os males dos doentes pobres que fazem fila em suas reluzentes clínicas de pesquisa. Os fabricantes de drogas foram aos países em desenvolvimento para fazer experimentos com as multidões de doentes miseráveis. Utilizam-se deles para produzir os remédios destinados às pessoas cada vez mais saudáveis em outros lugares, em particular ocidentais ricos que sofrem
os desgastes da idade, como doenças cardíacas, artrite, hipertensão e osteoporose. Essa tendência — desenvolver drogas para os ricos globais testando-as nos pobres globais — além de não ser um investimento de recursos científicos preciosos, ameaça os direitos humanos e a saúde pública global.
Num mercado de bilhões, 100 mil “voluntários” para cada droga
Os Estados Unidos são o maior mercado de remédios do mundo. O norte-americano médio leva para casa dez receitas médicas por ano. Desde 2000, a indústria farmacêutica cresceu 15% por ano, triplicando o lançamento de drogas experimentais entre 1970 e 1990. Isto se deve, em grande parte, a mudanças nos regulamentos dos EUA sobre remédios. Em 1984, a agência norte-americana de medicamentos e alimentação (Food and Drug Administration, FDA) estendeu as patentes dos fabricantes para novas drogas; em 1992, começou a aceitar pagamentos de fabricantes em troca do exame e liberação mais rápida de suas drogas novas e, em 1997, suprimiu as regras que baniam anúncios de televisão para os remédios novos. Essa mudança bastou para trazer uma grande transformação na indústria. Pela primeira vez, permitiu-se aos fabricantes de remédios dirigir as propagandas mais atraentes dos remédios novos diretamente a um grande número de consumidores, sem a mediação cética de um médico.
Há muito dinheiro a ganhar vendendo remédios para norte-americanos: a indústria de medicamentos é uma das mais lucrativas do mundo. O problema é que quanto mais apreciam remédios, menos pessoas estão dispostas a se inscrever nos testes clínicos exigidos para desenvolver os novos. Cada droga nova exige cerca de quatro mil voluntários para os testes clínicos, o que por sua vez significa que 100 mil pessoas têm de ser atraídas para os ensaios iniciais. Por que tantos? Porque não é fácil desenvolver novos remédios para doenças do coração, artrite, hipertensão e outras condições crônicas não contagiosas.
Apesar do máximo esforço da indústria, a maioria das novas drogas destinadas a tratar dessas doenças tem eficácia apenas marginal. Algumas são similares a uma pílula de placebo. “Você sempre tem que batalhar para encontrar uma diferença” entre os pacientes tratados e não-tratados, diz um pesquisador clínico veterano. Não é preciso testar muitos pacientes para provar a eficácia, por exemplo, da insulina para pessoas em coma diabético, porque o efeito da droga é muito visível. Mas provar que drogas de baixa ação, como antialérgicos, medicamentos para o coração ou pílulas antiinflamatórias têm uma eficácia real exige um grande número de pessoas testadas.
A necessidade da indústria encontrar voluntários para experimentos é imensa. Entretanto, pouco mais de um em vinte norte-americanos estão dispostos a participar de testes clínicos. A razão é óbvia. Por que se expor a compostos experimentais, não testados, quando o leque de alternativas comprovadas está ao alcance das mãos?
Quanto mais doenças e “eventos”, mais fáceis e rápidos os testes
Para resolver o problema, os fabricantes das drogas fazem testes para comparar o efeito dos seus remédios novos com o de um placebo. Basta provar à FDA que um medicamento novo funciona melhor do que nenhum. É um padrão simples que dá um resultado mais claro em menos tempo. O único problema com os testes de placebo é que exigem um número suficiente de pessoas que queiram participar de um experimento em que podem não receber tratamento algum – uma tarefa cada vez mais impossível, especialmente no Ocidente mergulhado em remédios.
Como resultado, 80% dos testes clínicos da indústria farmacêutica falham em cumprir os prazos de recrutamento. Para cada dia de atraso no desenvolvimento de uma droga, as companhias perdem cerca de um milhão de dólares em vendas, enquanto seus concorrentes ganham mercado.
Se as pessoas nos países em desenvolvimento estivessem sofrendo apenas de malária e doença do sono, é claro que não interessaria fazer testes nesses lugares. Mesmo que cada doente de malária tivesse um dólar para gastar com remédios – o que não acontece – esse mercado não seria grande o bastante para deslocar pesquisadores da indústria para laboratórios. Um mercado de 200 milhões de dólares, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) [3], é o mínimo necessário para despertar o interesse da indústria.
Não importa. Atualmente, além de malária e tuberculose, as pessoas dos países em desenvolvimento sofrem das doenças nas quais os fabricantes de drogas dos mercados ocidentais estão mais interessados. De acordo com a OMS, 80% das mortes por doenças crônicas não contagiosas, como males cardíacos e diabetes, agora ocorrem nos países em desenvolvimento. Há mais diabetes tipo II na Índia do que em qualquer outro lugar do mundo. Em alguns lugares da África, uma em cada cinco pessoas sofre de diabetes e 20 milhões de africanos padecem de hipertensão [4].
África do Sul: “um país ótimo para a AIDS”…
De acordo com a OMS, as implicações desse fenômeno para a saúde pública “são inquietantes e já estão aparecendo”. Por serem pobres e sofrerem incômodos de saúde mais prementes, poucos pacientes são tratados. Inevitavelmente, sofrem mais complicações do que os pacientes bem tratados do Ocidente. Isto oferece uma oportunidade para os testes industriais. Para provar que um remédio para o coração funciona, por exemplo, é preciso mostrar que quem não toma esse remédio sofre mais “eventos” — sejam ataques cardíacos ou mortes — do que quem toma o remédio. Os testes nos países pobres podem completar-se muito mais depressa. Como observou um executivo de uma companhia de testes clínicos, durante uma conferência sobre a adequação dos países pobres para testes clínicos: “se não houver eventos suficientes, você nunca vai terminar seu teste”.
Outro executivo de companhia de testes clínicos afirmou: “A África do Sul é um país ótimo [para AIDS]”, por causa do grande número de pacientes infectados pelo HIV ainda não tratados com drogas anti-virais. Com freqüência os fabricantes de drogas ficam frustrados em suas tentativas de provar que as novas drogas funcionam nos corpos impregnados de medicamentos dos ocidentais testados. Há tantas drogas em seus organismos que é cada vez mais difícil observar o efeito do composto experimental. Assim, os pacientes-virgens – pessoas doentes pobres demais para obter tratamento médico – são altamente valorizados nos testes clínicos.
Mas o grande atrativo para a localização dos testes em países mais pobres é a rapidez. Na indústria farmacêutica de hoje, onde os fabricantes de remédios manobram para ser os primeiros do mercado com a última insulina aspirada ou o novíssimo anti-depressivo, a velocidade é essencial. Nos países ocidentais, recrutar um número suficiente de voluntários para testes pode levar meses e até anos. Nos países em desenvolvimento, o recrutamento é rápido. Na África do Sul, a Quintiles alistou três mil pacientes para testar uma vacina experimental em nove dias. Em doze dias, recrutou 1.388 crianças para outro teste. Além do mais, no Ocidente, de 40 a 60% dos inscritos são instáveis e acabam largando os testes clínicos, incomodados por efeitos colaterais desagradáveis ou pelo inconveniente de se deslocar até a clínica. Em lugares como a Índia, as companhias de testes clínicos dizem que conservam 99,5% dos voluntários inscritos [5].
Não é fácil para os fabricantes de drogas ocidentais levarem seu negócio de testes clínicos para os países pobres. Muitas vezes, eles precisam traduzir documentos, equipar clínicas e hospitais sem recursos, treinar os médicos locais e lidar com uma burocracia estrangeira e freqüentemente corrupta. Mas, apesar desses desafios, para a maior parte dos grandes fabricantes de drogas, realizar os experimentos em países em desenvolvimento tornou-se uma necessidade. Empresas que oferecem consultoria sobre como realizar testes nesses países floresceram, tornando-se uma indústria secundária.
Grandes empresas de testes multiplicam filiais no Sul do planeta
As companhias de testes clínicos (também chamadas organizações de contratos de pesquisa, ou CROs) como a Quintiles e a Covance ostentam escritórios e consultórios por toda parte dos países em desenvolvimento. A Quintiles tem clínicas no Chile, México, Brasil, Bulgária, Estônia, Romênia, Croácia, Letônia, África do Sul, Índia, Malásia, Filipinas e Tailândia. A Covance alardeia que pode fazer testes em 25 mil centros médicos, em uma dezena de países. A imprensa comercial da indústria dos testes clínicos exalta-se com entusiásticos artigos como “Sucesso com testes na Polônia” e “Oportunidades de um bilhão de dólares em pesquisa clínica na Índia”. “Descubra a Rússia”, diz uma manchete de uma revista de propaganda, que lembra estranhamente a exuberância de um guia turístico, “para fazer pesquisa clínica”. “Vá esquiar onde existe neve”, recomenda outro anúncio de uma companhia que vende serviços de testes clínicos em países pobres. “E vá fazer testes clínicos onde existem doentes”.
E então, qual é o problema? Os testes clínicos oferecem por toda a parte melhor tratamento do que as clínicas regulares, que fazem os pacientes esperar o dia inteiro em seus consultórios quase vazios. Os pacientes pobres poderiam considerar-se com sorte por participar de testes clínicos – e a alegria com que eles acorrem sugere que sabem disso. Ainda por cima, as clínicas e hospitais nos países pobres têm acesso a tecnologia avançada e freqüentemente capitalizam-se com o novo equipamento que os fabricantes de drogas trazem para que realizem os testes. “Recebemos alguns equipamentos”, lembra um pesquisador clínico da Índia, “e eles não os pediram de volta”.
Ser uma cobaia humana pode ser um papel que os ocidentais não querem mais fazer, mas isso não quer dizer que não é um bom negócio para os pobres. Por que não mandar os testes para lá, do mesmo jeito que mandamos as fábricas tóxicas e as sweatshops? [6] É melhor do que nada. “Disseram [que eu] estava levando vantagem!”, queixou-se um pesquisador industrial criticado por fazer testes em países pobres. “Mas sem o teste, aquelas crianças morreriam!” Na incansável análise custo-benefício tão popular nos Estados Unidos, exportar desagradáveis testes clínicos para países pobres faz sentido. “Acho que em geral é bom para as pessoas participar de testes clínicos”, diz o diretor médico da FDA, Robert Temple. “Metade das pessoas recebe medicamentos ativos e melhor tratamento”, diz ele. “A outra metade…[recebe] melhor tratamento”.
Entretanto, oferecer o corpo à ciência não é o mesmo que dar um dia de trabalho numa fábrica. Mesmo o emprego superexplorado no sweatshop, seja como for, oferece benefícios palpáveis ao indivíduo, ainda que magros: trabalho, um pequeno contracheque. O teste clínico não garante nada. Na escala da comunidade, os pesquisadores podem equilibrar os riscos e benefícios. Mas não há garantia de que um voluntário será mais beneficiado do que prejudicado num experimento (O fato de que existe uma incerteza, naturalmente, é parte da razão pela qual uma experiência é realizada).
Eles têm mais disposição para ser cobaias”
O pré-requisito absoluto à procura ética sobre os seres humanos – como está codificado em inúmeros documentos, inclusive na Declaração de Helsinki [7], da Associação Médica Mundial e no Código de Nuremberg [8] – pressupõe que os recrutados para a pesquisa sejam informados e consintam voluntariamente. A condição de voluntário significa que a pessoa pode entrar ou sair: não pode haver coerção, ainda que sutil — seja sob a forma de um pacote de compensações excessivamente generoso ou do acesso a cuidados médicos de outro modo inatingíveis, para influenciar indevidamente a decisão potencial do voluntário de expor-se a um teste experimental (Quando ativistas contra a AIDS pediram que os pesquisadores garantissem tratamento por toda a vida para os voluntários que fossem infectados durante o teste de alguma vacinas, os pesquisadores argumentaram que tal exigência violaria o princípio do consentimento voluntário. O negócio ficaria bom demais: até gente não infectada poderia inscrever-se só para conseguir remédio de graça).
E ainda assim, um crescente conjunto de evidências sugere que os voluntários em países em desenvolvimento não consentem espontaneamente em ser testados. Especialistas em bioética rastreiam o número de pessoas que se recusam a participar ou que desistem dos testes como uma espécie de indicador a posteriori. Nessas duas ocasiões, mostram que entendem que sua participação nos testes é voluntária. As taxas de recusa e desistência nos testes ocidentais podem atingir 40% ou mais. Mas, quando a Comissão Consultiva Nacional de Bioética da França realizou um estudo anônimo com os pesquisadores clínicos atuantes nos países em desenvolvimento, 45% deles disseram que os voluntários nunca se recusavam a participar dos testes.
A grande velocidade de recrutamento nestes testes – três mil voluntários para um teste de vacina, em nove dias, ou mil e trezentas crianças para um teste, em 12 dias – sugere, do mesmo modo, que não há desistências ou recusas. Eram muito poucos, se é que havia, os que diziam “não”. [9]
Num estudo sobre a qualidade do consentimento de voluntários alistados em testes de prevenção contra o HIV, na África do Sul, mais de 80% dos voluntários disseram que não sabiam que podiam desistir do teste se quisessem. Resultados similares foram obtidos num teste em Bangladesh [10]. Essa prova de coerção seria motivo para realizar poucos testes nessa população, mas está sendo usada para realizar mais testes.O fato de que os potenciais recrutados não dizem “não” é um aspecto vendável para as companhias de testes clínicos em atividade nos países em desenvolvimento. De acordo com um artigo no Applied Clinical Trials, os voluntários russos “não faltam às consultas, tomam todas as pílulas necessárias e só muito raramente voltam atrás. Os russos fazem o que os médicos mandam. Que fenômeno!”. Uma história de Centro de Vigilância sobre Testes, na China notou, do mesmo modo, que “os chineses não estão completamente emancipados como nos EUA. Eles têm mais disposição para serem cobaias”.
Agências de supervisão fecham os olhos para testes em países pobres
A supervisão européia e norte-americana destes testes é mínima. Quando um fabricante de drogas decide lançar uma experiência clínica nos Estados Unidos ou na Europa, primeiro precisa alertar as autoridades reguladoras e enviar todos os dados pré-clínicos – dados de laboratório e de testes com animais, junto com planos detalhados de como planeja usar a droga experimentalmente em seres humanos. Dados de testes no exterior são aceitos pelas autoridades reguladoras norte-americanas e européias, mas nenhuma exige que os fabricantes de drogas alerte-as antes de iniciarem os experimentos no exterior. Para esses testes, a única exigência é que a Declaração de Helsinki ou regras locais que por acaso garantam mais proteção sejam observadas. Se falharem – e 90% das drogas que entram nos testes clínicos falham em obter a aprovação regulatória – e não forem usados para apoiar o lançamento no mercado, então não há de fato controle norte-americano ou europeu sobre os experimentos. Sem descrição em parte alguma, os testes que fracassam nos países pobres simplesmente desaparecem sem deixar traços.
Nesse caso, a Declaração de Helsinki é suficiente? Poderia ser. O principal mecanismo de força da Declaração de Helsinki está nos comitês independentes – comitês de ética – que devem aprovar e supervisionar testes clínicos para assegurar que os direitos dos voluntários sejam protegidos. Seria ótimo se a infraestrutura ética e regulatória nesses países estivesse à altura da tarefa. Mas há provas indicando que em pelo menos alguns desses países, provavelmente não é assim. A Índia é um exemplo.
Funcionários do governo na Índia estão interessados na expansão dos testes clínicos, pois vêem uma possibilidade de lucro. Vários funcionários dizem que esperam expandir testes patrocinados pela indústria – de U$ 70 milhões para U$ 1 bilhão por ano. Eles instituíram várias mudanças em suas regras para facilitar os testes clínicos. As drogas experimentais não precisam demonstrar nenhum “valor especial” para a Índia, como antes. E as companhias que investem em pesquisa e desenvolvimento gozam de isenções de impostos por 10 anos [11]. A indústria dos testes clínicos é vista como um bom negócio para a Índia. De acordo com o Economic Times, o principal jornal de negócios do país, “as oportunidades são grandes, as multinacionais estáo ávidas, as companhias da Índia estão querendo. Temos as competências, as pessoas e temos uma vantagem que a China não tem e provavelmente nunca terá. O melhor é que esse é um tipo de deslocalização contra a qual os trabalhadores americanos não estão inclinados a protestar.”
O conflito de interesses dos reguladores do governo indiano não é insuperável. Uma possível abordagem seria aumentar a supervisão sobre os voluntários de testes. Mas, ao contrário, em quase todas as áreas de prática e pesquisa médica da Índia existe uma clara lacuna de regulamentos.
Índia, o laboratório ideal: não há código de ética médica
O ensino médico é pouco regulamentado. Escolas de Medicina foram flagradas contratando professores falsos para tapear inspetores, vendendo matrículas e leiloando títulos. Uma vez diplomados, os médicos, na Índia, não precisam demonstrar competência.
A prática clínica é insuficientemente normatizada. A Associação Médica Indiana não adota código de ética algum, de modo que quando três quartos dos médicos em Surat fugiram da cidade, durante um surto de peste – que poderia ser tratada por antibióticos se houvesse médicos para receitá-los –, as autoridades médicas nacionais ficaram em silêncio.
O mercado farmacêutico é notoriamente sub-regulamentado. Há cerca de 70 mil marcas de remédios disponíveis, com apenas 600 inspetores. Em um estudo, descobriram-se cerca de 70 combinações de remédios ineficazes ou perigosas no mercado (continuam a ser vendidas sob mais de mil marcas diferentes). Vendem-se remédios para indicações mal definidas como “queda intelectual”, “desajuste social” e “deterioração do comportamento”. Uma pesquisa de uma revista, em 2003, descobriu que um em cada quatro dos remédios que estavam disponíveis eram falsos ou abaixo dos padrões. Numa batida em 2003, na cidade de Patna, sete entre nove farmácias estavam operando sem licença. Pelo país afora, receitas de remédios são rotineiramente conseguidas por cima do balcão [12].
No entanto, de acordo com o conhecido perito em drogas Chandra Gulhati, editor do Monthly Index of Medical Specialties in Índia, “mesmo que uma companhia faltosa seja apanhada com a boca na botija em atividades ilegais, é liberada, por razões melhor conhecidas pelos reguladores, com uma ligeira advertência”.
De acordo com o principal bioeticista do país, Amar Jesani, “não há cultura ética na profissão” na Índia. Foram necessárias três décadas, após a primeira formulação da idéia do consentimento informado – durante o julgamento dos médicos nazistas em Nuremberg nos anos 1940 –, para que os Estados Unidos lhe dessem força de lei. Levou mais duas décadas para que a instituição da pesquisa médica dos EUA incorporasse os novos padrões em seu licenciamento, ensino e práticas clínicas. Esse processo tinha que ser iniciado em países como a Índia, onde em 2003, nenhuma escola de Medicina dava cursos de ética médica. Para supervisionar testes clínicos patrocinados pela indústria, comitês de ética são devidamente organizados, mas de acordo com o ativista da saúde Sandhya Srinivasan, eles não funcionam para proteger voluntários e sim para “possibilitar a divulgação”.
Esterilizações involuntárias, doentes de lepra sem tratamento
Não é surpreendente que tenha havido uma série de escândalos na pesquisa e prática médica por todo o país. Nos anos 1970, a quinacrina, remédio contra a malária, foi distribuído para milhares de mulheres sem instrução, provocando-lhes a esterilização permanente. A droga tinha sido desaprovada para esse uso e muitas das mulheres disseram, posteriormente, que tinham sido enganadas para tomá-la. Nos anos 1980, um anticoncepcional injetável — já retirado do mercado — foi testado em aldeãs que declararam que “não faziam idéia de que estavam participando de um teste”. Num experimento com a lepra, patrocinado pelo governo em 1991-1999, voluntários disseram que não sabiam que o teste era com placebo.
No fim dos anos 1990, pesquisadores do governo realizaram tratamento de 1100 mulheres analfabetas com lesões pré-cancerosas nas vértebras cervicais para estudar a progressão da doença. Mais tarde, descobriu-se que as pessoas não tinham sido informadas e não tinham dado consentimento. Em 2001, um pesquisador da Johns Hopkins foi apanhado testando uma droga anti-câncer experimental em pacientes com câncer no estado indiano do Kerala, antes da droga ter sido experimentada em animais. Em 2003, um remédio experimental contra câncer foi administrado em mais de 400 mulheres que procuravam aumentar sua fertilidade. A droga era tóxica para os embriões [13].
Países ocidentais também tiveram suas próprias histórias de transgressões, e entre as mais infames delas está o estudo sobre a sífilis do Serviço de Saúde Pública norte-americano de Tuskegee. O tratamento para a sífilis foi negado a dezenas de negros pobres do Alabama rural. O estudo sobre sífilis, quando exposto, levou às primeiras proteções legais a pessoas estudadas em pesquisas nos Estados Unidos, em 1974. Nenhum dos escândalos de pesquisas na Índia, por mais que tenham sido publicizados na imprensa, levou a qualquer proteção legal para os voluntários. Esses fatos não são novidade para os reguladores do FDA, que demonstram uma grande confiança na habilidade dos voluntários em se auto-proteger, oferecendo ou retirando seu próprio consentimento informado voluntário.
Uma prática que solapa a legitimidade da medicina ocidental
Contudo, testes clínicos realizados de forma não-ética fazem mais do que minar os direitos humanos: solapam a legitimidade da medicina ocidental, de modo mais geral. A crise de confiança entre muitas pessoas no mundo em desenvolvimento e a medicina estilo ocidental aprofunda-se diariamente. O espectro de uma explosão de testes clínicos secretos pouco controlados inflama tais reações. Muitos fabricantes de drogas e pesquisadores clínicos concordam que a coerção e a falta de informação são problemas óbvios, mas alegam que as grandes esperanças com a pesquisa biomédica compensam os riscos e sustentam que, se a regulamentação for exagerada, os testes clínicos e o ritmo da inovação médica vão se reduzir e mais pessoas vão morrer.
Esse argumento é fraco, mas comum e poderoso. Pode ser verdade que a qualidade do atendimento nos testes clínicos seja freqüentemente superior ao tratamento normal e que os médicos encarregados dos ensaios tenham acesso à mais recente tecnologia, instrumentos e recursos que eles podem destinar ao cuidado dos pacientes. Esses são benefícios concretos dos testes clínicos. Mas os dados em si não podem significam automaticamente progresso da medicina (qualquer um que tenha visto as mais modernas vacinas apodrecendo em almoxarifados tropicais pode confirmar). O progresso da medicina requer a implementação da pesquisa, não apenas testes, e isso exige que governos, programas de saúde, pacientes e muitos outros atores tenham de fato algo a ver com os dados.
Devíamos exigir que os voluntários pelo menos tivessem acesso aos métodos comprovados nos seus testes, não apenas num futuro hipotético, mas aqui e agora. Com excessiva freqüência, novas drogas desenvolvidas com experimentos em habitantes dos países pobres não são licenciadas para uso nesses países, têm preços proibitivos, ou não são utilizáveis porque a droga não é importante de um ponto de vista clínico. Precisaríamos exigir, também, alguma forma de confirmação ou validação para que o consentimento informado fosse de fato informado e voluntário.Tais medidas poderiam acabar com alguns testes. Mas como disse o bioético Jonathan Moreno, seria parte do preço que pagamos para reconhecer que há uma diferença entre um rato de laboratório – que não precisa ser consultado se quer participar de um experimento [14] – e um ser humano.
Tradução: Betty Almeida
Notas:[1] Sonia perfect predator,” Orion magazine, November/December 2006[2] Ler Jean-Philippe Chippaux, “As vítimas da Big Pharma”, Le Monde Diplomatique-Brasil, junho de 2005.[3] A OMS foi criada em sete de abril de 1948, com o objetivo de que todos os povos atinjam o mais alto grau de saúde, definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença (N.T.).[4] A chamada “transição nutricional” que originou novos padrões de doenças foi detalhada por completo em: Benjamin Caballero e Barry M. Popkin eds., The Nutrition Transition: Diet and Disease in the Developing World (Londres: Academic Press, 2002)[5] A rapidez com que as listas são completadas e o grande número de inscritos são informados em sitesî das Organizações de Contratos de Pesquisa (CRO). Ver, por exemplo
www.quintiles.com e, também, “Lifting India’s Barriers to Clinical Trials,” CenterWatch, agosto de 2003.[6] Sweatshops, no original. Em 1850, os suadouros eram fábricas de roupas populares com péssimas condições e salários para os trabalhadores. Hoje, são estabelecimentos que não respeitam direitos dos trabalhadores, empregam trabalho infantil ou escravo e cometem violações graves de leis trabalhistas (N.T.).[7] A primeira Declaração de Helsinki, que regula a pesquisa médica com seres humanos, data de 1964 e já foi atualizada em 1975, 1983, 1989 e 1996. A Associação Médica Mundial estabelece o compromisso do médico com as seguintes palavras: “A Saúde do meu paciente será minha primeira consideração”. Na versão de 1996, a declaração recomenda o respeito ao bem-estar dos animais utilizados e à integridade do meio ambiente (N.T.).[8] O Código de Nuremberg, criado em 1947, durante os julgamentos de médicos nazistas que faziam experimentos com seres humanos em campos de concentração, impõe o consentimento dos seres humanos para participar de testes e pesquisas médicas (N.T.)[9] Ver National Bioethics Advisory Commission, Ethical and Policy Issues in International Research: Clinical Trials in Developing Countries, abril de 2001.[10] Quarraisha Abdul Karim et al, “Informed consent for HIV testing in a South African hospital: is it truly informed and truly voluntary?” American Journal of Public Health, 1º de abril de 1998, 637-40; e Niels Lynoe et al, “Obtaining informed consent in Bangladesh,” New England Journal of Medicine, 8 de fevereiro de 2001, 460-61[11] Ken Getz, da consultoria de testes clínicos Center Watch, disse que foi recebido na Índia, como se fosse um chefe de estado. Ver também Narayan Kulkarni, “The trials leader,” Biospectrum, 10 de junho de 2003.[12] Chandra Gulhati, editor da Monthly Index of Medical Specialties in India, descreve em detalhe as transgressões da indústria farmacêutica indiana. Ver, por exemplo, Chandra Gulhati, “Irrational fixed-dose combinations: a sordid story of profits before patients,” Indian Journal of Medical Ethics, janeiro/março de 2003. Ver também Arindam Mukherjee, “Pills that kill,” Outlook, 22 de setembro de 2003, 52; e Daniel Pearl e Steve Stecklow, “Drug firms’ incentives fuel abuse by pharmacists,” Indian Express, 17 de agosto de 2001.[13] Ver Alix M. Freedman, “Population bomb: two Americans export chemical sterilizations to the Third World,” Wall Street Journal, 8 de junho de 1998, A1; Sanjay Kumar, “Sterilization by quinacrine comes under fire in India,” The Lancet, 17 de maio de 1997; Laxmi Murthy, “Contraceptive research: need for a paradigm shift,” One India, One People, julho de 2001; M.D. Gupte e D.K. Sampath, “Ethical issues considered in Tamil Nadu leprosy vaccine trial,” Indian Journal of Medical Ethics, janeiro/março de 2000; Amit Sen Gulpta, “Research on hire,” Indian Journal of Medical Ethics, outubro/dezembro de 2001; e Ganapati Mudur, “Johns Hopkins admits scientist used Indian patients as guinea pigs,” BMJ, 24 de novembro de 2001, 1204.[14] Ver Libertar os animais, reumanizar a vida, Le Monde Diplomatique-Brasil. E, também, o Manifesto pela Libertação dos Animais, na edição de setembro do LMD, síntese das teorias do professor americano Garry Francione sobre a abolição da exploração animal (N.T.).
Sonia Shah é Jornalista canadense, autora de The Body Hunters: Testing New Drugs on the World’s Poorest Patients, traduzido para o francês por Pierre Saint-Jean, a ser publicado em outubro pela editora Demopolis, de Paris; e de Crude: The Story of Oil (Seven Stories, 2004). Sonia Shah está escrevendo um livro sobre a história e a política da malária.